segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

 

DA REGRA FUNDAMENTAL DE SÃO VICENTE PALLOTTI - PARTE II


         1. O mistério da encarnação de Jesus 

Para conhecer melhor a relação íntima de Pallotti com Cristo, é interessante observarmos como ele desejava se configurar à vida santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo. Rezando sobre cada momento da vida de Cristo, Pallotti desejava que fosse destruído nele as imperfeições de cada momento de sua vida terrena. 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, pela mesma vossa infinita misericórdia, creio firmemente que neste momento, segundo a força infinita do merecimento da sacrossanta concepção da santíssima humanidade de Jesus Cristo no seio da Virgem Maria, vós estais destruindo em mim todas as monstruosidades da minha concepção, todas as consequências da minha concepção no pecado, e estais comunicando a mim os merecimentos da concepção de Jesus”.[1]  

O Salmo 51 se refere assim, quando o salmista arrependido de seus pecados afirma: “Eis que eu nasci na iniquidade, minha mãe concebeu-me no pecado” (Sl 51, 7). Também no livro de Jó, encontramos referência ao desprezo de si e o reconhecimento do pecado original: “Como te arrebata a paixão! E lampejas os olhos, quando voltas contra Deus a tua cólera, proferindo teus discursos! Como pode o homem ser puro ou inocente o nascido de mulher?...” (Jó 15, 12-16).

Nesta sua meditação, sobre o mistério da encarnação de Jesus, Pallotti pede sempre que seja destruído nele suas imperfeições. A concepção de Jesus no seio de Maria Santíssima nos faz recordar a obediência de Maria à lei santa de Deus. Pallotti nos deixa como segundo ponto fundamental da Regra: “Todos devemos viver na perfeita observância da lei santa de Deus e da santa Igreja; e em perfeita castidade, obediência, pobreza e perseverança na congregação, com a observância perfeita das santas regras e constituições.”[2]  

2. Objetivo da encarnação de Jesus 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, por vossa mesma misericórdia, creio firmemente que, pelo infinito merecimento do Espírito de sacrifício com o qual Jesus Cristo veio ao mundo, desde o presente momento vós destruís para sempre em mim toda a tendência para a terra, o sangue, a carne, e todas as consequências do sacrifício de Jesus Cristo”.[3] 

O objetivo da encarnação de Jesus é salvar a humanidade, nos livrar da morte e da escravidão do pecado. Pallotti reza esta graça recebida na encarnação de Jesus que destrói nele toda a tendência às coisas terrenas. O Espírito de sacrifício de Jesus expressa sua obediência à vontade do Pai. O objetivo da encarnação de Jesus é, também, realizar a vontade do Pai e, assim, por meio dela, recebemos a graça da redenção.  

3. Jesus gerado no ventre de Maria Santíssima 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, pela mesma vossa misericórdia infinita, creio firmemente que, pelo infinito merecimento da inabitação de Cristo no seio virginal de Maria Imaculada durante nove meses, desde o presente momento vós destruis para sempre em mim todas as deformidades da minha inabitação no seio de minha mãe e todas as humilhantes conseqüências de tal inabitação, comunicando-me o merecimento e as virtudes da inabitação de Cristo no seio de Maria”.[4] 

Diante do grandioso mistério da encarnação de Jesus, Pallotti deseja para si a destruição de todas as deformidades em sua concepção e a graça da encarnação de Cristo. Ele deseja que lhe seja comunicada as virtudes de tal mistério. Os nove meses que Maria aguardou em seu ventre, até o nascimento de Jesus, nos recorda a perseverança de Maria, sua fé e confiança na Palavra do Anjo: “Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo” (Lc 1, 32)

  4. O nascimento de Jesus 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, pela mesma misericórdia infinita, pelos merecimentos e intercessão de Maria Santíssima e de todos os anjos e santos e por todos os merecimentos da Igreja de Jesus Cristo, creio firmemente que desde o presente momento e para sempre, pelo mérito infinito do nascimento de Jesus, vós destruís em mim a deformidade do meu nascimento e todas as suas humilhantes consequências, comunicando-me o mérito do mesmo nascimento de Jesus Cristo”.[5] 

A oração sobre o nascimento de Jesus faz com que Pallotti deseje a santidade em que Jesus nasceu. Pallotti deseja que seja destruído nele o pecado de seu nascimento, em comparação com o nascimento de Cristo pobre na gruta de Belém. Sua humildade, a sua sabedoria infinita, o seu silêncio, a sua oração: “Nosso Senhor Jesus Cristo nascido criancinha, no retiro da gruta de Belém, apesar de ser a sabedoria infinita, contudo sujeitou-se, por nós, a condição dos bebês que não falam, enquanto por nós orava a seu eterno Pai.”[6] 

5. Circuncisão de Jesus 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, pela mesma vossa infinita misericórdia, pelos merecimentos e intercessão de Maria Santíssima e de todos os anjos e santos e pelos merecimentos de toda a Igreja de Jesus Cristo, creio firmemente que desde o presente momento e para sempre, pelo mérito infinito da circuncisão de Jesus Cristo, vós destruís em mim toda a indignidade contraída por mim por não ter aproveitado a graça do santo batismo e me comunicais o mérito da mesma circuncisão de Jesus Cristo.” [7] 

“Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, conforme o chamou o anjo antes de ser concebido.” (Lc 2, 21)

Comparando a circuncisão de Jesus com o seu batismo, Pallotti continua afirmando que Cristo destrói nele a indignidade que adquiriu, por não ter aproveitado a graça do batismo.

