CONHEÇA O CARISMA PALOTINO – PARTE VII
UNIÃO DO APOSTOLADO CATOLICO: UM MODO PRÓPRIO DE SER
Pe.
Valdeci Antonio de Almeida, SAC
“Ide, pois, e ensinai a todas as
nações; batizai-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).
O evangelho de Mateus, nos seus últimos versículos,
recorda a todos que a missão de Jesus Cristo continua na vida da Igreja e todos
os batizados são convocados a anunciar essa boa notícia até os confins do
mundo.
São Vicente Pallotti, iluminado por esta mesma Palavra,
sentiu a necessidade de convocar os batizados para que, de maneira consciente e
organizada, pudessem levar o mais rápido possível essa mensagem às nações e,
assim, reavivar a fé e reacender a caridade.
Por isso, em meados de maio de 1835, ele fez um apelo ao povo, dizendo: “Todos,
grandes e pequenos, formados, estudantes, operários, ricos e pobres, padres,
leigos, religiosos e seculares, comerciantes e empresários, funcionários,
artistas e artesãos, comunidades e indivíduos, cada qual no seu próprio estado,
na própria condição, de acordo com os próprios dons, podem dedicar-se às obras
do Apostolado Católico para reavivar a fé, reacender a caridade e propagá-las
em todo o mundo” [1].
Esse apelo ao povo foi o primeiro passo dado por ele,
para que as pessoas saíssem do seu torpor religioso e começassem a ter um olhar
mais amplo e universal. Sendo assim, muitas pessoas tanto do clero quando dos
fiéis se entusiasmaram por esta ideia e, desta forma, deram início a uma nova
maneira de trabalhar juntos em prol do Reino de Deus, mas de forma organizada.
O Papa Francisco, no seu magistério, convoca os
cristãos, para que saiam dos seus ambientes fechados da Igreja, para
tornarem-se uma “Igreja em saída”, ou seja, que todos possam ir em direção das
pessoas, em suas periferias existenciais, para levar o remédio de Cristo a
tantos corações feridos pela falta de amor e acometidos pelo ódio e pela
desesperança. Assim, diz o Papa: “hoje, todos somos chamados a esta nova saída
missionária. Cada cristão, cada comunidade e sacerdotes devem sair do conforto
e ter a coragem de chegar a todas as periferias existenciais que precisam da
luz do Evangelho. Esse é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos
convidados a aceitar este chamado”[2].
A força do batismo
Segundo
a Lumen Gentium (LG), “todo leigo é
chamado a ser testemunha da ressurreição e da vida do Senhor Jesus, sinal de
Deus vivo, diante do mundo”. O número 40 afirma: “Nas diversas profissões e
formas de vida, a santidade é sempre a mesma”. O número 33: “Formando o povo de
Deus, os leigos constituem um só corpo de Cristo, que é a cabeça. Por vontade
do Criador e pela graça recebida do redentor, todos, como membros vivos, são
chamados a contribuir com o melhor de suas forças para o crescimento e contínua
santificação da Igreja”[3].
A
santa Igreja foi instituída por Deus, com uma grande variedade de categorias e
funções (cf. LG 32). Os leigos, homens e mulheres, em virtude da sua condição e
missão, têm algo de especial, cujo fundamento deve ser melhor examinado nas
circunstâncias particulares do mundo em que vivemos. Os pastores sabem quanto
os leigos contribuem para o bem de toda a Igreja. Eles sabem que não foram
constituídos por Cristo para assumirem sozinhos a missão salvadora da Igreja em
relação ao mundo. É sumamente importante que, no exercício da sua função,
contem com o apoio dos leigos e com os seus carismas, permitindo que todos
colaborem a seu modo na execução do trabalho comum (...). Denominam-se leigos
todos os fiéis que não pertencem às ordens sagradas, nem são religiosos
reconhecidos pela Igreja. São, pois, os fiéis batizados, incorporados a Cristo,
membros do povo de Deus, participantes da função sacerdotal, profética e régia
de Cristo, que tomam parte no cumprimento da missão de todo o povo cristão, na
Igreja e no mundo (cf. LG 31).
