quarta-feira, 16 de maio de 2012

São Vicente Pallotti – Precursor do Apostolado dos leigos




(Reflexão referente a Homilia de Paulo VI em sua visita a Frascati para venerar o corpo de São Vicente Pallotti, exposto na Catedral)

Neste ano, em preparação ao grande jubileu de São Vicente Pallotti, somos convidados a aprofundar nossos conhecimentos a respeito desse grande Santo e a realizarmos obras concretas que manifestem ao mundo nossa espiritualidade palotina.

“Em cada época, Deus suscita homens e mulheres com carismas do Espírito Santo, para a continuação da missão salvífica de Cristo, para o bem dos seres humanos e edificação da Igreja”.

Catedral de Frascati
Quando pensamos em São Vicente Pallotti, pensamos em um homem que soube conciliar o apostolado (apóstolo) e a contemplação (místico), sendo capaz manter um “justo equilíbrio” entre oração e ação apostólica em favor da realidade concreta de sua época. Todas as bibliografias a respeito de nosso santo fundador enfatizam esses dois aspectos: vida ativa e vida contemplativa, ambas em constante harmonia.


Observamos, na atualidade, diversos termos que fazem referência direta à São Vicente Pallotti, tais como: Apóstolo de Roma, Precursor da Ação Católica, Profeta da Esperança, Apóstolo dos leigos, Místico... Expressões que reconhecem a grandiosidade de nosso fundador na vida eclesial e na sua profunda experiência de pertença à Santa Igreja.

A mente de São Vicente Pallotti encontra-se voltada à necessidade de despertar a consciência apostólica de todos os fieis, para que cada um faça pelo Evangelho tudo aquilo do qual é capaz.  E isto é evidente porque todos os inumeráveis apelos escritos por ele estejam relacionados aos leigos.“O Apostolado Católico, além da finalidade de concorrer com a contribuição a propagação da fé entre os infiéis, se propõe a despertar e mantê-la nos cristãos e, bem oferta, faz servir a sua finalidade o exercício de cada profissão, trabalho, arte, oração, todas as obras de caridade e do ministério apostólico”.

Sabemos da admiração e do respeito que Gregório XVI e Pio IX mantinham para com o nosso santo. Tantos outros Papas fizeram referência direta ao nosso fundador durante pregações, sermões e homilias. Sua canonização realizada no decorrer do grande Concílio Vaticano II, pelo Papa João XXIII, revela a sua importância na transformação do pensamento eclesial no que diz respeito, especialmente, à vocação e o apostolado laical.

No dia 1º de setembro de 1963, durante as férias de verão, o Papa Paulo VI encontrava-se em Castel Gandolfo e dirigiu-se à vizinha cidade de Frascati, para venerar o corpo de São Vicente Pallotti, exposto na Catedral para veneração dos fieis. Durante a
Papa Paulo VI
celebração eucarística, por ele presidida, pronunciou uma importante homilia na qual destacou o profetismo e o pioneirismo de nosso santo fundador. Sua homilia reveste-se de particular importância, pronunciada entre a primeira e a segunda sessão do Concílio Vaticano II, abordando diversos aspectos do apostolado leigo, inseridos posteriormente nos documentos conciliares que referem diretamente ao laicato.


Paulo VI tinha a firme convicção e certeza de que São Vicente Pallotti foi um precursor que antecipou de quase um século o apostolado leigo na Igreja, a descoberta que, também os leigos são chamados a assumirem a missão de apóstolos. Paulo VI afirma que São Vicente Pallotti “fez brotar energias novas e deu ao laicato consciência de suas possibilidades na prática do bem. Não só aceitação passiva e tranquila da fé, mas a profissão ativa e militante desta mesma fé.”

O termo Precursor nos recorda São João Batista, o precursor do Messias, aquele que preparou os caminhos do Senhor, o grande Profeta que indicava a quem, realmente, era preciso seguir. Na espiritualidade Palotina, este termo encontra-se inserido em um contesto de grande transformação que envolveria toda a vida eclesial, não somente em um determinado período histórico, mas que a partir do Concílio Vaticano II, estará sempre presente nas reflexões da Igreja, por se tratar de uma realidade que envolve todos os cristãos.

Percebemos, na atualidade, que esta grande novidade proposta por São Vicente Pallotti e assumida pela Igreja, encontra-se ainda para muitos leigos obscura e tantas vezes não compreendida, necessitando ser, ainda hoje, encorajadas, desenvolvidas e atualizadas.

São Vicente Pallotti percebeu o vazio, o vácuo moral e espiritual do seu tempo, marcado por revoluções sociais e pela falta de respeito a dignidade do ser humano. Segundo Pallotti é preciso recompor uma sociedade cristã no qual todos se sintam convidados e responsáveis pela construção de um mundo mais digno e solidário. Somos responsáveis, responsáveis pelo nosso tempo, responsáveis pela vida dos nossos irmãos e irmãs; somos responsáveis da nossa consciência cristã, somos responsáveis diante de Cristo, diante da Igreja, diante da história, diante de Deus. Para São Vicente Pallotti, todo cristão deve “procurar não somente a própria salvação, mas a salvação eterna do outro”. Sendo ser humano, imagem e semelhança de Deus, que é caridade por essência, encontra-se obrigado a isso por razão da própria criação.

Nosso Santo viu que o leigo pode tornar-se elemento ativo na vida da Igreja e dizer conscientemente: “também eu devo fazer alguma coisa. Não posso ser somente um instrumento passivo e insensível”.

Memorial da Visita de Paulo VI
A homilia proferida pelo Papa Paulo VI provoca em todos os que a lêem com atenção, certa comoção, pois se trata da autoridade máxima da Igreja que, ao referir-se ao nosso Santo Fundador, o faz com grande amor, veneração e entusiasmo. Suas palavras demonstram conhecimento profundo da espiritualidade de São Vicente Pallotti e apresenta um aspecto antropológico presente nos escritos de nosso fundador.