   6. Fuga para o Egito e retorno a Nazaré 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, por vossa mesma misericórdia, pelos merecimentos e intercessão de Maria Santíssima e de todos os anjos e santos e por todos os merecimentos de toda a Igreja de Jesus Cristo, creio firmemente que desde o presente momento e para sempre, pelo infinito mérito da infância de Jesus Cristo, de sua fuga para o Egito e da estadia lá e por sua volta a Nazaré, vós destruís em mim toda a deformidade da minha infância, todas as inclinações para a terra, todas as consequências de miséria e deformidade da mesma infância minha, e me comunicais o merecimento de infância de Jesus Cristo, de sua fuga para o Egito e do retorno a Nazaré.”[8]  

Meditando o momento da fuga da sagrada família para o Egito, e o retorno a Nazaré, Pallotti deseja a destruição nele de todos os defeitos e inclinações terrenas de sua infância. 

“Nosso Senhor Jesus Cristo perseguido por Herodes, sujeitou-se aos sofrimentos da fuga para o Egito e do exílio naquele país. Por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos sofrer sempre, com amor e com santa alegria, qualquer sofrimento sobrevindo em conseqüência de qualquer perseguição, em qualquer tempo e situação.”[9]

             Glorifiquemos a Deus, por este tão grande presente que Ele nos ofereceu no dia de Natal. Rezemos para que todos os povos se abram, para receber o Redentor da humanidade.




[1] Propósitos e Aspirações p. 115 nº. 367

[2] FALLER, Pe. Angsgar SAC. Regras Fundamentais da Sociedade do Apostolado Católico p.48 nº. 2. Santa Maria 1991

[3] Propósitos e Aspirações p. 115 nº. 368

[4] Propósitos e Aspirações p.116 nº. 369

[5] Propósitos e Aspirações p. 116 nº.370

[6] FALLER, Pe. Angsgar SAC. Regras Fundamentais da Sociedade do Apostolado Católico p. 49 nº. 9. Santa Maria 1991

[7] Propósitos e Aspirações p. 116 nº. 371

[8] Propósitos e Aspirações p. 116-117 nº. 372

[9] FALLER, Pe. Angsgar SAC. Regras Fundamentais da Sociedade do Apostolado Católico p. 51 nº. 14. Santa Maria 1991



segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

 

DA REGRA FUNDAMENTAL DE SÃO VICENTE PALLOTTI

A imitação de Jesus Cristo - PARTE I


São Vicente Pallotti, na sua Regra Fundamental, pede a todos os membros da União do Apostolado Católico, que imitem a Cristo em todos os momentos da vida.

Observando a oração de nosso fundador, é conveniente que sigamos os passos apresentados por ele, para que rezemos e meditemos como ele rezou e meditou, para que assim nos configuremos a Cristo e à sua vida Santíssima.

Sob a Luz da oração de Pallotti, nós desejamos rezar sobre a vida de Cristo desde sua concepção, no ventre Santíssimo de Maria, até a conclusão de seu ministério apostólico, com a manifestação do Espírito Santo, em Pentecostes, no cenáculo. 

Meditação de São Vicente sobre a Vida de Jesus Cristo

“A regra fundamental da nossa mínima congregação é a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, para imitá-lo com humildade e confiança, com toda a possível perfeição, em toda atividade da vida oculta e do público ministério evangélico, para a maior glória de Deus, nosso Pai celeste, e para a maior santificação de nossa alma e dos nossos próximos. Por isso, quem quer que entre para essa congregação, deve ser trazido pelo perfeito amor de Deus e do próximo, para assegurar também a eterna salvação da própria alma.”[1]



[1] FALLER, Pe. Angsgar SAC. Regras Fundamentais da Sociedade do Apostolado Católico p.48 nº. 1. Santa Maria 1991. Primeiro ponto da Regra Fundamental com 33 pontos, simbolizando a idade de Cristo, deixada por Pallotti aos membros da SAC. O grifo é nosso.


sábado, 3 de dezembro de 2022

 

CONHEÇA O CARISMA PALOTINO - PARTE VIII


CENÁCULO: LUGAR DA IDENTIDADE PALOTINA

A caridade de Cristo nos impele

Pe. Valdeci Antonio de Almeida, SAC


Vicente Pallotti, desde muito cedo, ficou deslumbrado pela experiência dos primeiros cristãos que, após receberem o Espírito Santo, tiveram um novo entusiasmo apostólico e missionário. A alegria dos irmãos estava estampada no rosto, tanto que muitas pessoas queriam fazer parte do grupo. Muitos se perguntavam, e nós o que devemos fazer (At 2, 37-41)?

O livro dos Atos dos Apóstolos diz que todos viviam muito unidos na comunhão fraterna e no partir o pão. Todos vendiam seus bens para colocar em comum e não existiam necessitados entre eles (At 2, 42-47; 11, 29-30). Essa nova atitude dos seguidores de Cristo causou uma grande revolução religiosa e social. Entre eles, a Lei de Talião deixou de existir, agora esse novo grupo vive radicalmente a Lei do amor. Eles vão até às últimas conseqüências se necessário for (At 4, 12-18).

Os primeiros três séculos foram marcados não somente por causa da difusão do reino, mas principalmente pelo testemunho dos mártires (At 8,1-2; 11,19-24; 12,1-5). Os batizados queriam viver e morrer como o Cristo.

Muita coisa bonita acontecia na comunidade primitiva, mas, como em todos os ambientes, não faltaram também as contradições. Mesmo restaurados pelo sangue de Cristo, a marca do pecado continuou e continua presente na vida dos cristãos, como um fermento que tenta contaminar toda a massa (At 5, 1-11; 6, 1-4). Mas a Igreja permaneceu fiel e confiante na força do Espírito. Procurou ainda manter-se unida para a concretização do projeto iniciado por Cristo, o da unidade e o da caridade fraterna (Jo 17, 15.22-23).

