segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Exumação do corpo de Pallotti

Veja como foi a abertura do túmulo do então venerável Vicente Pallotti, antes da sua beatificação.


Relato sobre a abertura do túmulo e urna do venerável servo de Deus Vicente Pallotti- Roma, 2-12-1949. Pe. Walkenbach.

Durante a manhã foi preparado um lugar contíguo ao quarto e à sala de trabalho de Vicente Pallotti (cujas janelas dão para o Tibre, hoje habitação do Pe. Geral) para a colocação do féretro e para os devidos exames. No meio, uma mesa, de cujas bordas pendiam panos vermelhos, toda recoberta de branco. Na Igreja (San Salvatore in Onda), os bancos se alinhavam no sentido do túmulo. A primeira fila, toda revestida de vermelho. Diante do túmulo estendia-se um tapete. O muro que selava a pedra sepulcral fora já removido.
Após o meio dia a Igreja ficou repleta. Da Família Palotina viam-se presentes: o Generalado das Palotinas Romanas com Irmãs, noviças e postulantes, acompanhadas das órfãs de Santa Águeda; os alunos do nosso Colégio Romano; os sacerdotes, clérigos e irmãos das províncias italiana e irlandesa; do Generalado e do Colégio Internacional, do Latrão e das Casas de fora de Roma, Castel Gandolfo, Rocca Priora e Óstia. Entre os amigos e admiradores de Pallotti e de sua Obra, notavam-se, entre outros, o Exmo. Sr. Bispo, D. Gawlina, Mons. Wynen, o Geral e o Procurador Geral da Congregação do Preciosíssimo Sangue, bem como outras altas personalidades eclesiásticas e civis e os seminaristas do Seminário Romano.
Pouco depois das 16hs, chegaram os plenipotenciários da S.R.C. : Mons. Salvatore Natucci, Promotor Fidei (Promotor da fé, "Advogado do diabo"), seu suplente, Mons. Sílvio Romani, Mons. Horácio Cocchetti, Chanceler da S.R.C., e o médico da mesma, o prof. Lourenço Sympa.
O ingresso à Igreja fez-se festivamente. À testa do séquito vinha um grupo, formado de representantes de quase todas as Províncias e Regiões, revestidos todos de sobrepeliz. Seguia-os o Generalado. Fechavam o cortejo as autoridades eclesiásticas e o Postulador Geral do Processo de Beatificação, Pe. Ranocchini. Após curta oração diante do Santíssimo, teve início tão extraordinário ato.
Leu, primeiramente, o Chanceler da S.R.C. o decreto de abertura do túmulo. Iniciaram, então, os pedreiros o trabalho de remoção do monumento. Pedaço por pedaço iam desfazendo o monumento que velava o túmulo: o capitel, a tampa, as lousas frontais e laterais, até que surgiu nítida a urna do venerável.
Tinha ela a forma costumeira. Um simples caixão, recoberto de zinco, alargando-se um tanto na cabeceira. Era o mesmo ataúde, no qual, aproximadamente, há 100 anos atrás, fora colocado o corpo de Vicente Pallotti.
Em 1906 foram restaurados apenas o fundo e (a traseira) os pés. A urna achava-se aproximadamente 11 cm. acima do piso da Igreja, descansado sobre barras de mármore. O interior do túmulo mede - arredondando -180 cm. de comprimento, 70 cm. de largura, dos quais quase 30 cm. se embutiam na parede da Igreja, e 50 cm. de altura. Na parede vê-se ainda a pintura antiga da tumulação de 1906, ocultada pelo monumento.
Aproximam-se, então, os representantes da Congregação e examina a massa e os sinetes de chumbo da urna, confrontando-os com o relato da abertura de 1906, e confirmam que realmente é a urna com os restos mortais do venerável Vicente Pallotti, tais quais, há já 40 anos, foram reconhecidos e novamente tumulados.
Por ordem do Postulador Geral apenas aos clérigos (revestidos de sobrepeliz) foi permitido acompanhar a transladação da urna para a sala superior, preparada para as investigações prescritas. Todos os demais deviam aguardar, pacientemente, na Igreja, a abertura da urna.