Afirma Paulo VI: Pallotti vê – e eis a descoberta – vê que é possível, vê que há alguma coisa escondida que pode emergir desta psicologia do homem caído, do homem fraco, do homem habituado à própria fraqueza. Vê que o homem é redimível, vê que o homem pode ser recomposto em estatura e em forma nova. Vê que, educado, pode fazer surgir o santo, o herói, o grande, o homem verdadeiro, o homem culto, o homem bom, o homem da sociedade, como estamos idealizados, da sociedade nova, da sociedade moderna”.

Somos encorajados a não desanimarmos em nossa caminhada de fé e a assumirmos nossa missão com responsabilidade e amor.  Hoje, mais do que nunca, somos convocados pelo próprio Deus a manifestar ao mundo nosso compromisso cristão, não somente com belas palavras, mas, sobretudo e especialmente, com ações concretas, recordando constantemente a eficácia dos gestos em um mundo conturbado, que não tem tanto tempo para escutar. Todos os que se empenham na ação apostólica são convocados a transmitir o amor de Deus e realizar obras concretas para demonstrar a Sua presença neste mundo, e ainda trabalhar com incansável zelo pela realização do Seu Reino, com constante entusiasmo e prontidão.

Oração: São Vicente Pallotti, vós buscastes, em tudo e sempre, a glória de Deus, ensinai-nos a seguir vosso exemplo luminoso, para que glorifiquemos a Deus pela santidade de nossa vida e de nossas obras. Acendei em nós o desejo de colaborar ativamente na difusão da fé e da caridade, para que o Reino de Cristo se estenda por toda a terra. Amém.
De Roma, Pe. Elmar Neri Rubira, SAC.

domingo, 13 de maio de 2012

Oração do ano JUBILAR de São Vicente Pallotti


Deus, Pai de misericórdia,
sempre atento às necessidades dos teus filhos e filhas, Te agradecemos pelo dom deste Ano jubilar que quiseste conceder a todos nós, membros e colaboradores da União do Apostolado Católico,

como sinal do Teu infinito amor. 

Dá que possamos viver este tempo de júbilo, com espírito de gratidão, humildade e oração, a fim de que o nosso coração seja plenificado pela tua graça, rica de misericórdia e de bênção.

Concede‐nos imitar Jesus Apóstolo a exemplo de São Vicente Pallotti: reavivando em nós a Fé, fortalecendo em nós a Esperança, reacendendo em nós a Caridade, para propagá‐las em todo o mundo. 

Neste tempo de renovação espiritual e apostólica, desejamos viver uma profunda experiência de Deus, na qual a tua Palavra seja luz e guia aos nossos passos, e a Eucaristia, o alimento de nosso espírito,
para sermos autênticos discípulos missionários de Cristo. Faze que nossas comunidades e famílias

se transformem em cenáculos prontos a acolher os dons do Espírito Santo, junto com Maria SS. Rainha dos Apóstolos, e com toda a Igreja peregrina, para o crescimento do Reino.

São Vicente Pallotti, te pedimos, ajuda‐nos a viver a fidelidade ao carisma e à missão a nós confiada; torna‐nos perseverantes no caminho rumo à santidade, sustenta‐nos na vivência da misericórdia, da caridade fraterna e do espírito de comunhão neste nosso tempo, a serviço da Igreja no mundo.

Amém!

domingo, 29 de abril de 2012

Lançamento de livro


A Calibragem da energia psicossomática é um conjunto de técnicas que ajudam a pessoa a encontrar o seu verdadeiro equilíbrio emocional e consequentemente físico. Já dizia o antigo adágio: "Mens sana, corporis sano" (Mente sadia, corpo sadio). Segundo as recentes descobertas, tudo aquilo que acontece em nossa vida, desde a nossa gestação, está registrado não somente na nossa mente, mas também em nossos músculos e órgãos. Por isso, essas novas técnicas proporcionam não somente alívio emocional para traumas, depressões, pensamentos compulsivos, TOC, baixa autoestima, tristeza, aflição, raiva, mágoa e problemas psicossomáticos, medos e fobias ou seja, doenças que na verdade não existem, mas que se somatizam (provocam desconfortos no corpo e na mente), mas pode ajudar também nos desconfortos físicos.

O autor deu o nome de Calibragem, porque a inteção da técnica é de apenas ajustar aquilo que está em desarmonia entre o corpo e a mente. Essas técnicas utilizam os pontos da acupuntura, porém, sem usar agulhas. Usa também elementos da neurolinguística e cinesiologia aplicada. A dissolução dos sintomas psicossomáticos acontecem quando se aplica pequenos toques nos pontos energéticos do corpo, relacionados com o sintoma apresentado pelo paciente e em pouco tempo aquela energia negativa geradora de desconforto desaparecerá, devolvendo, novamente, mais alegria e liberdade à pessoa. Essa técnica não serve para doenças psiquiátricas graves. Ela ajuda no tratamento de problemas emocionais. A pessoa que recorre a esse tipo de terapia deve também ter acompanhamento com psicólogos e se necessário psiquiátrico.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Espiritualidade em FOCO


Todos os meses, a Revista Rainha dos Apóstolos publicará um tema espiritual, elaborado pelo Pe. Valdeci. Você poderá acompanhar por este blog a sua reflexão, mas também se quiser adquirir a Revista, você encontrará muitos temas que poderão ajudá-lo no seu crescimento integral como pessoa humana, imagem de Deus. Conheça a revista acessando o site:
www.pallotti.com.br/rainha/

 
 
O Senhor visitou nossa terra
Quando se fala em espiritualidade ou de vida espiritual, às vezes, as pessoas não conseguem ter clareza do que isso significa.
Segundo São Basílio Magno: “Dá-se o nome de espiritual a quem vive não segundo a carne, mas sob a moção do Espírito de Deus”, pois foi vontade divina que, desde o princípio, o ser humano fosse adotado como filho, imagem e semelhança Deus, participante da Sua vida divina, não apenas com seu corpo mortal, mas tendo também uma alma incorruptível para poder viver eternamente ao Seu lado.

