sexta-feira, 11 de novembro de 2022

 

CONHEÇA O CARISMA PALOTINO – PARTE VII

 

UNIÃO DO APOSTOLADO CATOLICO: UM MODO PRÓPRIO DE SER

 

Pe. Valdeci Antonio de Almeida, SAC

 

“Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).

 

O evangelho de Mateus, nos seus últimos versículos, recorda a todos que a missão de Jesus Cristo continua na vida da Igreja e todos os batizados são convocados a anunciar essa boa notícia até os confins do mundo.

São Vicente Pallotti, iluminado por esta mesma Palavra, sentiu a necessidade de convocar os batizados para que, de maneira consciente e organizada, pudessem levar o mais rápido possível essa mensagem às nações e, assim, reavivar a fé e reacender a caridade.  Por isso, em meados de maio de 1835, ele fez um apelo ao povo, dizendo: “Todos, grandes e pequenos, formados, estudantes, operários, ricos e pobres, padres, leigos, religiosos e seculares, comerciantes e empresários, funcionários, artistas e artesãos, comunidades e indivíduos, cada qual no seu próprio estado, na própria condição, de acordo com os próprios dons, podem dedicar-se às obras do Apostolado Católico para reavivar a fé, reacender a caridade e propagá-las em todo o mundo” [1].

Esse apelo ao povo foi o primeiro passo dado por ele, para que as pessoas saíssem do seu torpor religioso e começassem a ter um olhar mais amplo e universal. Sendo assim, muitas pessoas tanto do clero quando dos fiéis se entusiasmaram por esta ideia e, desta forma, deram início a uma nova maneira de trabalhar juntos em prol do Reino de Deus, mas de forma organizada.

O Papa Francisco, no seu magistério, convoca os cristãos, para que saiam dos seus ambientes fechados da Igreja, para tornarem-se uma “Igreja em saída”, ou seja, que todos possam ir em direção das pessoas, em suas periferias existenciais, para levar o remédio de Cristo a tantos corações feridos pela falta de amor e acometidos pelo ódio e pela desesperança. Assim, diz o Papa: “hoje, todos somos chamados a esta nova saída missionária. Cada cristão, cada comunidade e sacerdotes devem sair do conforto e ter a coragem de chegar a todas as periferias existenciais que precisam da luz do Evangelho. Esse é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar este chamado”[2].

A força do batismo

Segundo a Lumen Gentium (LG), “todo leigo é chamado a ser testemunha da ressurreição e da vida do Senhor Jesus, sinal de Deus vivo, diante do mundo”. O número 40 afirma: “Nas diversas profissões e formas de vida, a santidade é sempre a mesma”. O número 33: “Formando o povo de Deus, os leigos constituem um só corpo de Cristo, que é a cabeça. Por vontade do Criador e pela graça recebida do redentor, todos, como membros vivos, são chamados a contribuir com o melhor de suas forças para o crescimento e contínua santificação da Igreja”[3].

A santa Igreja foi instituída por Deus, com uma grande variedade de categorias e funções (cf. LG 32). Os leigos, homens e mulheres, em virtude da sua condição e missão, têm algo de especial, cujo fundamento deve ser melhor examinado nas circunstâncias particulares do mundo em que vivemos. Os pastores sabem quanto os leigos contribuem para o bem de toda a Igreja. Eles sabem que não foram constituídos por Cristo para assumirem sozinhos a missão salvadora da Igreja em relação ao mundo. É sumamente importante que, no exercício da sua função, contem com o apoio dos leigos e com os seus carismas, permitindo que todos colaborem a seu modo na execução do trabalho comum (...). Denominam-se leigos todos os fiéis que não pertencem às ordens sagradas, nem são religiosos reconhecidos pela Igreja. São, pois, os fiéis batizados, incorporados a Cristo, membros do povo de Deus, participantes da função sacerdotal, profética e régia de Cristo, que tomam parte no cumprimento da missão de todo o povo cristão, na Igreja e no mundo (cf. LG 31).