São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, mostra que os desvios que surgiram no seio da Igreja foram combatidos e iluminados pela Palavra de Deus, para que as fraquezas de alguns não atrapalhassem o bom êxito do evangelho. Ele diz:

Ouço dizer que, quando vos reunis como Igreja, têm surgido dissensões entre vós. E, em parte, acredito. É necessário que haja até divisões entre vós, para que se tornem conhecidos os que, dentre vós, são comprovados! De fato, quando vos reunis, não é para comer a ceia do Senhor, pois cada um se apressa a comer a sua própria ceia e, enquanto um passa fome, outro se embriaga. Não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Neste caso não posso louvar-vos... Portanto, irmãos, quando vos reunirdes para a ceia, esperai uns pelos outros (1Cor 10, 18-22. 33).

O ser humano, por mais que receba uma missão divina, ainda carrega consigo as marcas do pecado, do egoísmo. Esse mal deve ser continuamente combatido no meio de nós. Não basta apenas dizer que pertence a Cristo, é preciso que, cada um, incorpore dentro de si o verdadeiro espírito de Cristo, ou seja, o espírito de partilha, solidariedade e amor (Mt 7, 21).

A experiência que os discípulos fizeram no Cenáculo levou-os a terem uma nova postura diante das pessoas. Homens e mulheres anunciavam destemidamente aquilo que viram e ouviram de Jesus (1Jo 1,3; Jo 3, 11). O testemunho que davam da ressurreição de Cristo contagiava a todos, e até mesmo os pagãos abraçavam a fé (At 10,44-48; 11,19-21). Cada um que recebia o batismo se sentia impelido a levar adiante o anúncio feito pelos apóstolos. Colocavam também à disposição os dons recebidos de Deus. Todos os batizados se sentiam missionários (1Cor 12,27-31).

No início da Igreja, o Cenáculo foi marcante para aqueles que eram fiéis aos ensinamentos dos apóstolos. Eles permaneceram unidos em oração e na comunhão fraterna. Após a vinda do Espírito Santo, o livro dos Atos não fala mais de Cenáculo e sim das comunidades que foram sendo formadas graças à difusão do reino. Por algum tempo, continuaram freqüentando as reuniões nas sinagogas e as orações no templo, mas isso não foi muito longe, porque o ensinamento feito pelos apóstolos divergia daquele ensinado pelos judeus. Acabaram sendo expulsos do templo (At 21, 29-31; 14, 1-6; 17, 1-11; 18, 4-11; 19, 8-13).

De agora em diante não existirá mais um lugar específico para o Espírito se manifestar, mas onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome, ali estará ele a iluminar e inspirar (Mt 18, 20). A fé na ressurreição continuou cada vez mais forte e as pessoas se reuniam nas casas para celebrar a Palavra e a fração do pão (At 20, 7-9). Podemos dizer que, no início, a Igreja teve características domésticas. Toda a família era envolvida no mistério celebrado.

Contemplando a realidade das primeiras comunidades cristãs, Pallotti percebeu que, mesmo tendo passado centenas de anos da presença do ressuscitado em nosso meio, ainda, é possível resgatar o espírito dos primeiros cristãos. A fé deve ser vivenciada e fortalecida nos lares e nos ambientes onde se encontram os cristãos. Diante da indiferença religiosa de muitos batizados, ele quis, novamente, reavivar a fé e reacender a caridade em todo o mundo. E o melhor meio de revigorar a fé é estando no Cenáculo em espírito de escuta e de oração.



sexta-feira, 11 de novembro de 2022

 

CONHEÇA O CARISMA PALOTINO – PARTE VII

 

UNIÃO DO APOSTOLADO CATOLICO: UM MODO PRÓPRIO DE SER

 

Pe. Valdeci Antonio de Almeida, SAC

 

“Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).

 

O evangelho de Mateus, nos seus últimos versículos, recorda a todos que a missão de Jesus Cristo continua na vida da Igreja e todos os batizados são convocados a anunciar essa boa notícia até os confins do mundo.

São Vicente Pallotti, iluminado por esta mesma Palavra, sentiu a necessidade de convocar os batizados para que, de maneira consciente e organizada, pudessem levar o mais rápido possível essa mensagem às nações e, assim, reavivar a fé e reacender a caridade.  Por isso, em meados de maio de 1835, ele fez um apelo ao povo, dizendo: “Todos, grandes e pequenos, formados, estudantes, operários, ricos e pobres, padres, leigos, religiosos e seculares, comerciantes e empresários, funcionários, artistas e artesãos, comunidades e indivíduos, cada qual no seu próprio estado, na própria condição, de acordo com os próprios dons, podem dedicar-se às obras do Apostolado Católico para reavivar a fé, reacender a caridade e propagá-las em todo o mundo” [1].

Esse apelo ao povo foi o primeiro passo dado por ele, para que as pessoas saíssem do seu torpor religioso e começassem a ter um olhar mais amplo e universal. Sendo assim, muitas pessoas tanto do clero quando dos fiéis se entusiasmaram por esta ideia e, desta forma, deram início a uma nova maneira de trabalhar juntos em prol do Reino de Deus, mas de forma organizada.

O Papa Francisco, no seu magistério, convoca os cristãos, para que saiam dos seus ambientes fechados da Igreja, para tornarem-se uma “Igreja em saída”, ou seja, que todos possam ir em direção das pessoas, em suas periferias existenciais, para levar o remédio de Cristo a tantos corações feridos pela falta de amor e acometidos pelo ódio e pela desesperança. Assim, diz o Papa: “hoje, todos somos chamados a esta nova saída missionária. Cada cristão, cada comunidade e sacerdotes devem sair do conforto e ter a coragem de chegar a todas as periferias existenciais que precisam da luz do Evangelho. Esse é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar este chamado”[2].