O ser humano, por também possuir uma vida espiritual, é capaz de relacionar-se com Deus em “espírito e verdade”, porque está em contínua sintonia com a Verdade Suprema, Jesus Cristo.
Foi graças à encarnação do Verbo Eterno que a humanidade inteira, imersa no pecado e sentindo na própria pele a precariedade do seu corpo, que nem sempre consegue abrir-se às verdades eternas, pôde sentir-se cheia de esperança em uma vida futura, porque Deus visitou a nossa terra e trouxe uma mensagem que nenhum profeta pode contestar ou apresentar algo melhor.
Os nossos ancestrais não imaginavam como Deus poderia intervir na Terra para devolver a todos a liberdade de filhos. Tal informação só lhes era concedida por meio de sonhos e inspirações, mas, somente nos últimos tempos, como relata Hebreus, Deus se revelou por meio de seu Único Filho, que ao assumir nossa humanidade, encurtou as distâncias entre o céu e a Terra. E o Evangelho afirma: “Céus e terra passarão, mas minhas palavras não passarão” (Mt 24,35). Quais são estas palavras das quais fala o texto sagrado? Certamente uma das certezas deixadas por Cristo é de que está sempre conosco, até o fim dos tempos (Mt 28,20). S. João escreve: “Não existe maior prova de amor do que aquele que dá sua vida” (Jo 15,13).
Deus não fala apenas pela boca de seu Filho, mas prova o seu amor, por meio de suas obras, de forma incomparável. Quem poderia entregar sua vida, até as últimas consequências, a alguém que não fosse merecedor do seu amor? A morte de Cristo é a prova inconteste de que somos, realmente, amados por Deus, que é capaz de fazer de tudo para nos atrair a Ele. São Vicente Pallotti chamava esse amor de: “Amor enlouquecido de Deus”.
Viver uma espiritualidade é assimilar os valores do céu já aqui na Terra. Deus provou por meio de Jesus Cristo que após a dor e o sofrimento, algo novo nos espera. Multidões introjetaram isso em suas vidas como norma de fé. E somente quem tem fé conseguirá ultrapassar todo e qualquer “vale de lágrimas”, porque sabe que o Senhor caminha à sua frente. Com a certeza disso, você terá prazer em cada conquista diária, pois tudo deverá ser convergido para Deus e seu reino.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Visita de Pe. Valdeci em Kigali - Ruanda - África

Pe. Valdeci participou do encontro dos formadores e formadoras palotinos em Kibeho, Ruanda. Neste mesmo local aconteceu o encontro o Secretariado Geral para a Formação. Este vídeo é da celebração da missa, no dia 19 de fevereiro de 2012, em Kigali.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

6. As propostas de Pallotti em prol da formação sacerdotal

Este texto é a continuação das reflexões sobre a formação sacerdotal de Pallotti, em seu tempo. Conheça melhor o carisma de S. Vicente Pallotti e peça a Deus a graça de viver o seu batismo, envolvido pelo seu amor misericordioso.


a)      Mês de maio para os eclesiásticos
No início de 1939, São Vicente Pallotti começou a celebrar na Igreja do Espírito Santo dos napolitanos o Mês de maio com os sacerdotes romanos, diocesanos e religiosos. Francesco Moccia SAC afirma que os três “Mês de maio”, compostos por Pallotti, em 1833, tinha a intenção de divulgar a devoção mariana e de atingir mais profundamente o coração dos leitores. O Mês de maio para os eclesiásticos, impresso no curso dos anos, em cinco edições, atribui o título à Maria Imaculada Mãe de Deus, Rainha dos Apóstolos, no mês de maio, em honra aos seus consagrados; recorda aos eclesiásticos instituídos, em qualquer ordem, os avisos que lhes dá a Igreja, após sua ordenação, segundo o Pontifical Romano e seu angélico ministério, segundo os apelos das Sagradas Escrituras.
A fonte para as meditações é o Pontifical Romano com os trechos dos escritos dos Santos Padres para se ter presente nos diversos dias. O Mês de maio para os eclesiásticos se distingue pela densidade da doutrina. Os temas são tomados das advertências do Pontifical romano aos vários graus dos ordenados e dos ofícios dos coros angélicos. Maria Imaculada, Rainha dos Apóstolos, recorda aos eclesiásticos os avisos que a Igreja lhes dá, durante a cerimônia da ordenação e às funções do seu ministério. A Mãe de Deus instrui, guia, encoraja os mestres da Igreja de seu Filho. A parte mais ampla da meditação é a respeito do exame de consciência e a renovação da própria vida, não se trata tanto de ampliar os conhecimentos, mas de buscar maior transformação pessoal.
A finalidade do mês mariano para os sacerdotes era de aprofundar na doutrina eclesial e a renovação espiritual. Neste escrito, Maria, Rainha dos Apóstolos, dizia aos sacerdotes: “Quero deixar bem claro que, para converter os pecadores e iluminar os incrédulos, é mais eficaz a santidade da vida do clero do que todas as apologias escritas nos livros”. No último dia do mês se encontram as palavras de profundo significado espiritual para a vida do sacerdote. Maria, Rainha dos Apóstolos, lhes diz: “Abrasado de amor no amor infinito, vai acompanhado das bênçãos do Amor Infinito para exercitar o seu ministério e será um Serafim e espalhará por todos os lados dardos de amor nos corações, para levar-lhes o Amor Infinito: dardos de amor será o seu salmodiar, dardos de amor serão a sua celebração dos mistérios, a sua pregação e a sua administração dos sacramentos; instruído em Deus, aceso de amor em Deus, animado pelo espírito de Jesus Cristo, em plena desconfiança de si; vá corajosamente (...) quero que o seu zelo pelo crescimento do Rebanho de Jesus Cristo seja, sem medida, aceso pela divina caridade e dirigido pelo Amor Infinito”.
A adesão dos sacerdotes às celebrações do mês mariano, na Igreja do Espírito Santo dos Napolitanos, foi muito boa. A cada dia do mês se faziam meditações sob as pegadas de o “Mês de maio para os eclesiásticos”, de Pallotti, e terminava com um cântico atribuído a São Boaventura: “Louvamos a Ti, ó Mãe de Deus”. Segundo as informações históricas, o Mês de maio para os eclesiásticos foi celebrado na Igreja do Espírito Santo, de 1839 até 1845. Isto se confirma com a carta de Pallotti que, em 18 de maio de 1844, escrevia a Domenico Santucci: “Lembre-se de que temos o mês de maio para os eclesiásticos”. Pallotti se transferiu para a casa, junto a São Salvador em Onda, no início da quaresma de 1846.
b)      As conferências semanais para os sacerdotes
Os sacerdotes que participavam das celebrações do Mês de maio expressaram o desejo de reunirem-se no mesmo local, periodicamente, ao longo do ano. Assim nasceu a ideia das conferências semanais para os sacerdotes que participaram na Igreja do Espírito Santo dos Napolitanos, começando em 1839. A alma e promotor principal destas conferências era o sacerdote Vicente Pallotti.
O primeiro encontro aconteceu no dia 6 de junho de 1839, primeira quinta-feira do mês. A partir de então, o clero romano começou a se reunir toda quinta-feira à tarde, na Igreja do Espírito Santo, na Via Giulia. Participaram sacerdotes diocesanos e regulares, monsenhores, teólogos, consultores dos dicastérios pontifícios e também alguns bispos. As conferências, graças a Vivente Pallotti, eram endereçadas à renovação da vida espiritual e a atualização pastoral dos sacerdotes. Ao empreender esta iniciativa, Pallotti se inspirou na ideia de São Vicente de Paulo que promovia reuniões periódicas de eclesiásticos destinados a renovar a vida espiritual e a preparação pastoral dos sacerdotes. Nestes encontros se abordava um caso de moral ou de liturgia. Analisava-se e apresentava soluções. Neste período, em toda a Europa, começaram surgir estas iniciativas. Pallotti, porém, enriqueceu o programa e focalizou sobre a renovação espiritual, como se pode ver pelo título do texto: “Conferências semanais do espírito, do estudo sacro, e do ministério evangélico para os eclesiásticos, instituídos sob a especial proteção da Imaculada Mãe de Deus, Rainha dos Apóstolos”.