O cristão precisa ter uma identidade sólida e positiva, para poder testemunhar a sua fé e anunciar Jesus Cristo. A falta de clareza da própria identidade nos faz cair em incoerências, pois nos leva a viver fora da finalidade essencial da nossa vida e nos distancia do nosso verdadeiro valor. Isso, muitas vezes, dificulta uma realização mais profunda da nossa vida e vocação. A origem da nossa identidade cristã está no batismo. Nele, recebemos uma nova identidade, que é a de sermos filhos de Deus. Pelo batismo nos tornamos membros da comunidade eclesial e nos credencia a continuar a missão de Jesus Cristo. Ser cristão é reproduzir, na própria vida, o modo de viver de Jesus, é identificar-se sempre mais com Ele[4].

Para São Mateus, a identidade e a missão do cristão consistem em: batizar e fazer discípulos (Mt 28,19). Os que foram batizados, em nome de Cristo, foram também enviados em missão (Lc 10,1). Inspirados pelo Espírito Santo, os cristãos realizam numerosas iniciativas apostólicas como manifestação de amor ao próximo, fundado no amor de Deus. Segundo o Papa Bento XVI, na encíclica Deus Caritas Est, o compromisso de fé com Cristo leva à realização da caridade, tanto individualmente como em comunidade. Para ele, a caridade deve ser organizada como pré-requisito, para um serviço ordenado à comunidade. A identidade da Igreja está na caridade. Ela é a sua essência. Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo confiar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência[5]. A Igreja é a família de Deus no mundo. Nesta família, não deve haver ninguém que sofra por falta do necessário[6].

A caridade vai muito além de uma simples assistência humanitária. Ela é um serviço abnegado por motivo de fé: “é servindo ao próximo que os meus olhos se abrirão para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como Ele me ama”[7]. Os Santos hauriram a sua capacidade de amar o próximo, de modo sempre renovado, do seu encontro com o Senhor eucarístico e, vice-versa, este encontro ganhou o seu realismo e profundidade, precisamente, no serviço deles aos outros. O amor cresce através do amor. O amor é “divino”, porque vem de Deus e nos une a Deus, e, através deste processo unificador, transforma-nos em um nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja “tudo em todos” (1Cor 15,28).

Segundo São Vicente Pallotti, o amor de Deus é difusivo. Ele irradia nos corações, que, por sua vez, torna-se uma luz que vai se propagando na vivência entre as pessoas. Assim disse Jesus: “Quem me vê, vê o Pai”! Ele é o reflexo do amor do Pai, que ama o Filho, que por sua vez, o filho transborda esse amor na cruz (Rm 5,5). O amor do próximo, radicado no amor de Deus, é um dever para cada um dos fiéis, mas o é também para a comunidade eclesial inteira, em todos os seus níveis: desde a comunidade local, passando pela Igreja particular, até a Igreja universal na sua globalidade. A Igreja também, enquanto comunidade deve praticar o amor. A consequência disso é que o amor tem necessidade também de organização, enquanto pressuposto para um serviço comunitário ordenado[8]. A consciência de tal dever teve relevância constitutiva na Igreja desde os seus inícios: “Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos de acordo com as necessidades de cada um” (At 2, 44-45). Com o passar dos anos e a progressiva difusão da Igreja, a prática da caridade confirmou-se como um dos seus âmbitos essenciais, juntamente com a administração dos Sacramentos e o anúncio da Palavra: praticar o amor para com as viúvas e os órfãos, os presos, os doentes e necessitados de qualquer gênero pertence tanto à sua essência como o serviço dos Sacramentos e o anúncio do Evangelho (Mt 25,34-40). A Igreja não pode descurar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os Sacramentos nem a Palavra[9].

O direito de associar-se

As associações representam a forma organizada e mais elaborada do ministério eclesial, para desenvolver a caridade e a piedade, caracterizado pela ação evangelizadora da Igreja e portadores da possibilidade de reunir os vários estados de vida (sacerdotes, religiosos, leigos), por um objetivo comum. As associações não têm seu próprio propósito, mas elas servem a missão que a Igreja deve cumprir no mundo com o testemunho e o espírito evangélico. Assim, Pe. Denilson apresenta em seu artigo sobre a sinodalidade na União:

A UAC, como uma associação pública internacional, é uma pessoa jurídica eclesiástica e não pode ser considerada como Ordem Terceira, de acordo com a norma do cân. 303; nem mesmo uma Federação de diferentes congregações ou sociedades de vida apostólica, de acordo com a norma do cân. 582, porque uma associação não é vida consagrada (cf. can. 298) e não tem o poder de governar sobre os membros das comunidades de fundação, mas uma coordenação das obras que estão sob a pessoa jurídica desta associação, que é a UAC. Desta forma, como afirmado no n. 10 de seu Estatuto, a UAC não interfere nos regulamentos internos das comunidades que fazem parte dela (cfr. artigos 34-37 e 40)[10].