A força do batismo

Segundo a Lumen Gentium (LG), “todo leigo é chamado a ser testemunha da ressurreição e da vida do Senhor Jesus, sinal de Deus vivo, diante do mundo”. O número 40 afirma: “Nas diversas profissões e formas de vida, a santidade é sempre a mesma”. O número 33: “Formando o povo de Deus, os leigos constituem um só corpo de Cristo, que é a cabeça. Por vontade do Criador e pela graça recebida do redentor, todos, como membros vivos, são chamados a contribuir com o melhor de suas forças para o crescimento e contínua santificação da Igreja”[3].

A santa Igreja foi instituída por Deus, com uma grande variedade de categorias e funções (cf. LG 32). Os leigos, homens e mulheres, em virtude da sua condição e missão, têm algo de especial, cujo fundamento deve ser melhor examinado nas circunstâncias particulares do mundo em que vivemos. Os pastores sabem quanto os leigos contribuem para o bem de toda a Igreja. Eles sabem que não foram constituídos por Cristo para assumirem sozinhos a missão salvadora da Igreja em relação ao mundo. É sumamente importante que, no exercício da sua função, contem com o apoio dos leigos e com os seus carismas, permitindo que todos colaborem a seu modo na execução do trabalho comum (...). Denominam-se leigos todos os fiéis que não pertencem às ordens sagradas, nem são religiosos reconhecidos pela Igreja. São, pois, os fiéis batizados, incorporados a Cristo, membros do povo de Deus, participantes da função sacerdotal, profética e régia de Cristo, que tomam parte no cumprimento da missão de todo o povo cristão, na Igreja e no mundo (cf. LG 31).

O cristão precisa ter uma identidade sólida e positiva, para poder testemunhar a sua fé e anunciar Jesus Cristo. A falta de clareza da própria identidade nos faz cair em incoerências, pois nos leva a viver fora da finalidade essencial da nossa vida e nos distancia do nosso verdadeiro valor. Isso, muitas vezes, dificulta uma realização mais profunda da nossa vida e vocação. A origem da nossa identidade cristã está no batismo. Nele, recebemos uma nova identidade, que é a de sermos filhos de Deus. Pelo batismo nos tornamos membros da comunidade eclesial e nos credencia a continuar a missão de Jesus Cristo. Ser cristão é reproduzir, na própria vida, o modo de viver de Jesus, é identificar-se sempre mais com Ele[4].

Para São Mateus, a identidade e a missão do cristão consistem em: batizar e fazer discípulos (Mt 28,19). Os que foram batizados, em nome de Cristo, foram também enviados em missão (Lc 10,1). Inspirados pelo Espírito Santo, os cristãos realizam numerosas iniciativas apostólicas como manifestação de amor ao próximo, fundado no amor de Deus. Segundo o Papa Bento XVI, na encíclica Deus Caritas Est, o compromisso de fé com Cristo leva à realização da caridade, tanto individualmente como em comunidade. Para ele, a caridade deve ser organizada como pré-requisito, para um serviço ordenado à comunidade. A identidade da Igreja está na caridade. Ela é a sua essência. Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo confiar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência[5]. A Igreja é a família de Deus no mundo. Nesta família, não deve haver ninguém que sofra por falta do necessário[6].

A caridade vai muito além de uma simples assistência humanitária. Ela é um serviço abnegado por motivo de fé: “é servindo ao próximo que os meus olhos se abrirão para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como Ele me ama”[7]. Os Santos hauriram a sua capacidade de amar o próximo, de modo sempre renovado, do seu encontro com o Senhor eucarístico e, vice-versa, este encontro ganhou o seu realismo e profundidade, precisamente, no serviço deles aos outros. O amor cresce através do amor. O amor é “divino”, porque vem de Deus e nos une a Deus, e, através deste processo unificador, transforma-nos em um nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja “tudo em todos” (1Cor 15,28).

Segundo São Vicente Pallotti, o amor de Deus é difusivo. Ele irradia nos corações, que, por sua vez, torna-se uma luz que vai se propagando na vivência entre as pessoas. Assim disse Jesus: “Quem me vê, vê o Pai”! Ele é o reflexo do amor do Pai, que ama o Filho, que por sua vez, o filho transborda esse amor na cruz (Rm 5,5). O amor do próximo, radicado no amor de Deus, é um dever para cada um dos fiéis, mas o é também para a comunidade eclesial inteira, em todos os seus níveis: desde a comunidade local, passando pela Igreja particular, até a Igreja universal na sua globalidade. A Igreja também, enquanto comunidade deve praticar o amor. A consequência disso é que o amor tem necessidade também de organização, enquanto pressuposto para um serviço comunitário ordenado[8]. A consciência de tal dever teve relevância constitutiva na Igreja desde os seus inícios: “Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos de acordo com as necessidades de cada um” (At 2, 44-45). Com o passar dos anos e a progressiva difusão da Igreja, a prática da caridade confirmou-se como um dos seus âmbitos essenciais, juntamente com a administração dos Sacramentos e o anúncio da Palavra: praticar o amor para com as viúvas e os órfãos, os presos, os doentes e necessitados de qualquer gênero pertence tanto à sua essência como o serviço dos Sacramentos e o anúncio do Evangelho (Mt 25,34-40). A Igreja não pode descurar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os Sacramentos nem a Palavra[9].

O direito de associar-se

As associações representam a forma organizada e mais elaborada do ministério eclesial, para desenvolver a caridade e a piedade, caracterizado pela ação evangelizadora da Igreja e portadores da possibilidade de reunir os vários estados de vida (sacerdotes, religiosos, leigos), por um objetivo comum. As associações não têm seu próprio propósito, mas elas servem a missão que a Igreja deve cumprir no mundo com o testemunho e o espírito evangélico. Assim, Pe. Denilson apresenta em seu artigo sobre a sinodalidade na União:

A UAC, como uma associação pública internacional, é uma pessoa jurídica eclesiástica e não pode ser considerada como Ordem Terceira, de acordo com a norma do cân. 303; nem mesmo uma Federação de diferentes congregações ou sociedades de vida apostólica, de acordo com a norma do cân. 582, porque uma associação não é vida consagrada (cf. can. 298) e não tem o poder de governar sobre os membros das comunidades de fundação, mas uma coordenação das obras que estão sob a pessoa jurídica desta associação, que é a UAC. Desta forma, como afirmado no n. 10 de seu Estatuto, a UAC não interfere nos regulamentos internos das comunidades que fazem parte dela (cfr. artigos 34-37 e 40)[10].