O
cristão precisa ter uma identidade sólida e positiva, para poder testemunhar a
sua fé e anunciar Jesus Cristo. A falta de clareza da própria identidade nos
faz cair em incoerências, pois nos leva a viver fora da finalidade essencial da
nossa vida e nos distancia do nosso verdadeiro valor. Isso, muitas vezes,
dificulta uma realização mais profunda da nossa vida e vocação. A origem da
nossa identidade cristã está no batismo. Nele, recebemos uma nova identidade,
que é a de sermos filhos de Deus. Pelo batismo nos tornamos membros da
comunidade eclesial e nos credencia a continuar a missão de Jesus Cristo. Ser
cristão é reproduzir, na própria vida, o modo de viver de Jesus, é
identificar-se sempre mais com Ele[4].
Para
São Mateus, a identidade e a missão do cristão consistem em: batizar e fazer
discípulos (Mt 28,19). Os que foram batizados, em nome de Cristo, foram também
enviados em missão (Lc 10,1). Inspirados pelo Espírito Santo, os cristãos
realizam numerosas iniciativas apostólicas como manifestação de amor ao próximo,
fundado no amor de Deus. Segundo o Papa Bento XVI, na encíclica Deus Caritas Est, o compromisso de fé
com Cristo leva à realização da caridade, tanto individualmente como em comunidade.
Para ele, a caridade deve ser organizada como pré-requisito, para um serviço
ordenado à comunidade. A identidade da Igreja está na caridade. Ela é a sua
essência. Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de
assistência social que se poderia mesmo confiar a outros, mas pertence à sua
natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência[5]. A Igreja é a família de
Deus no mundo. Nesta família, não deve haver ninguém que sofra por falta do
necessário[6].
A
caridade vai muito além de uma simples assistência humanitária. Ela é um
serviço abnegado por motivo de fé: “é servindo ao próximo que os meus olhos se
abrirão para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como Ele me ama”[7]. Os Santos hauriram a sua
capacidade de amar o próximo, de modo sempre renovado, do seu encontro com o
Senhor eucarístico e, vice-versa, este encontro ganhou o seu realismo e
profundidade, precisamente, no serviço deles aos outros. O amor cresce através
do amor. O amor é “divino”, porque vem de Deus e nos une a Deus, e, através
deste processo unificador, transforma-nos em um nós, que supera as nossas
divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja “tudo em todos” (1Cor
15,28).
Segundo
São Vicente Pallotti, o amor de Deus é difusivo. Ele irradia nos corações, que,
por sua vez, torna-se uma luz que vai se propagando na vivência entre as
pessoas. Assim disse Jesus: “Quem me vê, vê o Pai”! Ele é o reflexo do amor do
Pai, que ama o Filho, que por sua vez, o filho transborda esse amor na cruz (Rm
5,5). O amor do próximo, radicado no amor de Deus, é um dever para cada um dos
fiéis, mas o é também para a comunidade eclesial inteira, em todos os seus
níveis: desde a comunidade local, passando pela Igreja particular, até a Igreja
universal na sua globalidade. A Igreja também, enquanto comunidade deve
praticar o amor. A consequência disso é que o amor tem necessidade também de
organização, enquanto pressuposto para um serviço comunitário ordenado[8]. A consciência de tal
dever teve relevância constitutiva na Igreja desde os seus inícios: “Todos os
crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e
distribuíam o dinheiro por todos de acordo com as necessidades de cada um” (At
2, 44-45). Com o passar dos anos e a progressiva difusão da Igreja, a prática
da caridade confirmou-se como um dos seus âmbitos essenciais, juntamente com a
administração dos Sacramentos e o anúncio da Palavra: praticar o amor para com
as viúvas e os órfãos, os presos, os doentes e necessitados de qualquer gênero
pertence tanto à sua essência como o serviço dos Sacramentos e o anúncio do
Evangelho (Mt 25,34-40). A Igreja não pode descurar o serviço da caridade, tal
como não pode negligenciar os Sacramentos nem a Palavra[9].