Segundo Pallotti, as conferências de quinta-feira deveriam ser uma palestra de alento espiritual. Aos participantes, Pallotti sugeria boa disposição: “Frequentá-la com espírito da mais profunda humildade e firme persuasão da necessidade de escutar as reflexões dos outros com a consciência da própria indignidade em receber a graça de aprofundar em tais reflexões: e aqui, cada um pode considerar o quanto esteja longe de tirar proveito das conferências, uma vez que a frequentasse somente para mostrar os seus próprios conhecimentos, pensamentos, argumentações e saber”. Por isso, dos encontros “se excluem as reflexões críticas ou de simples erudição; todas as reflexões devem tender a promoção da vida devota e santa (...). São proibidas as perguntas muito longas, porque elas não favorecem o crescimento das ciências sagradas” (OOCC V, p. 582). De acordo com os escritos de Pallotti, as conferências deveriam ter a finalidade de conduzir as pessoas à maior imitação de Jesus Cristo e de promover o quanto possível, a maior glória de Deus e a perfeição evangélica de si mesmo e dos outros e de dispor-se assim à observância do ministério apostólico.
Pallotti explicava que o método desta conferência, para ser frutuoso, devia ser simples e que tocasse no coração e na mente. Eis os componentes do encontro: lições de canto gregoriano, leitura e partilha de um texto do Evangelho do domingo seguinte, leitura do Catecismo Tridentino ou Romano, com o comentário de um ou mais padres escolhidos, debate desenvolvido “na paz e na caridade” em torno de um caso referente à moral, escolhido na conferência anterior, e a oração final para pedir a Deus operários para sua messe. Quanto à partilha do Evangelho, Pallotti insistia que, após a leitura do texto, em Latim, se lesse também, para uma maior compreensão, “a tradução vulgar com as notas”. Cada participante era convidado a dizer não somente o que o havia tocado, mas também o que gostaria de fazer para seguir Jesus Cristo, de acordo com o que foi lido. Esta partilha tinha também a finalidade de enriquecer a pregação dominical. No final da partilha, se distribuía um pequeno bilhete no qual estava escrito um versículo da Sagrada Escritura. Cada um lia em voz alta e fazia um pequeno comentário.
Do epistolário de Pallotti, descobrimos que as conferências semanais lhe eram muito cara. Ele, pessoalmente, se encarregava de recordar os sacerdotes e também de convidá-los para fazer parte. Esta confirmação aparece em duas cartas, dia 27 de abril de 1841, Pallotti escreve para monsenhor Pietro Minetti: “ela se tornou avarenta, é preciso fazer algum presente na conferência semanal! Fará o mesmo no mês mariano dos eclesiásticos, a qual iniciará na próxima sexta-feira. Espero que venha quinta-feira à conferência e depois a indicada prática do mês de Nossa Senhora Imaculada” (OCL III, 1. n. 751). No dia 13 de março de 1845, Pallotti escreve para Andrea Mogliazzi: “Hoje, às 21h 30min, nos encontramos para a conferência no Santo Espírito; e para cumprir esse dever e regular as forças, você poderia confessar alguém no Hospital Militar” (OCL V, 1. n. 1103)?
Nota-se, também, que para levar adiante este projeto de organizar e assistir todas as quintas-feiras tais conferências, necessitava de muito esforço e exigia empenho e colaboração de muitas pessoas. Talvez, depois do primeiro impulso, diminuiu o zelo dos colaboradores. Isto pode ser observado pela carta escrito por Pallotti, no dia 6 de agosto de 1840, em Cingoli, onde se encontrava para realizar as missões. Ele escreveu aos zelosos colaboradores das conferências espirituais, do estudo sacro, e do ministério evangélico, sob a proteção especial da Imaculada Mãe de Deus Maria Santíssima, Rainha dos Apóstolos: “chegou o momento oportuno de falar do mês mariano para os eclesiásticos e das conferências; gostaria de contar com a presença de todos vocês, e tenho certeza o quanto isso os fará bem. Senhores missionários, gostaria de confirmar vocês no progresso da unidade, mesmo que algum tenha sofrido a tentação do resfriamento ou então da desistência...” (OCL III, 1. N. 695).