O direito de se associar para desenvolver obras apostólicas provém do Batismo e da Confirmação, para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e bem recebida pelas pessoas. O requisito fundamental de uma associação católica é a comunhão com a Igreja e o reconhecimento dos estatutos, nos quais ela determina a finalidade, a localização, o governo, condições exigidas para sua admissão, tendo em conta a necessidade de tempo e lugar com uma indicação clara para inculturação. O nascimento de uma nova associação é sempre uma garantia contra a centralização excessiva que sufoca e inibe a participação[11]. Por isso, o Papa Francisco convoca todos os batizados para uma Igreja em saída, ou seja, uma Igreja onde todos os seus membros são protagonistas no caminho do discipulado. Segundo ele, a reforma da Igreja católica tem que levar em conta que é necessário superar a mentalidade reducionista e clerical que entende os leigos como objetos da ação da hierarquia e como “consumidores” dos sacramentos, bem como criar as condições necessárias, para que os leigos possam viver o seu protagonismo de forma autônoma[12].

A associação, por meio dos seus dispositivos legais, ajuda no diálogo com a cultura e exige lidar adequadamente com as questões sociais do nosso tempo. Esta é a chave para uma visão associativa adequada, porque a realidade é caracterizada por problemas cada vez mais interconectados e que influenciam toda a família humana. Diante disso, é preciso criar novas estratégias que satisfaçam às necessidades do nosso tempo, o valor da vocação cristã e dos diferentes carismas para a evangelização da sociedade e também dialogar com todos aqueles que desejam, sinceramente, o bem do povo e da humanidade. Um sinal de esperança é o fato de que, hoje, as religiões e culturas expressam abertura ao diálogo e a urgência de unir seus esforços para promover a justiça, a fraternidade, a paz e o crescimento da pessoa humana.

O Direito Canônico, can. 215, acentua que os fiéis têm o direito de estabelecer e dirigir livremente associações que visam à caridade ou à piedade, ou associações que propõem o aumento da vocação cristã no mundo. Têm o direito de realizar reuniões para a concretização comum de tais propósitos. Porque, por meio do batismo, a pessoa é incorporada na Igreja de Cristo, com os deveres e os direitos que lhes são próprios, em comunhão com a Igreja.

O Concílio Vaticano II destacou, de maneira particularmente clara, a “igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os fiéis, em favor da edificação do corpo de Cristo”, em virtude do sacramento do batismo (LG, n. 32). O princípio da igualdade implica que existem alguns direitos e deveres fundamentais comuns a todos os fiéis, que foram enunciados no cânon 208-223. No entanto, o reconhecimento do direito de associação dos batizados foi o resultado de um desenvolvimento gradual, no qual o Concílio Vaticano II foi de fundamental importância, e que só culminou com a completa formalização desse direito dos fiéis, na entrada em vigor do Código de Direito Canônico. Pois, o batismo lhes dá a dignidade de um lar espiritual e de um sacerdócio sagrado. Em virtude do sacerdócio comum dos fiéis, eles podem, em união com Cristo e à Igreja, viver uma vida extraordinária, cheia de graça, mesmo em suas circunstâncias mais comuns. Esta é a vida sacramental. Os membros de uma associação ou movimento se esforçam para viver essa vida mais intensamente e de maneira coordenada.

A fonte do apostolado

A fonte de todo apostolado é o amor de Deus, que, em Jesus Cristo, Apóstolo do Pai, impulsiona as pessoas a viverem em perfeita união e a expressarem na vida tudo quanto receberam por meio da fé. O desejo de Deus está escrito no coração do ser humano. Deus não cessa de atraí-lo a si, e, somente em Deus, a pessoa humana encontra a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. O ser humano é chamado a viver em comunhão com Deus. O homem existe porque Deus o criou por amor e, por isso, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador.

A União do Apostolado Católico, uma associação de fiéis, é dom do Espírito Santo, e vive em comunhão, segundo o carisma de São Vicente Pallotti, a serviço da Igreja e do mundo[13]. Esse chamado é um dom gratuito do Pai que, no seu amor infinito e misericordioso, chama as pessoas a seguirem seu Filho, Jesus Cristo, Apóstolo do Eterno Pai, para continuar, no mundo, a Sua Missão salvífica. Como o Pai mandou o Seu Filho ao mundo, assim também os membros da União, impulsionados pelo amor redentor de Cristo, são enviados a:

1.      Reavivar e difundir a fé evangelizando as pessoas e a sociedade em que vivem;

2.      Reacender a caridade;

3.      Viver uma profunda união com Jesus, Apóstolo do Eterno Pai, no desenvolvimento de obras apostólicas, em comunhão com os católicos, os cristãos e as pessoas de boa vontade;

4.      Despertar, no povo de Deus, a consciência da vocação ao apostolado[14].

São Vicente Pallotti (1795-1850), foi o fundador da União do Apostolado Católico (UAC), reconhecida definitivamente como uma associação pública internacional, no dia 28/10/2008, para que os membros do Povo de Deus pudessem, unidos na missão evangelizadora da Igreja, praticar a caridade de forma associativa. Pallotti acreditava que as iniciativas apostólicas pessoais seriam mais eficazes se fossem realizadas em colaboração e destinadas à tarefa comum da vida e à difusão conjunta do Evangelho. Com efeito, a missão das UAC é de promover o espírito associativo dos batizados e trabalhar pela justiça e pela caridade. Podemos dizer, também, que o trabalho associativo é uma prática verdadeira do princípio da subsidiariedade, baseado na teologia da comunhão e que dá uma sábia descentralização do apostolado caridoso e inculturado na realidade de cada Igreja local, de acordo com o tempo e o lugar (ver Cânon 304)[15].