O
direito de associar-se
As
associações representam a forma organizada e mais elaborada do ministério
eclesial, para desenvolver a caridade e a piedade, caracterizado pela ação evangelizadora
da Igreja e portadores da possibilidade de reunir os vários estados de vida (sacerdotes,
religiosos, leigos), por um objetivo comum. As associações não têm seu próprio
propósito, mas elas servem a missão que a Igreja deve cumprir no mundo com o
testemunho e o espírito evangélico. Assim, Pe. Denilson apresenta em seu artigo
sobre a sinodalidade na União:
A UAC, como uma associação pública
internacional, é uma pessoa jurídica eclesiástica e não pode ser considerada
como Ordem Terceira, de acordo com a norma do cân. 303; nem mesmo uma Federação
de diferentes congregações ou sociedades de vida apostólica, de acordo com a norma
do cân. 582, porque uma associação não é vida consagrada (cf. can. 298) e não
tem o poder de governar sobre os membros das comunidades de fundação, mas uma
coordenação das obras que estão sob a pessoa jurídica desta associação, que é a
UAC. Desta forma, como afirmado no n. 10 de seu Estatuto, a UAC não interfere
nos regulamentos internos das comunidades que fazem parte dela (cfr. artigos
34-37 e 40)[10].
O
direito de se associar para desenvolver obras apostólicas provém do Batismo e
da Confirmação, para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e bem
recebida pelas pessoas. O requisito fundamental de uma associação católica é a
comunhão com a Igreja e o reconhecimento dos estatutos, nos quais ela determina
a finalidade, a localização, o governo, condições exigidas para sua admissão,
tendo em conta a necessidade de tempo e lugar com uma indicação clara para
inculturação. O nascimento de uma nova associação é sempre uma garantia contra
a centralização excessiva que sufoca e inibe a participação[11].
Por isso, o Papa Francisco convoca todos os batizados para uma Igreja em saída,
ou seja, uma Igreja onde todos os seus membros são protagonistas no caminho do
discipulado. Segundo ele, a reforma da Igreja católica tem que levar em conta
que é necessário superar a mentalidade reducionista e clerical que entende os
leigos como objetos da ação da hierarquia e como “consumidores” dos
sacramentos, bem como criar as condições necessárias, para que os leigos possam
viver o seu protagonismo de forma autônoma[12].
A
associação, por meio dos seus dispositivos legais, ajuda no diálogo com a
cultura e exige lidar adequadamente com as questões sociais do nosso tempo. Esta
é a chave para uma visão associativa adequada, porque a realidade é
caracterizada por problemas cada vez mais interconectados e que influenciam toda
a família humana. Diante disso, é preciso criar novas estratégias que
satisfaçam às necessidades do nosso tempo, o valor da vocação cristã e dos
diferentes carismas para a evangelização da sociedade e também dialogar com
todos aqueles que desejam, sinceramente, o bem do povo e da humanidade. Um
sinal de esperança é o fato de que, hoje, as religiões e culturas expressam
abertura ao diálogo e a urgência de unir seus esforços para promover a justiça,
a fraternidade, a paz e o crescimento da pessoa humana.
O
Direito Canônico, can. 215, acentua que os fiéis têm o direito de estabelecer e
dirigir livremente associações que visam à caridade ou à piedade, ou
associações que propõem o aumento da vocação cristã no mundo. Têm o direito de
realizar reuniões para a concretização comum de tais propósitos. Porque, por
meio do batismo, a pessoa é incorporada na Igreja de Cristo, com os deveres e
os direitos que lhes são próprios, em comunhão com a Igreja.
O Concílio Vaticano
II destacou, de maneira particularmente clara, a “igualdade entre todos quanto
à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os fiéis, em favor da edificação
do corpo de Cristo”, em virtude do sacramento do batismo (LG, n. 32). O
princípio da igualdade implica que existem alguns direitos e deveres
fundamentais comuns a todos os fiéis, que foram enunciados no cânon 208-223. No
entanto, o reconhecimento do direito de associação dos batizados foi o
resultado de um desenvolvimento gradual, no qual o Concílio Vaticano II foi de
fundamental importância, e que só culminou com a completa formalização desse
direito dos fiéis, na entrada em vigor do Código de Direito Canônico. Pois, o
batismo lhes dá a dignidade de um lar espiritual e de um sacerdócio sagrado. Em
virtude do sacerdócio comum dos fiéis, eles podem, em união com Cristo e à
Igreja, viver uma vida extraordinária, cheia de graça, mesmo em suas
circunstâncias mais comuns. Esta é a vida sacramental. Os membros de uma
associação ou movimento se esforçam para viver essa vida mais intensamente e de
maneira coordenada.