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Sem o espírito de Pallotti a União não sobreviverá

(Trecho da homilia que o Padre Geral proferiu aos membros da Família Palotina durante a Santa Missa de abertura da 3ª Assembléia Geral Ordinária da União do Apostolado Católico, realizada no dia 14 de janeiro de 2012, em Grottaferrata – Roma. O Padre Geral iniciou sua homilia falando da vocação de Levi, o publicano, seguindo a liturgia do dia. O Texto foi extraído do Periódico bimestral da Província Italiana da Sociedade do Apostolado Católico, Anno XC – n. 2 Marzo/aprile 2012, pp. 14-15 – tradução: Pe. Elmar Neri Rubira, SAC – Casa Geral – Roma).


[...] O ponto de partida de nossa nova viagem deve ser a gratidão a Deus por aquilo que conseguimos realizar no que diz respeito à União [...], todavia, o trabalho não está ainda concluído. Andando pelo mundo, tenho a impressão que Pallotti, apesar de sua grandeza, permanece ainda “um tesouro a ser descoberto” na Igreja e também em nosso mundo Palotino.  Às vezes tenho a impressão que somos demasiadamente centrados em “Roma ou na Itália e fazemos os nossos juízos sobre outras partes do mundo partindo daquilo que sentimos e vemos neste país. É verdade que a Itália, e Roma em particular, desenvolvem um papel especial, porque não se pode entender o espírito de Pallotti sem compreender a cultura italiana, porém o carisma palotino é suficientemente universal em sua essência e deveria integrar-se nas diversas culturas através de uma realização eficaz.

As experiências mostram também que não é possível entender a União sem conhecer e experimentar a espiritualidade de São Vicente Pallotti. Colocando a União ou mais especificamente o Estatuto Geral na União antes da pessoa e do espírito de São Vicente Pallotti, seria como colocar o carro diante dos bois. Em todos os nossos cursos de formação aqui em Roma, cada vez que foi explicada a espiritualidade de São Vicente Pallotti, todos ficaram entusiasmados e atraídos por ela. Mas as discussões sobre a UAC sem a conexão com São Vicente Pallotti e a sua espiritualidade conduziram freqüentemente a bloqueios mentais e a resistências. Talvez seja o momento de apresentar a União de uma maneira nova.

Em repropor a UAC, quero levar em consideração três pontos que acredito serem muito significativos.

O primeiro ponto é que devemos concentrar-nos na espiritualidade de São Vicente Pallotti. É necessário estar mais atentos à dimensão mística e contemplativa da espiritualidade de Pallotti. Aquilo que o mundo tem maior necessidade hoje é de uma genuína experiência de Deus e o elemento principal e mais importante na espiritualidade palotina é a experiência do amor e da misericórdia infinita de Deus. No coração do homem de hoje existe uma espécie de sede mística. Podemos nos perguntar: “Nós procuramos Deus em tudo e sempre” como fazia São Vicente Pallotti? Deus é verdadeiramente o centro da nossa vida e de nossas atividades? Até que ponto destacamos a procura do divino em nossos grupos da União? Na realidade, temos necessidade dos “Santos Retiros” o dos “Cenáculos”, como insistia São Vicente. Como palotinos, temos necessidade de nos tornar sempre mais contemplativos e místicos em nossa procura de Deus.

O segundo ponto é que temos necessidade de modelos de formação mais interessantes e eficazes para a União. De fato, o Cenáculo fornece o melhor modelo para a formação na União. A presença do Espírito Santo como principal agente de transformação, a presença constante de Maria, Rainha dos Apóstolos, a partilha da Palavra e do pão no contexto de uma comunidade de fé, a transformação interna de simples pessoas em discípulos de Jesus, a pregação em todo o mundo da Boa Nova etc..., são elementos de formação eficazes para a União. É necessário recordar que as pessoas que fazem o empenho apostólico na União, não tem necessidade apenas de dois ou três anos de formação inicial, mas também de formação permanente com a finalidade de garantir que o zelo apostólico se renove constantemente [...].

Um terceiro ponto a ser considerado é a nossa vocação missionária e o empenho dos membros da União. Os apóstolos não permaneceram fechados no Cenáculo, mas saíram para partilhar a experiência de Deus com os demais. Ao mesmo tempo, os membros da União devem empenhar-se em atividades missionárias para fazer da União um instrumento eficaz ao serviço da Igreja. A União não deve ser apenas um grupo de auto-ajuda e auto-suficiência sem os esforços missionários. Se isso acontece, certamente a União morrerá [...] É o espírito missionário que mantém a Igreja dinâmica. A UAC é uma força apostólica na Igreja e no mundo e, então, deverá empenhar-se em obras espirituais e em ações caritativas de amor e de misericórdia. Cada grupo da União tem necessidade de ver o que poderá ser feito no próprio contexto, sempre no espírito do Apostolado Católico. Se a caridade não se traduz em ações concretas a serviço de Deus e dos seres humanos, não é verdadeira caridade, porque a caridade em sua essência significa “doar-se”.

Em resumo, são pelo menos três os desafios diante de nós hoje: fazer com que a União seja realmente fundada na verdadeira experiência de Deus através da contemplação e da vida mística; desenvolver modelos eficazes de formação apostólica dos membros da União, sempre no espírito do Cenáculo e envolver-se concretamente em atividades apostólicas como caminho para experimentar e exprimir o amor de Deus e a sua misericórdia para partilhar a mensagem de salvação com os outros seres humanos [...].

Na realidade, este é um momento oportuno para os Palotinos de oferecer o próprio carisma à Igreja Universal como uma resposta adequada as exigências dos tempos atuais. Por “Nova Evangelização” se entendem renovados esforços da Igreja para enfrentar os desafios que a sociedade e as culturas de hoje propõem à fé cristã. Neste novo projeto para revitalizar a fé, a Igreja faz da Pessoa de Jesus Cristo e do encontro pessoal com Ele o centro do seu pensamento, sabendo que Ele concederá o seu Espírito e a força para anunciar e proclamar o Evangelho de maneira nova e de modo que possa falar à sociedade de hoje [...].