O direito de se associar para desenvolver obras apostólicas provém do Batismo e da Confirmação, para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e bem recebida pelas pessoas. O requisito fundamental de uma associação católica é a comunhão com a Igreja e o reconhecimento dos estatutos, nos quais ela determina a finalidade, a localização, o governo, condições exigidas para sua admissão, tendo em conta a necessidade de tempo e lugar com uma indicação clara para inculturação. O nascimento de uma nova associação é sempre uma garantia contra a centralização excessiva que sufoca e inibe a participação[11]. Por isso, o Papa Francisco convoca todos os batizados para uma Igreja em saída, ou seja, uma Igreja onde todos os seus membros são protagonistas no caminho do discipulado. Segundo ele, a reforma da Igreja católica tem que levar em conta que é necessário superar a mentalidade reducionista e clerical que entende os leigos como objetos da ação da hierarquia e como “consumidores” dos sacramentos, bem como criar as condições necessárias, para que os leigos possam viver o seu protagonismo de forma autônoma[12].

A associação, por meio dos seus dispositivos legais, ajuda no diálogo com a cultura e exige lidar adequadamente com as questões sociais do nosso tempo. Esta é a chave para uma visão associativa adequada, porque a realidade é caracterizada por problemas cada vez mais interconectados e que influenciam toda a família humana. Diante disso, é preciso criar novas estratégias que satisfaçam às necessidades do nosso tempo, o valor da vocação cristã e dos diferentes carismas para a evangelização da sociedade e também dialogar com todos aqueles que desejam, sinceramente, o bem do povo e da humanidade. Um sinal de esperança é o fato de que, hoje, as religiões e culturas expressam abertura ao diálogo e a urgência de unir seus esforços para promover a justiça, a fraternidade, a paz e o crescimento da pessoa humana.

O Direito Canônico, can. 215, acentua que os fiéis têm o direito de estabelecer e dirigir livremente associações que visam à caridade ou à piedade, ou associações que propõem o aumento da vocação cristã no mundo. Têm o direito de realizar reuniões para a concretização comum de tais propósitos. Porque, por meio do batismo, a pessoa é incorporada na Igreja de Cristo, com os deveres e os direitos que lhes são próprios, em comunhão com a Igreja.

O Concílio Vaticano II destacou, de maneira particularmente clara, a “igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os fiéis, em favor da edificação do corpo de Cristo”, em virtude do sacramento do batismo (LG, n. 32). O princípio da igualdade implica que existem alguns direitos e deveres fundamentais comuns a todos os fiéis, que foram enunciados no cânon 208-223. No entanto, o reconhecimento do direito de associação dos batizados foi o resultado de um desenvolvimento gradual, no qual o Concílio Vaticano II foi de fundamental importância, e que só culminou com a completa formalização desse direito dos fiéis, na entrada em vigor do Código de Direito Canônico. Pois, o batismo lhes dá a dignidade de um lar espiritual e de um sacerdócio sagrado. Em virtude do sacerdócio comum dos fiéis, eles podem, em união com Cristo e à Igreja, viver uma vida extraordinária, cheia de graça, mesmo em suas circunstâncias mais comuns. Esta é a vida sacramental. Os membros de uma associação ou movimento se esforçam para viver essa vida mais intensamente e de maneira coordenada.

A fonte do apostolado

A fonte de todo apostolado é o amor de Deus, que, em Jesus Cristo, Apóstolo do Pai, impulsiona as pessoas a viverem em perfeita união e a expressarem na vida tudo quanto receberam por meio da fé. O desejo de Deus está escrito no coração do ser humano. Deus não cessa de atraí-lo a si, e, somente em Deus, a pessoa humana encontra a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. O ser humano é chamado a viver em comunhão com Deus. O homem existe porque Deus o criou por amor e, por isso, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador.