A fonte do apostolado
A
fonte de todo apostolado é o amor de Deus, que, em Jesus Cristo, Apóstolo do
Pai, impulsiona as pessoas a viverem em perfeita união e a expressarem na vida
tudo quanto receberam por meio da fé. O desejo de Deus está escrito no coração
do ser humano. Deus não cessa de atraí-lo a si, e, somente em Deus, a pessoa
humana encontra a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. O ser
humano é chamado a viver em comunhão com Deus. O homem existe porque Deus o
criou por amor e, por isso, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive
plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar
ao seu Criador.
A
União do Apostolado Católico, uma associação de fiéis, é dom do Espírito Santo,
e vive em comunhão, segundo o carisma de São Vicente Pallotti, a serviço da
Igreja e do mundo[13].
Esse chamado é um dom gratuito do Pai que, no seu amor infinito e
misericordioso, chama as pessoas a seguirem seu Filho, Jesus Cristo, Apóstolo
do Eterno Pai, para continuar, no mundo, a Sua Missão salvífica. Como o Pai
mandou o Seu Filho ao mundo, assim também os membros da União, impulsionados
pelo amor redentor de Cristo, são enviados a:
1. Reavivar
e difundir a fé evangelizando as pessoas e a sociedade em que vivem;
2. Reacender
a caridade;
3. Viver
uma profunda união com Jesus, Apóstolo do Eterno Pai, no desenvolvimento de
obras apostólicas, em comunhão com os católicos, os cristãos e as pessoas de
boa vontade;
4. Despertar,
no povo de Deus, a consciência da vocação ao apostolado[14].
São
Vicente Pallotti (1795-1850), foi o fundador da União do Apostolado Católico
(UAC), reconhecida definitivamente como uma associação pública internacional,
no dia 28/10/2008, para que os membros do Povo de Deus pudessem, unidos na
missão evangelizadora da Igreja, praticar a caridade de forma associativa. Pallotti
acreditava que as iniciativas apostólicas pessoais seriam mais eficazes se
fossem realizadas em colaboração e destinadas à tarefa comum da vida e à
difusão conjunta do Evangelho. Com efeito, a missão das UAC é de promover o
espírito associativo dos batizados e trabalhar pela justiça e pela caridade. Podemos
dizer, também, que o trabalho associativo é uma prática verdadeira do princípio
da subsidiariedade, baseado na teologia da comunhão e que dá uma sábia
descentralização do apostolado caridoso e inculturado na realidade de cada
Igreja local, de acordo com o tempo e o lugar (ver Cânon 304)[15].
Delgado
Galindo afirma que o princípio da subsidiariedade tem o seu próprio valor
dentro da organização da Igreja, se for entendido na perspectiva da promoção do
bem de todos os fiéis, obtida de diferentes maneiras, mantendo o dever de
permanecer firmemente ancorado na comunhão com a hierarquia. Aplicado às
associações de fiéis, o princípio da subsidiariedade sublinha a liberdade de
direito e autonomia desfrutada por essas organizações dentro da Igreja, para
alcançar seus objetivos, como um dos princípios constitucionais do direito
canônico. É também importante respeitar a sua legítima autonomia como agentes
da Igreja, que também se traduz no direito de organizar a sua vida associativa
com regras particulares que os membros da organização entregam a si próprios,
obviamente observando as normas do direito comum e particular. Por esta razão, o
princípio da subsidiariedade encontra um campo frutífero de aplicação nas
associações de fiéis. Reconhece aos membros das associações eclesiais o direito
de exercer todas as funções e atividades, que são capazes de exercer por si
próprios, como a elaboração dos estatutos da associação dos fiéis a que
pertencem, que devem então submeter à autoridade eclesiástica, para obter
reconhecimento ou aprovação[16].
Quem pode fazer parte da União?
Segundo
São Vicente Pallotti, todo batizado é chamado por Deus para ser apóstolo do
Reino. Para justificar isso, apresentou Maria, a Mãe de Jesus, como mulher
apostólica, fazendo muito mais que todos os apóstolos, mesmo sem receber
nenhuma ordem sacra. Ela foi sempre obediente à vontade do Pai. O seu “Sim”
transformou o mundo, gerou o Salvador que assumiu a nossa humanidade. Maria,
pela graça de Deus, tornou-se a Rainha dos Apóstolos.
O
ser humano está sempre em busca de algo maior para sua vida. Após a vinda de
Pentecostes, as pessoas perguntavam a Pedro, que, pela primeira vez, anunciava
o reino destemidamente: “E nós, o que devemos fazer”? Pedro respondia: “Convertam-se
e sejam batizadas” (At 2,37-38).