Delgado Galindo afirma que o princípio da subsidiariedade tem o seu próprio valor dentro da organização da Igreja, se for entendido na perspectiva da promoção do bem de todos os fiéis, obtida de diferentes maneiras, mantendo o dever de permanecer firmemente ancorado na comunhão com a hierarquia. Aplicado às associações de fiéis, o princípio da subsidiariedade sublinha a liberdade de direito e autonomia desfrutada por essas organizações dentro da Igreja, para alcançar seus objetivos, como um dos princípios constitucionais do direito canônico. É também importante respeitar a sua legítima autonomia como agentes da Igreja, que também se traduz no direito de organizar a sua vida associativa com regras particulares que os membros da organização entregam a si próprios, obviamente observando as normas do direito comum e particular. Por esta razão, o princípio da subsidiariedade encontra um campo frutífero de aplicação nas associações de fiéis. Reconhece aos membros das associações eclesiais o direito de exercer todas as funções e atividades, que são capazes de exercer por si próprios, como a elaboração dos estatutos da associação dos fiéis a que pertencem, que devem então submeter à autoridade eclesiástica, para obter reconhecimento ou aprovação[16].

Quem pode fazer parte da União?

Segundo São Vicente Pallotti, todo batizado é chamado por Deus para ser apóstolo do Reino. Para justificar isso, apresentou Maria, a Mãe de Jesus, como mulher apostólica, fazendo muito mais que todos os apóstolos, mesmo sem receber nenhuma ordem sacra. Ela foi sempre obediente à vontade do Pai. O seu “Sim” transformou o mundo, gerou o Salvador que assumiu a nossa humanidade. Maria, pela graça de Deus, tornou-se a Rainha dos Apóstolos.

O ser humano está sempre em busca de algo maior para sua vida. Após a vinda de Pentecostes, as pessoas perguntavam a Pedro, que, pela primeira vez, anunciava o reino destemidamente: “E nós, o que devemos fazer”? Pedro respondia: “Convertam-se e sejam batizadas” (At 2,37-38).

Portanto, o batismo já nos inseriu no projeto redentor de Cristo, porém ele convida pessoas para um trabalho específico em sua Igreja, para que sua dedicação seja exclusiva ao serviço do Reino. Todavia, ele suscita no meio do povo pessoas com carismas especiais, para tornar o evangelho sempre atual e, desta forma, responder às necessidades de cada época.

No ano de 1835, Deus inspirou Vicente Pallotti para reavivar a fé e para reacender a caridade de muitos cristãos indiferentes. Do seu encontro pessoal com Deus e com a necessidade de uma evangelização mais ardorosa, ele convocou todos os batizados para testemunharem sua fé em todos os momentos e circunstâncias da vida. Fundou a União do Apostolado Católico (UAC), para que pudesse difundir os ideais cristãos. Fundou também a Sociedade do Apostolado Católico (SAC), padres e irmãos. Fundou as irmãs, para que juntos pudessem coordenar os trabalhos apostólicos, e serem um elo entre os leigos, religiosos, religiosas e o clero.

Portanto, o cooperador palotino vive a vocação familiar, social e eclesial, de modo que conduza todos à santidade. Desenvolvendo esse apostolado, que lhe é próprio e peculiar, por razão do seu batismo, ele realiza a sua vocação à santidade. Mas, o que leva uma pessoa a se consagrar ou fazer o compromisso apostólico na UAC? Certamente, é o seu profundo desejo de corresponder ao amor que Deus tem manifestado em sua vida, e, de maneira organizada quer colaborar de modo mais eficaz os dons recebidos, dentro de um carisma específico.

A UAC, desde o tempo de sua fundação, vem mostrando o seu modo próprio de ser e de agir dentro a Igreja, e, até mesmo os seus Estatutos atuais deixam em aberto a possibilidade de todos fazerem parte, em primeiro lugar, aos batizados, bem como aqueles que desejam cooperar com a obra apostólica, mesmo não professando a fé católica.

Compromisso apostólico

Com a aprovação dos Estatutos da UAC, a Igreja concedeu aos seus membros o direito de associar-se para que, assim, cada membro, de maneira consciente da sua missão na Igreja, pudesse viver a sua fé de modo mais estreito e associativo. Esta seria a resposta prática para aqueles que fizeram uma caminhada de estudo e que sentiram a necessidade de dar um passo a mais em direção à vivência do seu batismo, não apenas como um membro que coopera com as obras do apostolado, que também tem o seu valor, mas, assumindo de maneira consciente os trabalhos que estão à sua disposição na paróquia. Para que pudesse ampliar os trabalhos apostólicos e até mesmo poder dialogar com o mundo e outras realidades, a associação de fiéis permite que se tenha uma identidade própria com um CNPJ, podendo assim assumir direitos e deveres diante da sociedade civil, mas isso não exclui aqueles que apenas desejarem viver o carisma palotino na realidade em que se encontra, fazendo obras de caridade, sem nenhum vínculo formal. Essa prática já acontecia desde o tempo do fundador.

