segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

 

DA REGRA FUNDAMENTAL DE SÃO VICENTE PALLOTTI - PARTE II


         1. O mistério da encarnação de Jesus 

Para conhecer melhor a relação íntima de Pallotti com Cristo, é interessante observarmos como ele desejava se configurar à vida santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo. Rezando sobre cada momento da vida de Cristo, Pallotti desejava que fosse destruído nele as imperfeições de cada momento de sua vida terrena. 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, pela mesma vossa infinita misericórdia, creio firmemente que neste momento, segundo a força infinita do merecimento da sacrossanta concepção da santíssima humanidade de Jesus Cristo no seio da Virgem Maria, vós estais destruindo em mim todas as monstruosidades da minha concepção, todas as consequências da minha concepção no pecado, e estais comunicando a mim os merecimentos da concepção de Jesus”.[1]  

O Salmo 51 se refere assim, quando o salmista arrependido de seus pecados afirma: “Eis que eu nasci na iniquidade, minha mãe concebeu-me no pecado” (Sl 51, 7). Também no livro de Jó, encontramos referência ao desprezo de si e o reconhecimento do pecado original: “Como te arrebata a paixão! E lampejas os olhos, quando voltas contra Deus a tua cólera, proferindo teus discursos! Como pode o homem ser puro ou inocente o nascido de mulher?...” (Jó 15, 12-16).

Nesta sua meditação, sobre o mistério da encarnação de Jesus, Pallotti pede sempre que seja destruído nele suas imperfeições. A concepção de Jesus no seio de Maria Santíssima nos faz recordar a obediência de Maria à lei santa de Deus. Pallotti nos deixa como segundo ponto fundamental da Regra: “Todos devemos viver na perfeita observância da lei santa de Deus e da santa Igreja; e em perfeita castidade, obediência, pobreza e perseverança na congregação, com a observância perfeita das santas regras e constituições.”[2]  

2. Objetivo da encarnação de Jesus 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, por vossa mesma misericórdia, creio firmemente que, pelo infinito merecimento do Espírito de sacrifício com o qual Jesus Cristo veio ao mundo, desde o presente momento vós destruís para sempre em mim toda a tendência para a terra, o sangue, a carne, e todas as consequências do sacrifício de Jesus Cristo”.[3] 

O objetivo da encarnação de Jesus é salvar a humanidade, nos livrar da morte e da escravidão do pecado. Pallotti reza esta graça recebida na encarnação de Jesus que destrói nele toda a tendência às coisas terrenas. O Espírito de sacrifício de Jesus expressa sua obediência à vontade do Pai. O objetivo da encarnação de Jesus é, também, realizar a vontade do Pai e, assim, por meio dela, recebemos a graça da redenção.  

3. Jesus gerado no ventre de Maria Santíssima 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, pela mesma vossa misericórdia infinita, creio firmemente que, pelo infinito merecimento da inabitação de Cristo no seio virginal de Maria Imaculada durante nove meses, desde o presente momento vós destruis para sempre em mim todas as deformidades da minha inabitação no seio de minha mãe e todas as humilhantes conseqüências de tal inabitação, comunicando-me o merecimento e as virtudes da inabitação de Cristo no seio de Maria”.[4] 

Diante do grandioso mistério da encarnação de Jesus, Pallotti deseja para si a destruição de todas as deformidades em sua concepção e a graça da encarnação de Cristo. Ele deseja que lhe seja comunicada as virtudes de tal mistério. Os nove meses que Maria aguardou em seu ventre, até o nascimento de Jesus, nos recorda a perseverança de Maria, sua fé e confiança na Palavra do Anjo: “Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo” (Lc 1, 32)

  4. O nascimento de Jesus 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, pela mesma misericórdia infinita, pelos merecimentos e intercessão de Maria Santíssima e de todos os anjos e santos e por todos os merecimentos da Igreja de Jesus Cristo, creio firmemente que desde o presente momento e para sempre, pelo mérito infinito do nascimento de Jesus, vós destruís em mim a deformidade do meu nascimento e todas as suas humilhantes consequências, comunicando-me o mérito do mesmo nascimento de Jesus Cristo”.[5] 