Organiza-se o préstito. Encabeçam-no dois clérigos e dois irmãos. Vinham em seguida os sacerdotes de todas as Províncias, o Ad. Revmo. Geral Pe. Turowski, o Revmo. Pe. Vice-Geral, Pe. Hoffmann, os Revmos. ex Gerais Pe. Cardi e Pe. Resh, o Revmo. ex-postulador, Pe. Hettenkofer. Todos traziam na mão uma vela. Carregavam o féretro os Revmos. Consultores Gerais, Pe. Fechtig, Pe. Felici, Pe. Ryan, o Procurador Geral, Pe. Weber, o Secretário Geral, Pe. Michellotti, e, como representante das missões, o Pe. Hunoldo. Atrás do esquife vinham os monsenhores da S.R.C., o Postulador Geral, Pe. Ranocchini, e o Prof. Sympa. Fechando o cortejo, vinham os operários para a abertura da urna.
Chegados que foram à sala superior, o funileiro rompeu o zinco da urna. Procedeu-se, então, novamente o reconhecimento dos sigilos do ataúde de madeira. Isto feito, o carpinteiro removeu a tampa. O corpo do venerável estava todo recoberto de um pano de linho, em que fora envolvido após a última exumação. Descobriram o rosto e a cabeça. Oh! feliz e grata surpresa, para todos. Intacto e incorrupto conservou-se-nos o corpo de Pallotti.
Leu o Chanceler da S.R.C. o decreto de exumação, segundo o qual, todos os que retirassem alguma coisa do corpo do venerável ou acrescentassem algo ao mesmo, incorreriam em excomunhão especialíssimo modo reservada ao Santo Padre.
Após a leitura do decreto foi permitido aproximar-se do féretro. Desfilaram todos diante do mesmo, saudando a veneranda cabeça de nosso Pai e Fundador e rendendo a Deus graças pela sua próxima exaltação.
O desfile obedeceu a seguinte ordem: as irmãs, cuja família ele mesmo fundara, as órfãs, das quais se fizera o provedor material, seus filhos espirituais, que difundem sua obra, clérigos e leigos, dos quais ele se tornou, no apostolado, o Guia e o Vanguardeiro. Todos se moviam profundamente comovidos, silenciosos, recolhidos, reverentes, em cujo semblante se estampava um coração mergulhado em doce surpresa e inundado de vivo agradecimento.
Ecoou, então, o severo "exeant omnes". Todos, exceto o muito digno Generalado, retiraram-se. O corpo do Venerável foi, então, retirado da urna também interiormente revestida de zinco e colocado sobre um colchão. Do colchão foi pôsto sobre a mesa, anteriormente preparada. Retirou-se o pano que envolvia todo o corpo, deixando-o assim todo descoberto. Retiraram a estola e o crucifixo. Acompanhava eu o desenrolar do ato através da fresta da porta entreaberta, que fui alargando até me permitir introduzir a cabeça. Por força estranha e irresistível me achei enfim dentro. Preparei assim a venturosa oportunidade para ver de perto o corpo de Pallotti, estudando-o atentamente. O estado do corpo, quase 100 anos após sua morte, pode ser resumido ao seguinte:
A cabeça um tanto inclinada para a direita. Sua estrutura é dolicocéfala (alongada), com a parte posterior bem desenvolvida, não contudo excessivamente. A testa não apresenta salientes protuberâncias, mas larga e lisa, ergue-se abobadada. Apenas a parte anterior da cabeça é calva, tendo as faces parietais recobertas de cabelo de cor loira-clara esbatida. O rosto é estreito e de forma oval aguda. O queixo, afilado. Os ossos molares são notavelmente visíveis e as faces sumidas. A raiz do nariz não é encovada. A ponta, porém, apresenta-se achatada (desde 1906). O olho esquerdo acha-se um tanto encovado, enquanto que o direito apresenta-se normal. As meninas dos olhos são perceptíveis. A boca levemente aberta, os lábios algo ressecados, ocasionando assim a vistas dos dentes (incisivos). Toda a dentadura se conserva. Os dentes são alvos brilhantes. As orelhas de tamanho normal, delgadas e um tanto coladas a cabeça.
O corpo é de estatura pequena, franzina, porém, nobre (esbelta). O peito e o ventre, devido o ressecamento, estão recolhidos. Os ombros, por causa da posição na urna, acham-se um tanto encolhidos. O braço esquerdo descansa sobre o corpo, ao passo que o direito se estende ao longo do corpo (desde 1906 enfaixado, quebrado (?). As mãos são pequenas, tenras e delicadas. O pé esquerdo um tanto torcido para dentro. Apresenta estragos nos dedos (desde 1906). Também se acha quebrada a falangeta da mão direita (Talvez desde 1906). Todo o corpo está ressecado, apresentando um aspecto mumiforme. A pele conserva-se toda, em parte flexível. A cor vai do pardo escuro ao preto.