O carisma permanece vivo e relevante somente quando dá uma resposta adequada aos sinais dos tempos. Caso contrário, permanece estagnado ou acabará por morrer. A União do Apostolado Católico é um dom de Deus, através de São Vicente Pallotti para a Igreja Universal. Hoje somos nós a mostrar a Igreja que temos verdadeiramente um tesouro conosco para relançar e renovar a fé católica e o espírito apostólico na Igreja [...].

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Aspectos antropológicos de São Vicente Pallotti

Este texto foi enviado de Roma pelo Pe. Elmar Neri Rubira, SAC. Ele é colaborador deste blog e agora nos presenteia com um artigo sobre a visão antropológica de Pallotti. Este é apenas um ensaio sobre a sua tese de mestrado em antropologia teológica, na Faculdade de Teologia Teresianum - Roma. Ao Pe. Elmar nosso agradecimento e conte com o nossa oração e  apoio, para que tenha sucesso nesta pesquisa e que será de grande valia a todos nós que participamos do carisma de S. Vicente Pallotti.

Refletir sobre a visão antropológica de São Vicente Pallotti num período de grandes perturbações sociais, desrespeito à vida humana, crise entre o poder temporal e a estrutura eclesial, é algo que exige muita atenção e disposição, especialmente por saber que, embora, São Vicente Pallotti tenha deixado aos palotinos uma herança de mais dez mil páginas escritas de próprio punho, que foram organizadas e reunidas depois de sua morte, em treze volumes, intitulados de “Obras Completas”, não encontramos nenhum tratado sistemático a respeito do ser humano.

Seus escritos não visavam à publicação nem mesmo a divulgação entre as pessoas, trata-se de textos teológicos, espirituais e de ajuda ao próximo, que revelam muitas vezes traços de sua personalidade e de seu estilo de vida. Podemos afirmar que seus escritos revelam sua profunda intimidade com Deus, sua abertura a realidade e seu grande desejo em ser transformado em instrumento de Deus a cooperar para salvação do próximo. Ele expressa, através de seus escritos, seus mais sinceros sentimentos, o reflexo de sua alma. Uma anaálise superficial daquilo que se lê em seus escritos, poderia levar a uma conclusão de que ele vivia em um mundo irreal, com uma visão pessimista do ser humano, perdido em meios a suas fantasias e distante da realidade humana que o circundava. Mas è justamente o contrário! Ele descobriu, através de um dom gratuito, a beleza da criação, fruto do amor misericordioso do Criador e por isso, conseguiu superar as dificuldades e limitações humanas. Percebemos, claramente, em alguns de seus escritos a visão que possui a respeito do ser humano, neste sentido, ele entende o ser humano como um prodígio da misericórdia de Deus, no qual Deus por meio de seu Filho se dignou restaurar o que no homem tinha sido corrompido. Em sua experiência a compaixão de Deus pela miséria humana é o motivo dominante de toda a obra da salvação.

Para exprimir quem é o ser humano, São Vicente Pallotti faz a seguinte interrogação: “Deus meu, quem sois Vós, e quem sou eu diante de Vós? Dessa maneira, para conhecermos a antropologia de São Vicente Pallotti se faz necessário saber qual a concepção que o santo tinha de si mesmo, pois dela decorre a sua visão antropológica.

São Vicente Pallotti possui uma grande capacidade de escutar, e esta capacidade lhe proporcionou um íntimo relacionamento com o Senhor. O exemplo de Pallotti nos desperta para um retorno a protologia, quando nas origens o ser humano mantinha um diálogo, um relacionamento íntimo com o Criador. Neste aspecto observamos a sua preocupação em aproveitar cada momento para estar sempre com Deus. Para ele, o tempo era sempre “kairós”, tempo favorável para a conversão e mudança de vida, crescimento na santidade.

Pallotti possuía uma concepção pessoal de que é um ser humano extremamente limitado e pecador, mas com relação aos outros tinha uma expressão de compaixão e amor extraordinários, assim se expressava em relação aos necessitados: “queria ser veste para os nus, alimentos para os famintos, água para os sedentos...” não se trata apenas de sentimentos de compaixão, mas de ações concretas em favor da pessoa que sofre, seja sofrimento espiritual ou material. Pallotti sente, em si mesmo, a decadência humana pecadora, mas reconhece no outro a imagem e semelhança de Deus, e por isso está sempre atento para colocar-se a serviço do próximo. Neste sentido o encontramos inserido nos mais diversos projetos sociais de sua época, voltados a atender as necessidades não somente espirituais, mas especialmente físicas das pessoas.

São Vicente Pallotti era convicto que como Deus é amor por essência merece ser amado sobre todas as coisas. Para ele o próximo é “qualquer um que seja capaz de conhecer, servir, amar e possuir Deus”. Portando, seja nosso inimigo, ou amigo, católico ou herético, pagão ou incrédulo, cristão ou judeu, de qualquer nação, é nosso próximo, devemos amá-lo como nós mesmos, por Amor a Deus. Amar para Pallotti é fazer todo o possível para que o outro seja salvo. É inconcebível, segundo ele, ver alguém correndo o grave risco de perder a própria salvação e não fazer nada para ajudá-lo. “Sinto-me chamado por Deus a ser santo e devo ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo caminho”.

O primeiro chamado de Deus é o chamado a existência, a sermos imagem e semelhança do Criador, com o sacramento do batismo esse chamado é reforçado. Para Pallotti, a abertura a Deus exige da pessoa estar disposta a acompanhar e interessar-se pelos outros. A tendência natural de cooperar com Deus é comum em todos os seres humanos, e não somente limitado aos cristãos, por isso o pedido tão insistente de Jesus em amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. A pessoa humana é chamada a participar da vida da Trindade que é caracterizada pela comunhão entre os membros e de um amor recíproco perfeito. A Santíssima Trindade, por sua vez, é o perfeito modelo de amor e cooperação. Na compreensão de São Vicente Pallotti, quando o homem coopera na salvação das almas, está sendo aperfeiçoado nele a imagem da beatíssima Trindade.