A União do Apostolado Católico, uma associação de fiéis, é dom do Espírito Santo, e vive em comunhão, segundo o carisma de São Vicente Pallotti, a serviço da Igreja e do mundo[13]. Esse chamado é um dom gratuito do Pai que, no seu amor infinito e misericordioso, chama as pessoas a seguirem seu Filho, Jesus Cristo, Apóstolo do Eterno Pai, para continuar, no mundo, a Sua Missão salvífica. Como o Pai mandou o Seu Filho ao mundo, assim também os membros da União, impulsionados pelo amor redentor de Cristo, são enviados a:

1.      Reavivar e difundir a fé evangelizando as pessoas e a sociedade em que vivem;

2.      Reacender a caridade;

3.      Viver uma profunda união com Jesus, Apóstolo do Eterno Pai, no desenvolvimento de obras apostólicas, em comunhão com os católicos, os cristãos e as pessoas de boa vontade;

4.      Despertar, no povo de Deus, a consciência da vocação ao apostolado[14].

São Vicente Pallotti (1795-1850), foi o fundador da União do Apostolado Católico (UAC), reconhecida definitivamente como uma associação pública internacional, no dia 28/10/2008, para que os membros do Povo de Deus pudessem, unidos na missão evangelizadora da Igreja, praticar a caridade de forma associativa. Pallotti acreditava que as iniciativas apostólicas pessoais seriam mais eficazes se fossem realizadas em colaboração e destinadas à tarefa comum da vida e à difusão conjunta do Evangelho. Com efeito, a missão das UAC é de promover o espírito associativo dos batizados e trabalhar pela justiça e pela caridade. Podemos dizer, também, que o trabalho associativo é uma prática verdadeira do princípio da subsidiariedade, baseado na teologia da comunhão e que dá uma sábia descentralização do apostolado caridoso e inculturado na realidade de cada Igreja local, de acordo com o tempo e o lugar (ver Cânon 304)[15].

Delgado Galindo afirma que o princípio da subsidiariedade tem o seu próprio valor dentro da organização da Igreja, se for entendido na perspectiva da promoção do bem de todos os fiéis, obtida de diferentes maneiras, mantendo o dever de permanecer firmemente ancorado na comunhão com a hierarquia. Aplicado às associações de fiéis, o princípio da subsidiariedade sublinha a liberdade de direito e autonomia desfrutada por essas organizações dentro da Igreja, para alcançar seus objetivos, como um dos princípios constitucionais do direito canônico. É também importante respeitar a sua legítima autonomia como agentes da Igreja, que também se traduz no direito de organizar a sua vida associativa com regras particulares que os membros da organização entregam a si próprios, obviamente observando as normas do direito comum e particular. Por esta razão, o princípio da subsidiariedade encontra um campo frutífero de aplicação nas associações de fiéis. Reconhece aos membros das associações eclesiais o direito de exercer todas as funções e atividades, que são capazes de exercer por si próprios, como a elaboração dos estatutos da associação dos fiéis a que pertencem, que devem então submeter à autoridade eclesiástica, para obter reconhecimento ou aprovação[16].

Quem pode fazer parte da União?

Segundo São Vicente Pallotti, todo batizado é chamado por Deus para ser apóstolo do Reino. Para justificar isso, apresentou Maria, a Mãe de Jesus, como mulher apostólica, fazendo muito mais que todos os apóstolos, mesmo sem receber nenhuma ordem sacra. Ela foi sempre obediente à vontade do Pai. O seu “Sim” transformou o mundo, gerou o Salvador que assumiu a nossa humanidade. Maria, pela graça de Deus, tornou-se a Rainha dos Apóstolos.

O ser humano está sempre em busca de algo maior para sua vida. Após a vinda de Pentecostes, as pessoas perguntavam a Pedro, que, pela primeira vez, anunciava o reino destemidamente: “E nós, o que devemos fazer”? Pedro respondia: “Convertam-se e sejam batizadas” (At 2,37-38).