Segundo o Pe. Denilson Geraldo, em sua live do dia 22/09/2021[17], ao falar da Associação internacional de fiéis, deixou bem claro que as pastorais estão ligadas aos párocos e as associações estão ligadas ao Bispo. Ela tem uma estrutura jurídica com um Estatuto. O estatuto dá estabilidade apostólica no tempo, sendo reconhecida civilmente. Com isso, ela pode dialogar com a cultura e isso perdura no tempo e é necessário ter uma espiritualidade das necessidades reais que as pessoas têm. Segundo ele, a caridade deve ser realizada comunitariamente e organizada em associações, não apenas como pastoral, mas como uma associação que tem uma autonomia jurídica e administrativa, mas, sempre em comunhão com a Igreja, pelo reconhecimento dos estatutos feito pelo Bispo diocesano. Isso demonstra a maturidade de um grupo de cristãos, ou seja, dando um passo além do que se faz nas paróquias.  

Pallotti queria esse tipo de maturidade para os leigos, que eles fossem maduros na fé e que trabalhassem com leigos que tivessem uma ousadia de criar uma associação, de criar recursos para o apostolado e, assim, dialogar com a cultura, inseridos na sociedade onde vivem. A UAC, felizmente, conseguiu esse patamar, de ser uma associação pública internacional de fiéis, com suas coordenações locais, nacionais e internacional. A finalidade do Conselho é de ajudar a coordenar os trabalhos apostólicos. A associação, por sua vez, faz parte do direito natural.

Os colaboradores

Desde o início da fundação, Pallotti contava com inúmeras pessoas que colaboravam com a sua obra, os denominados colaboradores. O atual Estatuto, também dedica três números sobre eles, a saber: 30, 53 e 57, que trata não dos membros efetivos, mas daqueles simpáticos ao carisma, porém, sem ter feito a caminhada prevista para o empenho apostólico. Essas pessoas se sentem muito felizes em dar a sua colaboração, quer seja pelas orações ou, então, como benfeitoras dos seminários, sentem alegres por cooperarem com a Missão de Cristo na União, com o seu trabalho, sua doação ou oração. Podemos dar como exemplo as formações mensais promovidas pelo CNCB, que agora, por causa do CNPJ pode fornecer certificado de participação, com o reconhecimento da faculdade, quando apresentado pelo aluno. Os universitários que participarem podem contar como carga horaria em seus currículos. Essa é uma forma de ampliarmos o nosso modo de evangelizar, atingindo várias camadas da sociedade.

Segundo os Estatutos da União, quem pode participar das suas iniciativas, como colaboradores:

1.      os cristãos (cf. art. 53-54);

2.      os crentes de outras religiões (cf. art. 55);

3.       outras pessoas de boa vontade (cf. art. 56).

No número 53 lemos: “Os fiéis católicos que, mesmo não assumindo particulares empenhos na União, desejarem de qualquer modo partilhar do seu espírito e participar de suas iniciativas, podem tornar-se seus colaboradores”. No número 57 encontramos: “As modalidades de todo tipo de colaboração são estabelecidas pelo regulamento do Conselho Nacional de Coordenação (cf. art. 71i).

Sendo assim, podemos dizer que o TODOS, no apelo de maio, continua tendo o mesmo valor ainda hoje, porém, com o Estatuto podemos ter visibilidade como grupo organizado e, desta forma, podemos fazer coisas ainda mais ousadas, graças ao Estatuto e ao reconhecimento público na Igreja e na sociedade civil.

“Deus em tudo e sempre”!



[1] Na sexta-feira, 9 de janeiro de 1835, após a Santa Missa celebrada no mosteiro Regina Coeli, Vicente Pallotti se sentiu chamado a instituir a obra do Apostolado Católico, para alcançar os seguintes objetivos: 1. Difundir a fé entre os não crentes; 2. Reavivar a fé nos católicos; 3. Exercer trabalhos de caridade”, mas, em maio do mesmo ano, ele, juntamente com os seus colaboradores, divulgou o “Apelo ao povo” (OOCC X, pp. 196-201).

[2] Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do Papa Francisco, 2013, n. 20.

[3] VATICANO II, Mensagens, discursos, documentos, Paulinas: São Paulo, 1998, p. 185, n. 38.

[4] LONDERO, Ângelo, Por uma formação cristã e palotina, Biblos: Santa Maria, 2017, p. 61-68.

[5] Bento XVI, Enciclica Deus caritas est, n. 22.

[6] Idem, n. 25b.

[7] Idem, n. 18.

[8] Idem, n. 20.

[9] Idem, n. 22.

[10] GERALDO, Denilson, La sinodalità nell’Unione dell’Apostolato Cattolico, in Apostolato Univesale, n. 47/2018, p. 39.

[11] Idem, p. 36.

[12] Observatório eclesial Brasil, Todos somos discípulos missionários (Papa Francisco e o laicato), ano nacional do laicato, 2018, Paulinas: São Paulo, p. 26.

[13] Estatuto Geral da União do Apostolado Católico (UAC), n. 1.

[14] Idem, n. 12.

[15] GERALDO, Denilson, Apostolato universale, p. 37-38

[16] Idem, p. 39.

[17] Acesso a live, dia 22/09/2021, https://www.youtube.com/watch?v=Qr-Kyd6y_J8


domingo, 6 de novembro de 2022

 

CONHEÇA O CARISMA PALOTINO – PARTE VI

 

A BEATA ELISABETA SANNA E SÃO VICENTE PALLOTTI

Pe. Valdeci Antonio de Almeida, SAC


 No dia 27 de janeiro de 2014, Elisabetta Sanna, 160 anos após sua morte, foi reconhecida pela Igreja como Beata, mas, quem de fato foi esta mulher de grande santidade? Como Deus a conduziu até São Vicente Pallotti, que tanto lhe ajudou na busca pela santificação pessoal e a configuração com o Cristo?

Elisabetta Sanna nasceu em Codrongianos (Sassari), uma das regiões da Sardenha (ilha Italiana), no dia 23 de abril de 1788. Três meses depois, ela perdeu a capacidade de levantar os braços, por causa de uma doença. Casou-se e foi mãe de cinco filhos. Em 1825, ela ficou viúva e fez o voto de castidade, tornando-se a mãe espiritual das meninas e das mulheres de sua terra.