A oração sobre o nascimento de Jesus faz com que Pallotti deseje a santidade em que Jesus nasceu. Pallotti deseja que seja destruído nele o pecado de seu nascimento, em comparação com o nascimento de Cristo pobre na gruta de Belém. Sua humildade, a sua sabedoria infinita, o seu silêncio, a sua oração: “Nosso Senhor Jesus Cristo nascido criancinha, no retiro da gruta de Belém, apesar de ser a sabedoria infinita, contudo sujeitou-se, por nós, a condição dos bebês que não falam, enquanto por nós orava a seu eterno Pai.”[6] 

5. Circuncisão de Jesus 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, pela mesma vossa infinita misericórdia, pelos merecimentos e intercessão de Maria Santíssima e de todos os anjos e santos e pelos merecimentos de toda a Igreja de Jesus Cristo, creio firmemente que desde o presente momento e para sempre, pelo mérito infinito da circuncisão de Jesus Cristo, vós destruís em mim toda a indignidade contraída por mim por não ter aproveitado a graça do santo batismo e me comunicais o mérito da mesma circuncisão de Jesus Cristo.” [7] 

“Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, conforme o chamou o anjo antes de ser concebido.” (Lc 2, 21)

Comparando a circuncisão de Jesus com o seu batismo, Pallotti continua afirmando que Cristo destrói nele a indignidade que adquiriu, por não ter aproveitado a graça do batismo.

   6. Fuga para o Egito e retorno a Nazaré 

“Meu Deus, minha misericórdia infinita, por vossa mesma misericórdia, pelos merecimentos e intercessão de Maria Santíssima e de todos os anjos e santos e por todos os merecimentos de toda a Igreja de Jesus Cristo, creio firmemente que desde o presente momento e para sempre, pelo infinito mérito da infância de Jesus Cristo, de sua fuga para o Egito e da estadia lá e por sua volta a Nazaré, vós destruís em mim toda a deformidade da minha infância, todas as inclinações para a terra, todas as consequências de miséria e deformidade da mesma infância minha, e me comunicais o merecimento de infância de Jesus Cristo, de sua fuga para o Egito e do retorno a Nazaré.”[8]  

Meditando o momento da fuga da sagrada família para o Egito, e o retorno a Nazaré, Pallotti deseja a destruição nele de todos os defeitos e inclinações terrenas de sua infância. 

“Nosso Senhor Jesus Cristo perseguido por Herodes, sujeitou-se aos sofrimentos da fuga para o Egito e do exílio naquele país. Por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos sofrer sempre, com amor e com santa alegria, qualquer sofrimento sobrevindo em conseqüência de qualquer perseguição, em qualquer tempo e situação.”[9]

             Glorifiquemos a Deus, por este tão grande presente que Ele nos ofereceu no dia de Natal. Rezemos para que todos os povos se abram, para receber o Redentor da humanidade.




[1] Propósitos e Aspirações p. 115 nº. 367

[2] FALLER, Pe. Angsgar SAC. Regras Fundamentais da Sociedade do Apostolado Católico p.48 nº. 2. Santa Maria 1991

[3] Propósitos e Aspirações p. 115 nº. 368

[4] Propósitos e Aspirações p.116 nº. 369

[5] Propósitos e Aspirações p. 116 nº.370

[6] FALLER, Pe. Angsgar SAC. Regras Fundamentais da Sociedade do Apostolado Católico p. 49 nº. 9. Santa Maria 1991

[7] Propósitos e Aspirações p. 116 nº. 371

[8] Propósitos e Aspirações p. 116-117 nº. 372

[9] FALLER, Pe. Angsgar SAC. Regras Fundamentais da Sociedade do Apostolado Católico p. 51 nº. 14. Santa Maria 1991