Portanto,
o batismo já nos inseriu no projeto redentor de Cristo, porém ele convida
pessoas para um trabalho específico em sua Igreja, para que sua dedicação seja
exclusiva ao serviço do Reino. Todavia, ele suscita no meio do povo pessoas com
carismas especiais, para tornar o evangelho sempre atual e, desta forma,
responder às necessidades de cada época.
No
ano de 1835, Deus inspirou Vicente Pallotti para reavivar a fé e para reacender
a caridade de muitos cristãos indiferentes. Do seu encontro pessoal com Deus e
com a necessidade de uma evangelização mais ardorosa, ele convocou todos os
batizados para testemunharem sua fé em todos os momentos e circunstâncias da
vida. Fundou a União do Apostolado Católico (UAC), para que pudesse difundir os
ideais cristãos. Fundou também a Sociedade do Apostolado Católico (SAC), padres
e irmãos. Fundou as irmãs, para que juntos pudessem coordenar os trabalhos
apostólicos, e serem um elo entre os leigos, religiosos, religiosas e o clero.
Portanto,
o cooperador palotino vive a vocação familiar, social e eclesial, de modo que
conduza todos à santidade. Desenvolvendo esse apostolado, que lhe é próprio e
peculiar, por razão do seu batismo, ele realiza a sua vocação à santidade. Mas,
o que leva uma pessoa a se consagrar ou fazer o compromisso apostólico na UAC?
Certamente, é o seu profundo desejo de corresponder ao amor que Deus tem
manifestado em sua vida, e, de maneira organizada quer colaborar de modo mais
eficaz os dons recebidos, dentro de um carisma específico.
A UAC, desde o tempo de sua fundação, vem mostrando o
seu modo próprio de ser e de agir dentro a Igreja, e, até mesmo os seus
Estatutos atuais deixam em aberto a possibilidade de todos fazerem parte, em
primeiro lugar, aos batizados, bem como aqueles que desejam cooperar com a obra
apostólica, mesmo não professando a fé católica.
Compromisso apostólico
Com
a aprovação dos Estatutos da UAC, a Igreja concedeu aos seus membros o direito
de associar-se para que, assim, cada membro, de maneira consciente da sua
missão na Igreja, pudesse viver a sua fé de modo mais estreito e associativo.
Esta seria a resposta prática para aqueles que fizeram uma caminhada de estudo
e que sentiram a necessidade de dar um passo a mais em direção à vivência do
seu batismo, não apenas como um membro que coopera com as obras do apostolado,
que também tem o seu valor, mas, assumindo de maneira consciente os trabalhos
que estão à sua disposição na paróquia. Para que pudesse ampliar os trabalhos
apostólicos e até mesmo poder dialogar com o mundo e outras realidades, a
associação de fiéis permite que se tenha uma identidade própria com um CNPJ,
podendo assim assumir direitos e deveres diante da sociedade civil, mas isso
não exclui aqueles que apenas desejarem viver o carisma palotino na realidade
em que se encontra, fazendo obras de caridade, sem nenhum vínculo formal. Essa
prática já acontecia desde o tempo do fundador.
Segundo
o Pe. Denilson Geraldo, em sua live
do dia 22/09/2021[17], ao falar da Associação
internacional de fiéis, deixou bem claro que as pastorais estão ligadas aos
párocos e as associações estão ligadas ao Bispo. Ela tem uma estrutura jurídica
com um Estatuto. O estatuto dá estabilidade apostólica no tempo, sendo
reconhecida civilmente. Com isso, ela pode dialogar com a cultura e isso
perdura no tempo e é necessário ter uma espiritualidade das necessidades reais
que as pessoas têm. Segundo ele, a caridade deve ser realizada comunitariamente
e organizada em associações, não apenas como pastoral, mas como uma associação
que tem uma autonomia jurídica e administrativa, mas, sempre em comunhão com a
Igreja, pelo reconhecimento dos estatutos feito pelo Bispo diocesano. Isso
demonstra a maturidade de um grupo de cristãos, ou seja, dando um passo além do
que se faz nas paróquias.