Portanto, o batismo já nos inseriu no projeto redentor de Cristo, porém ele convida pessoas para um trabalho específico em sua Igreja, para que sua dedicação seja exclusiva ao serviço do Reino. Todavia, ele suscita no meio do povo pessoas com carismas especiais, para tornar o evangelho sempre atual e, desta forma, responder às necessidades de cada época.

No ano de 1835, Deus inspirou Vicente Pallotti para reavivar a fé e para reacender a caridade de muitos cristãos indiferentes. Do seu encontro pessoal com Deus e com a necessidade de uma evangelização mais ardorosa, ele convocou todos os batizados para testemunharem sua fé em todos os momentos e circunstâncias da vida. Fundou a União do Apostolado Católico (UAC), para que pudesse difundir os ideais cristãos. Fundou também a Sociedade do Apostolado Católico (SAC), padres e irmãos. Fundou as irmãs, para que juntos pudessem coordenar os trabalhos apostólicos, e serem um elo entre os leigos, religiosos, religiosas e o clero.

Portanto, o cooperador palotino vive a vocação familiar, social e eclesial, de modo que conduza todos à santidade. Desenvolvendo esse apostolado, que lhe é próprio e peculiar, por razão do seu batismo, ele realiza a sua vocação à santidade. Mas, o que leva uma pessoa a se consagrar ou fazer o compromisso apostólico na UAC? Certamente, é o seu profundo desejo de corresponder ao amor que Deus tem manifestado em sua vida, e, de maneira organizada quer colaborar de modo mais eficaz os dons recebidos, dentro de um carisma específico.

A UAC, desde o tempo de sua fundação, vem mostrando o seu modo próprio de ser e de agir dentro a Igreja, e, até mesmo os seus Estatutos atuais deixam em aberto a possibilidade de todos fazerem parte, em primeiro lugar, aos batizados, bem como aqueles que desejam cooperar com a obra apostólica, mesmo não professando a fé católica.

Compromisso apostólico

Com a aprovação dos Estatutos da UAC, a Igreja concedeu aos seus membros o direito de associar-se para que, assim, cada membro, de maneira consciente da sua missão na Igreja, pudesse viver a sua fé de modo mais estreito e associativo. Esta seria a resposta prática para aqueles que fizeram uma caminhada de estudo e que sentiram a necessidade de dar um passo a mais em direção à vivência do seu batismo, não apenas como um membro que coopera com as obras do apostolado, que também tem o seu valor, mas, assumindo de maneira consciente os trabalhos que estão à sua disposição na paróquia. Para que pudesse ampliar os trabalhos apostólicos e até mesmo poder dialogar com o mundo e outras realidades, a associação de fiéis permite que se tenha uma identidade própria com um CNPJ, podendo assim assumir direitos e deveres diante da sociedade civil, mas isso não exclui aqueles que apenas desejarem viver o carisma palotino na realidade em que se encontra, fazendo obras de caridade, sem nenhum vínculo formal. Essa prática já acontecia desde o tempo do fundador.

Segundo o Pe. Denilson Geraldo, em sua live do dia 22/09/2021[17], ao falar da Associação internacional de fiéis, deixou bem claro que as pastorais estão ligadas aos párocos e as associações estão ligadas ao Bispo. Ela tem uma estrutura jurídica com um Estatuto. O estatuto dá estabilidade apostólica no tempo, sendo reconhecida civilmente. Com isso, ela pode dialogar com a cultura e isso perdura no tempo e é necessário ter uma espiritualidade das necessidades reais que as pessoas têm. Segundo ele, a caridade deve ser realizada comunitariamente e organizada em associações, não apenas como pastoral, mas como uma associação que tem uma autonomia jurídica e administrativa, mas, sempre em comunhão com a Igreja, pelo reconhecimento dos estatutos feito pelo Bispo diocesano. Isso demonstra a maturidade de um grupo de cristãos, ou seja, dando um passo além do que se faz nas paróquias.  