Em 1831, ela embarcou para uma peregrinação à Terra Santa, a qual foi conduzida por seu diretor espiritual, que a estimava tanto. Nesta viagem, ela acabou chegando em Roma, e não pode retornar, devido à graves distúrbios físicos e muito menos prosseguir rumo a terra Santa. Diante disso, quis a providência divina que o sacerdote Vicente Pallotti tivesse contato com ela.

Padre Giuseppe Valle, seu espiritual, com quem Elisabetta havia confiado para viajar com ela à terra Santa, o qual a dirigia espiritualmente na Sardenha tinha começado a ser acompanhado espiritualmente por Vicente Pallotti, padre Giuseppe havia comentado com Elisabetta da santidade de Vicente, desde então Elisabetta queria conhecê-lo devido a sua fama de santidade, porém, o próprio Giuseppe apontou as dificuldades que ela encontraria para se comunicar com Pallotti por conta do dialeto codrongiano. Mas, quis a providência divina que a beta fosse conduzida até Pallotti, no dia 11 de junho de 1832, quando ela participava de uma procissão, que saia da Basílica de São Pedro, e terminava na Igreja da Rotonda. Como Elisabetta não conhecia bem as ruas de Roma e ao finalizá-la, ela se viu perdida e sozinha na noite romana. Visto que ela só falava o dialeto sardo, ninguém conseguia comunicar-se com ela, então, chorando, começou a andar sem rumo. Em um determinado momento, ela parou em frente a uma das Igrejas romanas e viu um sacerdote com um chapéu debaixo do braço, ao receber o olhar do santo sentiu-se confiante e sem que se desse conta, ela já estava diante da basílica de São Pedro.

No dia seguinte ao ocorrido, padre Giuseppe, após conversar com Pallotti, confirmou a Elisabeta que o padre que ela tinha encontrado era de fato o santo romano. Sabedora disso, em seguida foi à missa na Igreja do Espírito Santo dos napolitanos e lá deparou-se com o padre Vicente como celebrante. Após a missa, ela foi falar com o sacristão a fim de se confessar com o referido padre. Ao receber a resposta negativa do sacristão, Pallotti interveio e atendeu o seu pedido, e mesmo ela falando em sardo, o santo a compreendeu não somente o que dizia, bem como entendeu o estado de espírito no qual ela se encontrava. A partir de então, Pallotti tornou-se seu diretor espiritual.

Pallotti via nela uma mulher apostólica, mesmo sendo ela leiga, analfabeta, doente, estrangeira e pobre. Ele via nela o apostolado do sofrimento, da oração, da caridade, da pobreza e, sobretudo, da imitação de Cristo. Desta forma, Pallotti a aconselhava a glorificar a Deus em seu próprio estado e condição, pois, era eficaz e agradável a Deus. Com grande alegria, ela dedicava a sua vida a estes campos de apostolado aos quais Pallotti a tinha indicado. Além disso, ela se inscreveu imediatamente na fundação da União do Apostolado Católico, fundada por seu diretor espiritual e da qual tornou-se uma fervorosa animadora.

De Pallotti, ela aprendeu a amar ainda mais profundamente a Jesus Eucarístico e a melhor participar da Santa missa. Assim como Pallotti, ela cresceu no amor a Jesus Eucarístico, passando horas a fio em profunda adoração, diante do sacrário das Igrejas. Ela seguia e ajudava em todas as obras de Pallotti, como a Pia Casa de Caridade, o Conservatório Carolino, a Igreja de San Salvatore in onda e à comunidade que ali morava. Ela demonstrava um profundo amor e dedicação à obra de Pallotti, que parecia como que se ela mesma fosse a fundadora. Elisabetta fazia todo o possível para ajudar a UAC desde costura a esmola, de suas orações aos seus sacrifícios, de coisas simples a magníficos paramentos que fazia. Ela doou inteiramente a sua vida a Cristo, por meio da União do Apostolado Católico.

Padre Rafael Mélia referia-se a ela como uma mãe muito solícita da recém fundada comunidade de Pallotti. Ela abria mão de seu próprio bem-estar, para ajudar aos que mais precisavam, preferindo viver na penúria. Ela foi como que mãe dos membros da União e zelava pela caridade e amor fraterno dentro da mesma. Quando ela dicou mais debilitada, sempre algum irmão de san Salvatore in onda ia visitá-la, para ver se precisava de algo, mas, sempre saia com uma boa quantidade de verduras e alimentos, pois, ela mesma já não podia sair para dar aos pobres.

Com a morte de Pallotti, surgiu certa discórdia entre seus filhos e ela teve medo que a congregação se dissolvesse, mas, com o seu grande zelo e amor, conseguia conciliar sempre os padres que estivesse em desacordo. Certa vez, ela pediu ao Padre Vaccari que se demitisse do governo geral da Sociedade, pois o mesmo não se encontrava mais em condições físicas para tal.

Por meio do padre Paolo Scapaticci, sabemos de uma declaração que São Vicente Pallotti teria feito na qual ele dizia que duas pessoas foram de fundamental importância para o desenvolvimento da União do Apostolado Católico, essas duas pessoas são Elisabetta Sanna e o Cardeal Lambruschini.

Portanto, podemos dizer que a bondade de Deus fez com que duas pessoas com fama de santidade se encontrassem e colaborassem mutuamente, para a santificação e edificação um do outro e da União do Apostolado Católico. Peçamos a intercessão deles aos membros da União, para que juntos também cumpramos a missão de evangelizar, levando o amor e a esperança a todos que estão sedentos para ouvir a Palavra de Deus.

“Deus em tudo e sempre”!