sábado, 6 de novembro de 2010

2. Enamorado por Deus


São Vicente Pallotti, diante da grandeza, da bondade e da misericórdia infinita de Deus Uno e Trino, descobriu sua pequenez, o seu nada, pois tudo o que ele é vem de Deus, e, de si mesmo, nada tem.

A criatura é totalmente obra de Deus, vem do nada de si mesma, e tudo o que ela é e pode, vem de Deus criador. O que deve, pois, fazer a criatura, quando se descobre que não tem nada de próprio e que tudo lhe vem de Deus? Agradecer a Deus pelo dom recebido e fazer bom uso deste, fazendo-o frutificar, isto é, procurar tornar-se sempre mais semelhante a Deus, pois Deus se alegra e compraz ao contemplar suas criaturas perfeitas (Gn 1,31).

Para Pallotti, o pecado é o mau uso da liberdade ou o abuso dos dons recebidos de Deus. O bom uso da liberdade consiste em fazer bom uso dos dons divinos, dos dons da natureza e da graça. Para Pallotti, pecar é servir-se dos dons de Deus e de todas as coisas criadas para pecar e, por isso, para ofender a Deus e ultrajá-lo. Não tirar proveito desses dons é ingratidão para com Deus, ao passo que a gratidão é o bom uso dos dons divinos e das coisas criadas, para alcançar o fim último que é o próprio Deus.

Deus me deu o livre arbítrio, dom necessário para poder merecer; ao fazer o bem, devo aproveitar o dom do livre arbítrio... “Meu Deus, vós me destes o dom do livre-arbítrio, para que, em toda minha vida, com todos os pensamentos da mente, com todos os afetos do coração, com todas as palavras da língua e com todas as obras, também as mínimas, chegue a aperfeiçoar meritoriamente a minha alma.

O nada e o pecado é toda a minha vida. Ele se vê nada e pecado, porque ao confrontar-se com Deus, percebe que de fato ele é nada. Mas por outra parte vê que esse nada, que é ele mesmo, pode revoltar-se contra Deus, pode separar-se de Deus, pode pecar. Por isso firma que a única coisa que é própria dele, não de Deus, é o pecado.

Portanto, cada vez que nos aproximamos de Deus, o contraste entre o que Ele é e o que nós somos torna-se tremendamente claro. Não é a constante atenção aos seus pecados que torna os santos conscientes da sua pecaminosidade, mas a visão da santidade de Deus. (Horizontes II, p. 117- 118)

Pallotti viu-se e compreendeu-se a si mesmo como criatura especial de Deus, santificada por Ele e alvo de seu amor infinito. Mais que criatura, é também filho, irmão de Jesus, filho de Maria.

O sentido da sua vida é cumprir a vontade de Deus. Deus o quer imitador de Cristo, irmão primogênito. Por isso, quer que a vida de Cristo seja sua vida. Sua maior alegria era sentir-se amado loucamente por Deus. "Ah, meu Deus, que farei à vista de tão inefável amor e de vossa inefável misericórdia?"

A participação na vida da graça faz com que a natureza humana vá tomando novas dimensões. O corpo vai se tornando repleto de luz e com o evoluir das experiências com inefável, o ser humano, marcado pelo pecado, começa a conhecer o que Deus pode realizar com sua graça. A luz parece ser intensa demais para quem ainda vive sob os influxos da matéria corruptível. O místico, depois de uma profunda experiência do amor misericordioso de Deus, sente-se como que envolto nesta grande luz, e vai percebendo na própria vida a transformação que Deus vai realizando, sem mesmo merecer tão grande bondade. (Apóstolo e místico, p. 35)

"Pelos merecimentos de nosso Senhor Jesus Cristo e pela sua infinita misericórdia, cantarei para sempre as misericórdias do Senhor".

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

São Vicente Pallotti, místico e apóstolo



Olá seguidores do Blog. Com o intuito de ampliar ainda mais o seu amor pelo carisma palotino, preparei para você uma breve apresentação de Pallotti como místico e apóstolo. Os temas serão colocados aos poucos, com a numeração decrescente. Desde já, muito obrigado por seguir este Blog. Fico feliz por saber que estamos percorrendo a mesma estrada. Boa leitura.