Pallotti queria esse tipo de maturidade para os leigos, que eles fossem maduros na fé e que trabalhassem com leigos que tivessem uma ousadia de criar uma associação, de criar recursos para o apostolado e, assim, dialogar com a cultura, inseridos na sociedade onde vivem. A UAC, felizmente, conseguiu esse patamar, de ser uma associação pública internacional de fiéis, com suas coordenações locais, nacionais e internacional. A finalidade do Conselho é de ajudar a coordenar os trabalhos apostólicos. A associação, por sua vez, faz parte do direito natural.

Os colaboradores

Desde o início da fundação, Pallotti contava com inúmeras pessoas que colaboravam com a sua obra, os denominados colaboradores. O atual Estatuto, também dedica três números sobre eles, a saber: 30, 53 e 57, que trata não dos membros efetivos, mas daqueles simpáticos ao carisma, porém, sem ter feito a caminhada prevista para o empenho apostólico. Essas pessoas se sentem muito felizes em dar a sua colaboração, quer seja pelas orações ou, então, como benfeitoras dos seminários, sentem alegres por cooperarem com a Missão de Cristo na União, com o seu trabalho, sua doação ou oração. Podemos dar como exemplo as formações mensais promovidas pelo CNCB, que agora, por causa do CNPJ pode fornecer certificado de participação, com o reconhecimento da faculdade, quando apresentado pelo aluno. Os universitários que participarem podem contar como carga horaria em seus currículos. Essa é uma forma de ampliarmos o nosso modo de evangelizar, atingindo várias camadas da sociedade.

Segundo os Estatutos da União, quem pode participar das suas iniciativas, como colaboradores:

1.      os cristãos (cf. art. 53-54);

2.      os crentes de outras religiões (cf. art. 55);

3.       outras pessoas de boa vontade (cf. art. 56).

No número 53 lemos: “Os fiéis católicos que, mesmo não assumindo particulares empenhos na União, desejarem de qualquer modo partilhar do seu espírito e participar de suas iniciativas, podem tornar-se seus colaboradores”. No número 57 encontramos: “As modalidades de todo tipo de colaboração são estabelecidas pelo regulamento do Conselho Nacional de Coordenação (cf. art. 71i).

Sendo assim, podemos dizer que o TODOS, no apelo de maio, continua tendo o mesmo valor ainda hoje, porém, com o Estatuto podemos ter visibilidade como grupo organizado e, desta forma, podemos fazer coisas ainda mais ousadas, graças ao Estatuto e ao reconhecimento público na Igreja e na sociedade civil.

“Deus em tudo e sempre”!



[1] Na sexta-feira, 9 de janeiro de 1835, após a Santa Missa celebrada no mosteiro Regina Coeli, Vicente Pallotti se sentiu chamado a instituir a obra do Apostolado Católico, para alcançar os seguintes objetivos: 1. Difundir a fé entre os não crentes; 2. Reavivar a fé nos católicos; 3. Exercer trabalhos de caridade”, mas, em maio do mesmo ano, ele, juntamente com os seus colaboradores, divulgou o “Apelo ao povo” (OOCC X, pp. 196-201).

[2] Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do Papa Francisco, 2013, n. 20.

[3] VATICANO II, Mensagens, discursos, documentos, Paulinas: São Paulo, 1998, p. 185, n. 38.

[4] LONDERO, Ângelo, Por uma formação cristã e palotina, Biblos: Santa Maria, 2017, p. 61-68.

[5] Bento XVI, Enciclica Deus caritas est, n. 22.

[6] Idem, n. 25b.

[7] Idem, n. 18.

[8] Idem, n. 20.

[9] Idem, n. 22.

[10] GERALDO, Denilson, La sinodalità nell’Unione dell’Apostolato Cattolico, in Apostolato Univesale, n. 47/2018, p. 39.

[11] Idem, p. 36.

[12] Observatório eclesial Brasil, Todos somos discípulos missionários (Papa Francisco e o laicato), ano nacional do laicato, 2018, Paulinas: São Paulo, p. 26.

[13] Estatuto Geral da União do Apostolado Católico (UAC), n. 1.

[14] Idem, n. 12.

[15] GERALDO, Denilson, Apostolato universale, p. 37-38

[16] Idem, p. 39.