A crise provocada pelo pecado não afastou o Criador de sua criatura. Na História da Salvação, o próprio Criador intervém de diversas maneiras para manifestar sua presença Salvadora entre seu Povo Eleito, revelando-se um Deus Misericordioso e Presente, um Deus conosco. A partir da experiência do Amor Infinito e Misericordioso de Deus, São Vicente Pallotti deseja transformar-se em instrumento da Divina Misericórdia para cooperar na salvação das almas. Consciente da realidade humana, imersa no pecado, ele se apóia justamente neste aspecto negativo existente, para justificar a necessidade de reacender a fé e reavivar a caridade nesta mesma humanidade que procura constantemente a transcendência divina. O senso de miséria é verdadeiro e real em si mesmo. São Vicente Pallotti adquiriu uma profunda autoconsciência de si mesmo e o reconhecimento de sua realidade de miséria o impulsiona a propagar a fé e reacender a caridade.

Para São Vicente Pallotti, cooperar com Deus para realizar a própria salvação e para contribuir para a salvação dos outros é uma obrigação, e é o mais precioso de todos os dons de Deus à humanidade. Quando o homem exercita este dom, o homem realiza as obras, como realiza e opera o próprio Deus e assim torna-se semelhante a Deus. Para ele este é um privilégio grandioso, ser um cooperador, um colaborador de Deus, na sua própria ação divina.

Nas suas reflexões ele afirma que na abertura do ser humano a Deus, à obra de seu amor que se revelam na misericórdia e na graça, urgem e o impelem a acompanhar outras pessoas à mesma descoberta. Assim o homem avança na santidade, salva a si mesmo, ajuda os outros em suas necessidades materiais e espirituais e participa do apostolado, que é o agir continuo de Cristo sobre a terra, e participando do Apostolado torna-se um apóstolo.


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Tarefa para os jovens



Fr. Wellington Wesley Paiva, SAC.

 Por muitos anos, os jovens buscaram e lutaram por seus direitos. Sem desistir, os jovens movimentaram-se, procuraram e encontraram o seu espaço na igreja e na sociedade. A partir do Papa João Paulo II, a visão que se tinha do jovem foi mudando. O jovem foi ganhando responsabilidade – não que não tinham, mas é que não acreditavam em seu potencial juvenil – e consequentemente conseguiu, com muito esforço, mostrar que é digno de tal confiança. Observamos isto nas palavras do Santo Padre Bento XVI, no dia 27 de outubro de 2011, no qual, não só foi confiada aos jovens uma tarefa dentro da Igreja, como também, os jovens receberam de todos os lideres religiosos, na voz de nosso Pastor, uma tarefa de papel moral/social.

Para os jovens sortudos, que puderam assistir ao encontro inter-religioso de oração pela paz em Assis (Itália), fica a tarefa de repassar aos demais jovens que, por um motivo ou outro, não puderam prestigiar este maravilhoso evento, a mesma obrigação deixada pelo Santo Padre:
  “Nós confiamos a causa da paz especialmente aos jovens. Possam eles contribuir para libertar a história dos falsos caminhos nos quais se desvia a humanidade.”

É importante enfatizar dois termos usados por Bento XVI.   
 Confiança: confiança não é dada a qualquer pessoa, mas sim, as que são dignas dela. O encargo recebido pela confiança é o de zelar, buscar, defender, promover. A confiança não é um simples sentimento que se tem por qualquer um, é um valor empregado àqueles que a honrarão. O intrigante é notar que o verbo confiança, vem acompanhado do pronome nós. O Papa fala em nome de todos os líderes religiosos, e os líderes religiosos representam quase toda a nação.  

O Papa estava à frente, naquele momento, de todos os líderes religiosos do mundo, e dá, em nome de todos eles, o legado aos jovens de regentes da paz. Tarefa esta, nenhum pouco fácil, mas não impossível.

 Outro termo usado é o Especialmente: é desejo de todos que os jovens tomem cunho nesta batalha pela paz. É de caráter especial aos jovens a busca pela paz. 

 O papel do jovem é o de mudar a história, como enfatiza Bento. A tarefa de mudar o curso da história não é algo prestigioso, mas é necessária e se faz urgente. A paz se encontra perdida em meio aos emaranhados de defeitos promovidos por nossos egoísmos.
 A paz é um tema que para alguns pode ser banal. Muitos pensam que não é proveitoso discutir sobre isso. Entretanto, se não tomarmos as rédeas e fazermos a diferença, o mundo ficará na mesmice.

 No momento em que a falta de paz tocar os nossos calcanhares, será tarde correr atrás dela. Estamos em alerta. Os líderes religiosos do mundo depositam nos jovens suas confianças.

 Jovens, não decepcionem estes homens de caráter, que buscam jovens sadios, como os de antes, que lutavam por seus direitos. Mostremos a eles que os jovens de hoje têm o rosto de Deus e façam valer esta preciosa confiança depositada em todos vocês, jovens de fé.

 O saudoso Pe. Léo dizia aos jovens: jovens, sejam firmes e corajosos!
 Mostrem, sem medo, que a juventude de hoje tem um ideal, tem força de vontade, e luta por um mundo melhor.
E não se esqueçam: a diferença está em cada um de nós, não esperem o outro para que possam movimentar-se. Se cada um der o passo inicial e o outro também der, movimentaremos juntos em busca deste ideal.

“De braços dados iremos juntos nesta estrada que não tem fim.
A juventude unida com amor estará feliz.
Fazendo bem diferente com Jesus Cristo no coração.
A juventude unida, tornando o povo mais cristão.
Sempre cantando a alegria que traz no brilho de um olhar.
O jovem no horizonte buscando amor, esperança e Paz.
No peito, amor de Cristo que une a todos e que faz amar.
O jovem vivendo a vida e não tendo medo de sonhar.
Jovem, não fique desanimado, busque a Cristo no seu irmão.
Mostrando a todo mudo o amor do seu coração.
Imitando a Jesus Cristo que deu a vida por todos nós
O jovem não teme a dor quando quer doar amor.”
 Jovens, honrem este chamado que Cristo faz a vocês, por meio da voz do nosso pastor Bento XVI. O mundo precisa de todos, e a confiança foi depositada especialmente em vocês, jovens de fé, que tem vigor e atitude. Procuremos levar a paz ao mundo, mudando o curso da história.