1. A EXPERIÊNCIA MÍSTICA

A mística cristã indica a amorosa e misteriosa comunhão do cristão com Deus, que causa na alma uma espécie de conhecimento intuitivo.


Este conhecimento novo se baseia na certeza da fé experimentada e saboreada. Esse conhecimento e experiência supõem um verdadeiro contato com o absoluto, por isso se torna uma experiência transcendental. Somente a alma pode perceber isto, porque nela existe uma consciência reflexiva capaz de detectar um objeto imateral, um valor, um absoluto, ou seja, o próprio Deus. (Apostolo e místico, p. 34)
Todos os cristãos são chamados à vida mística como elemento necessário para a santidade cristã, mas nem todos à contemplação infusa. O estado interior é o coração da experiência mística. “Não direi nada que não tenha longamente experimentado” (Apostolo e místico p. 31).


Nas várias circunstâncias do dia, antes de dar começo às obras, devemos considerar quais seriam nesse caso os pensamentos da mente santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo, quais os afetos do seu Coração divino: assim, tendo que falar, devemos considerar quais palavras de humildade, de mansidão, de caridade, de paciência, de prudência diria Nosso Senhor Jesus Cristo, e refluamos sobre quão medidas teriam sido suas santíssimas, nem muitas nem demasiado poucas: e no uso da comida, da bebida, das roupas e de qualquer outra coisa criada necessária para a vida; devemos considerar qual terá sido a pureza de intenção e a moderação usada por Nosso Senhor Jesus Cristo: faça o mesmo quando tomar o repouso noturno e na necessária recreação: numa palavra, em tudo devemos imaginar, ver Nosso Senhor Jesus Cristo, e reavivando a fé devemos recordar” (Opere Complete III, p. 35-36).

É uma experiência imediata de Deus e das coisas divinas por via do conhecimento e amor, devido ao especial influxo do Espírito Santo.
Este contato nao é fruto de um processo pessoal de interiorização. É simplesmente dom gratuito.


Para imitar Nosso Senhor Jesus Cristo, havemos de ter acima de tudo seu Espírito. Todas as operações interiores de nossa alma deverão ser semelhantes às do mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que o imitemos sinceramente também nas ações exteriores, que devem ser expressão verdadeira das interiores. Assim, quanto nos seja possível, iluminados pela fé, fiados na graça e desconfiados de nós mesmos, a cada dia, seguidamente, havemos de considerar e recordar Nosso Senhor Jesus Cristo nas principais operações interiores e exteriores de toda sua vida santíssima. (Documentos da Fundação, p. 325-325).

Causa na alma uma transformação de amor. Gera um profundo e misterioso sentimento de comunhão. Quando Deus começa a fazer parte da vida da pessoa, inicia-se aí um profundo clima de amizade e aos poucos ela vai-se desprendendo de si mesma e de seus projetos pessoais. Na medida em que o amor cresce, a pessoa vai sendo como que invadida pela graça de Deus e as suas resistências interiores vão se tornando tênues. (Apostolo e místico, p. 35)


Se não tivesse havido pecado no mundo, Deus seria simplesmente amor. Mas, como houve pecado no mundo, o amor de Deus transformou-se em misericórdia e misericórdia infinita. A misericórdia é o amor feito perdão.
A misericórdia de Deus manifestou-se em não ter abandonado o homem pecador, mas em tê-lo salvado. A misericórdia de Deus manifestou-se no envio de seu Filho salvador do mundo (Jo 3,16s).


“No uso dos sentidos e das coisas sensíveis, quero humilhar-me conforme quer e ordenou Deus; quero glorificá-lo como o glorificava Jesus Cristo, quando era visível sobre esta terra, tanto antes da morte como depois da Ressurreição, nas diversas aparições feitas à sua Mãe, a Madalena e aos Discípulos” (Opere Complete X, p. 155).