Pallotti
queria esse tipo de maturidade para os leigos, que eles fossem maduros na fé e
que trabalhassem com leigos que tivessem uma ousadia de criar uma associação,
de criar recursos para o apostolado e, assim, dialogar com a cultura, inseridos
na sociedade onde vivem. A UAC, felizmente, conseguiu esse patamar, de ser uma
associação pública internacional de fiéis, com suas coordenações locais,
nacionais e internacional. A finalidade do Conselho é de ajudar a coordenar os
trabalhos apostólicos. A associação, por sua vez, faz parte do direito natural.
Os colaboradores
Desde
o início da fundação, Pallotti contava com inúmeras pessoas que colaboravam com
a sua obra, os denominados colaboradores. O atual Estatuto, também dedica três
números sobre eles, a saber: 30, 53 e 57, que trata não dos membros efetivos,
mas daqueles simpáticos ao carisma, porém, sem ter feito a caminhada prevista
para o empenho apostólico. Essas pessoas se sentem muito felizes em dar a sua
colaboração, quer seja pelas orações ou, então, como benfeitoras dos
seminários, sentem alegres por cooperarem com a Missão de Cristo na União, com
o seu trabalho, sua doação ou oração. Podemos dar como exemplo as formações
mensais promovidas pelo CNCB, que agora, por causa do CNPJ pode fornecer
certificado de participação, com o reconhecimento da faculdade, quando
apresentado pelo aluno. Os universitários que participarem podem contar como
carga horaria em seus currículos. Essa é uma forma de ampliarmos o nosso modo
de evangelizar, atingindo várias camadas da sociedade.
Segundo
os Estatutos da União, quem pode participar das suas iniciativas, como
colaboradores:
1.
os cristãos (cf.
art. 53-54);
2.
os crentes de
outras religiões (cf. art. 55);
3.
outras pessoas de
boa vontade (cf. art. 56).
No
número 53 lemos: “Os fiéis católicos que, mesmo não assumindo particulares
empenhos na União, desejarem de qualquer modo partilhar do seu espírito e
participar de suas iniciativas, podem tornar-se seus colaboradores”. No número
57 encontramos: “As modalidades de todo tipo de colaboração são estabelecidas
pelo regulamento do Conselho Nacional de Coordenação (cf. art. 71i).
Sendo
assim, podemos dizer que o TODOS, no apelo de maio, continua tendo o mesmo
valor ainda hoje, porém, com o Estatuto podemos ter visibilidade como grupo
organizado e, desta forma, podemos fazer coisas ainda mais ousadas, graças ao
Estatuto e ao reconhecimento público na Igreja e na sociedade civil.
“Deus
em tudo e sempre”!
[1] Na sexta-feira, 9 de janeiro de
1835, após a Santa Missa celebrada no mosteiro Regina Coeli, Vicente Pallotti
se sentiu chamado a instituir a obra do Apostolado Católico, para alcançar os
seguintes objetivos: 1. Difundir a fé entre os não crentes; 2. Reavivar a fé
nos católicos; 3. Exercer trabalhos de caridade”, mas, em maio do mesmo ano,
ele, juntamente com os seus colaboradores, divulgou o “Apelo ao povo” (OOCC X,
pp. 196-201).
[2] Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium, do Papa Francisco, 2013, n. 20.
[3] VATICANO
II, Mensagens, discursos, documentos,
Paulinas: São Paulo, 1998, p. 185, n. 38.
[4] LONDERO, Ângelo, Por uma formação cristã e palotina,
Biblos: Santa Maria, 2017, p. 61-68.
[5] Bento XVI, Enciclica Deus caritas est, n. 22.
[6] Idem, n. 25b.
[7] Idem, n. 18.
[8] Idem, n. 20.
[9] Idem, n. 22.
[10]
GERALDO, Denilson, La sinodalità nell’Unione dell’Apostolato
Cattolico, in Apostolato Univesale, n. 47/2018, p. 39.
[11]
Idem, p. 36.
[12] Observatório eclesial Brasil, Todos somos discípulos missionários
(Papa Francisco e o laicato), ano nacional do laicato, 2018, Paulinas: São
Paulo, p. 26.
[13] Estatuto Geral da União do Apostolado Católico (UAC), n. 1.
[14] Idem, n. 12.
[15] GERALDO, Denilson, Apostolato universale, p. 37-38
[16] Idem, p. 39.
[17] Acesso a live, dia 22/09/2021, https://www.youtube.com/watch?v=Qr-Kyd6y_J8