Missa do lava-pés

Homilia

Estamos celebrando, hoje, a festa da Instituição da Eucaristia, da Instituição do Sacerdócio ministerial e da vivência fraterna da caridade, com a cerimônia do lava-pés.
Qual é o verdadeiro sentido da eucaristia para a vida do cristão? A eucaristia nada mais é que a celebração do amor e da entrega de um Deus repleto de amor pelo seu povo. É um encontro de amor entre amigos íntimos. É um encontro que gera vida e compromisso.
Esta amizade só foi possível porque os seus seguidores aceitaram o convite do Senhor para tomarem parte da sua vida, nascendo assim o discipulado, e discípulo é aquele que segue um mestre para aprender tudo o que ele tem para ensinar. Eles não entendiam muita coisa do que o amigo falava, mas estar ao lado dele era a maior alegria, pois a vida tomava outro sentido.
Certa vez, disse Jesus: “Vós sois meus amigos, se fizerem o que eu vos mando”. Nós aqui também somos os amigos de Jesus, seus discípulos e estamos aqui porque nos sentimos tocados pelo seu amor e queremos participar do convite da sua Ceia, da sua festa, carregada de amor e de fé. Por isso, nesta festa devemos portar o traje recomendado pelo Mestre, para que não ouçamos a sua repreensão, apresentada pelo evangelho: “não vos conheço”. E qual seria o motivo do Senhor da festa dizer “não vos conheço” e pedir para que sejamos retirados do seu banquete?
Isto é mais do que óbvio. É por causa da teimosia do ser humano de não aceitar as suas ordens e recomendações e querer ter os mesmos direitos de todos, servindo a dois senhores; tal discípulo não aceita as teses do mestre, mas quer impor as suas a respeito da vida, dizendo: sempre fui assim, não posso mudar, dando a entender que quem deve mudar é o dono da festa. Eu sou eu e quero fazer valer os meus direitos.
A Bíblia nos ensina que Deus é ciumento, não aos moldes do ciúme humano que quer possuir o que o outro tem, e por não possuir as mesmas coisas se sente inferiorizado. O ciúme de Deus é o de querer possuir a pessoa por inteiro. Deus não quer partes e nem o que sobrou, a exemplo da oferta de Caim. Ele quer tudo o que lhe pertence, pois tudo é dele e deve voltar para Ele. Ou tudo ou nada. Ele próprio doou tudo de si, não sobrou nada. Por isso pode exigir: “Tu és meu” (Is 41,9).
O ser humano é muito engraçado. Ele se entusiasma por qualquer coisa. Às vezes possui uma mente fixa em coisa sem nenhum valor. É capaz de morrer por algo sem sentido. Ele se confunde pegando a parte pelo todo, e segundo a lógica formal, é um erro. Qual parte de uma pessoa é a mais importante? Deus olha a pessoa na sua integralidade, por isso encontramos na Sagrada Escritura a expressão: “Deus não se deleita com os músculos do homem”. Ele admira o ser humano do jeito que ele é, sua imagem e semelhança, com a possibilidade de ser mais, de atingir a plenitude. Deus quer que sejamos mais, que não optemos por aquilo que é mesquinho e depreciativo. Ele quer que amemos os outros e também nos amemos, nos aceitemos, nos perdoemos a nós mesmos. Deus surpreende as pessoas como o fez na ceia, com o lava-pés. Um gesto que só poderia vir dele mesmo.
Ao participarmos da festa de hoje podemos também ser surpreendidos por algo novo, indizível. Aos apóstolos, o novo foi a entrega do pão: o corpo do Senhor, alimento que nos conduz à vida eterna. Outra coisa inesperada foi a delegação de todo o seu poder para que a Igreja pudesse agir em seu nome e que repetisse o seu gesto de amor, principalmente, na celebração da eucaristia, na missa: “Fazei isto em memória de mim”. A única coisa que ele espera do discípulo é que creia na sua palavra. O poder concedido é divino e quem age é o Espírito Santo, que recordará tudo aquilo que fora dito pelo Filho amado. “Esse é meu filho amado, escutai o que ele diz”. Como está a nossa escuta da Palavra de Deus?
A comunidade de fé acolheu esta sua ordem e continua celebrando até que, o mesmo Senhor, volte definitivamente para nos reconduzir à sua glória.
Aquele que, no alvorecer de domingo, aparecerá ressuscitado não quer jamais romper esta amizade. Sua amizade é para sempre. A sua interrupção só acontecerá, se nós, por uma decisão livre optarmos por seguir outro caminho, como aconteceu com Judas. O Senhor, em um gesto de amor o presenteou, na ceia, dando-lhe um pedaço de seu pão, mas nem isso lhe tocou o coração, pois dentro dele já não havia mais espaço para a misericórdia; o mal cegou seu coração e bloqueou sua mente e suas emoções. Estava irreconhecível. Por isso disse Jesus: “o diabo entrou no seu coração”.
O amor de Deus, por nós, é tão grande que não é capaz sequer de impedir a nossa própria autodestruição. Ele apenas sugere e propõe um novo caminho, mas cabe a nós decidirmos ou não por ele. O episódio da traição de Judas mostra que o respeito pela pessoa deve imperar nas nossas relações, custe o que custar. Pensemos nisto, nesta noite, sobre a maneira como agimos com aquele que amamos. O nosso amor é de posse ou um amor de doação? Amamos porque amamos, diz Santo Agostinho, ou amamos porque queremos possuir e privar o outro da sua liberdade e ainda ficamos deprimidos e zangados porque o outro não nos retribuiu com amor.
O caminho do desamor é um caminho curto e ao mesmo tempo desastroso, não gera a vida, mas a morte. O Senhor quer, com esta missa que a vida resplandeça, mesmo quando haja o espírito de vingança e de morte. Não importa se não fomos amados como gostaríamos. Importa que queremos seguir nosso caminho amando como Cristo nos amou. E amando como ele teremos paz, saúde de corpo e alma. Só assim compreenderemos o que significa: “quero misericórdia e não sacrifício”.
Pe. Valdeci de Almeida, SAC