O Silêncio que restaura


Nunca aproveitei do silêncio e nem da oração. Jesus meu, com os méritos do vosso silêncio e da vossa oração, destruí todo o mal que eu fiz, e o vosso retiro será o meu retiro, o vosso silêncio será o meu silêncio e as vossas orações serão as minhas orações . (S. V. Pallotti)

Toda caminhada, seja ela espiritual ou para um lazer, deve ser precedida por uma boa preparação. O atleta nunca começa a competir sem antes ter tido um bom treinamento para que seus músculos fiquem fortes e resistentes. Da mesma forma deve acontecer com aqueles que querem iniciar uma caminhada espiritual.

Para que a pessoa possa atingir o seu objetivo, ela deve seguir alguns passos, que são essenciais para seu desenvolvimento natural e sem precipitações. Nenhuma pessoa se torna santa ou mística da noite para o dia, mas é fruto de uma longa trajetória de descoberta do amor misericordioso Deus. Para descobri-lo é preciso muita ascese e busca incessante.

Uma das exigências para que alguém possa fazer uma experiência profunda de oração, recomenda-se igualmente um profundo silêncio interior. O silêncio na vida religiosa educa o religioso a aceitar o Deus que parece inexistente à natureza, entretanto sabe que Deus concede ao espírito atento e purificado o dom de alcançar o além da palavra e das idéias. O silêncio dos religiosos, sobretudo dos contemplativos, quer conduzir novamente o homem à fonte divina na qual tem origem as forças que impulsionam o mundo para frente e para compreender à esta luz os grandes desígnios de Deus sobre o homem.

A participação do religioso no silêncio de Cristo é a base de toda a prática externa de ausência da palavra, de solidão, de separação do mundo; e a motivação não pode ser senão o desejo crescente de Deus, do amor fraterno. A condição de peregrino, a instabilidade da vida assumida também pelo religioso e posto de manifesto diante dele pela sociedade, revela-lhe o silêncio inerente a esta condição. O peregrino anda calado; concentrado na meta, atravessa o desconhecido, passa através sem entrar em diálogo com o que lhe sai ao encontro; tem apenas um olhar fixo na meta. Quem sai de sua casa, para se dirigir à meta, ao absoluto, converte o silêncio em sua pátria. O silêncio conduz o cristão, e o religioso em concreto, por caminho de kénosis, até o silêncio da morte em comunhão com a morte redentora de Cristo.

Escutar alguém é entender a sua voz, é escutar no silêncio interior uma palavra que vem do outro. Falar é lançar o próprio discurso interior no espaço interior do outro; gerar do meu silêncio a palavra que entra no silêncio do outro a quem se endereça.
Comunicar é visitar o outro, sem nunca deixar de se auto-vigiar, ou seja, de fazer silêncio, de atender o dom da resposta do outro. O silêncio ajuda a acolher a palavra do outro.

Da mesma forma acontece em relação a Deus. O ser humano deve ter essa capacidade de silenciar-se para que o Absoluto também fale dentro dele e assim possa abrir-se à verdade que está além da sua realidade sensível. O silêncio é amor e desejo do homem em relação a Deus, caminho em direção à interioridade, é lembrança e esperança.

O caminho do silêncio permite a pessoa tomar posse de si mesma. O silêncio coloca tudo no seu devido lugar. A escolha do silêncio é uma espécie de jejum voluntário. Em particular permite ao homem de reencontrar a via da interioridade afim de que a alma descubra aquela realidade mais íntima de si mesma.

O santo silêncio, por sua vez, nos dispõe para a santa oração. O santo silêncio nos conduz também à íntima união com Deus. Quem não ama o silêncio e a oração, por isso não quer a íntima união com Deus”. “No amor à solidão, à qual seguidamente devemos aspirar. É por isso que nossas casas são chamadas retiros. Por isso, de modo especial, devemos tirar proveitos dos dias de solidão prescritos pelas constituições. (S. V. Pallotti)

O silêncio, como o entendemos, não é só um momento ou uma atitude passageira; é um estado harmônico das faculdades humanas, um estilo interior e constante. “O verdadeiro silêncio é a conquista, a busca e o repouso de Deus”.
É como uma parte entre a alma e Deus. A alma enamorada de Deus tende para Ele através desta ponte e assim acha a Luz e o calor para as trevas do próprio espírito. Assim, o verdadeiro silêncio é um silêncio interior.

O “silêncio” supõe o conhecimento do Senhor e se baseia na fé. Supõe conhecer a meta e desejá-la com todo o ser. São meios privilegiados para viver a virtude, e apelam a todo o homem, pois “Todo EU – hei de viver o silêncio”.

Trata-se de um caminho que exige esforço e confiança no Senhor. “O perfeito Silêncio nunca pode estabelecer-se perfeitamente num indivíduo sem grandes esforços. Sem dúvida que a graça contribuirá para isso, mas não opera nunca onde não há vontade submissa, posta por inteiro à sua disposição. O caminho da Salvação supõe a colaboração do homem com Deus. O Senhor dá a graça, mas espera que nós a acolhamos e vivamos. O ser humano não deve, e, além do mais, não pode renunciar a sua estrutura natural; deve cooperar pondo o que lhe corresponde. Desde sua liberdade, mediante uma opção fundamental por Deus e sua obra, o ser humano deve lutar por favorecer o plano de Deus, e logicamente combater em si todos os obstáculos que se lhe opõe; “Converte-te ao Senhor e deixa teus pecados, suplica ante sua face e tira os obstáculos” (Eclo 17,25).

O silêncio, que queremos alcançar, não deve ser considerado como uma mera ausência de ruído, senão como uma presença de paz, de harmonia, de equilíbrio exterior. O silêncio nos faz, em primeiro lugar, presentes a nós mesmos; e nos faz logo presentes a Deus, fazendo-nos atentos à sua presença. O silêncio interior é, pois, não tanto uma carência de ruído e movimentos, senão a orientação positiva da pessoa toda – espírito, psique e corpo – a Deus, cumprindo seu Divino Plano.

Do livro: Itinerário espiritual palotino. Pe. Valdeci Antonio de Almeida, SAC. Biblos Editora.