[17] Acesso a live, dia 22/09/2021, https://www.youtube.com/watch?v=Qr-Kyd6y_J8


domingo, 6 de novembro de 2022

 

CONHEÇA O CARISMA PALOTINO – PARTE VI

 

A BEATA ELISABETA SANNA E SÃO VICENTE PALLOTTI

Pe. Valdeci Antonio de Almeida, SAC


 No dia 27 de janeiro de 2014, Elisabetta Sanna, 160 anos após sua morte, foi reconhecida pela Igreja como Beata, mas, quem de fato foi esta mulher de grande santidade? Como Deus a conduziu até São Vicente Pallotti, que tanto lhe ajudou na busca pela santificação pessoal e a configuração com o Cristo?

Elisabetta Sanna nasceu em Codrongianos (Sassari), uma das regiões da Sardenha (ilha Italiana), no dia 23 de abril de 1788. Três meses depois, ela perdeu a capacidade de levantar os braços, por causa de uma doença. Casou-se e foi mãe de cinco filhos. Em 1825, ela ficou viúva e fez o voto de castidade, tornando-se a mãe espiritual das meninas e das mulheres de sua terra.

Em 1831, ela embarcou para uma peregrinação à Terra Santa, a qual foi conduzida por seu diretor espiritual, que a estimava tanto. Nesta viagem, ela acabou chegando em Roma, e não pode retornar, devido à graves distúrbios físicos e muito menos prosseguir rumo a terra Santa. Diante disso, quis a providência divina que o sacerdote Vicente Pallotti tivesse contato com ela.

Padre Giuseppe Valle, seu espiritual, com quem Elisabetta havia confiado para viajar com ela à terra Santa, o qual a dirigia espiritualmente na Sardenha tinha começado a ser acompanhado espiritualmente por Vicente Pallotti, padre Giuseppe havia comentado com Elisabetta da santidade de Vicente, desde então Elisabetta queria conhecê-lo devido a sua fama de santidade, porém, o próprio Giuseppe apontou as dificuldades que ela encontraria para se comunicar com Pallotti por conta do dialeto codrongiano. Mas, quis a providência divina que a beta fosse conduzida até Pallotti, no dia 11 de junho de 1832, quando ela participava de uma procissão, que saia da Basílica de São Pedro, e terminava na Igreja da Rotonda. Como Elisabetta não conhecia bem as ruas de Roma e ao finalizá-la, ela se viu perdida e sozinha na noite romana. Visto que ela só falava o dialeto sardo, ninguém conseguia comunicar-se com ela, então, chorando, começou a andar sem rumo. Em um determinado momento, ela parou em frente a uma das Igrejas romanas e viu um sacerdote com um chapéu debaixo do braço, ao receber o olhar do santo sentiu-se confiante e sem que se desse conta, ela já estava diante da basílica de São Pedro.

No dia seguinte ao ocorrido, padre Giuseppe, após conversar com Pallotti, confirmou a Elisabeta que o padre que ela tinha encontrado era de fato o santo romano. Sabedora disso, em seguida foi à missa na Igreja do Espírito Santo dos napolitanos e lá deparou-se com o padre Vicente como celebrante. Após a missa, ela foi falar com o sacristão a fim de se confessar com o referido padre. Ao receber a resposta negativa do sacristão, Pallotti interveio e atendeu o seu pedido, e mesmo ela falando em sardo, o santo a compreendeu não somente o que dizia, bem como entendeu o estado de espírito no qual ela se encontrava. A partir de então, Pallotti tornou-se seu diretor espiritual.

Pallotti via nela uma mulher apostólica, mesmo sendo ela leiga, analfabeta, doente, estrangeira e pobre. Ele via nela o apostolado do sofrimento, da oração, da caridade, da pobreza e, sobretudo, da imitação de Cristo. Desta forma, Pallotti a aconselhava a glorificar a Deus em seu próprio estado e condição, pois, era eficaz e agradável a Deus. Com grande alegria, ela dedicava a sua vida a estes campos de apostolado aos quais Pallotti a tinha indicado. Além disso, ela se inscreveu imediatamente na fundação da União do Apostolado Católico, fundada por seu diretor espiritual e da qual tornou-se uma fervorosa animadora.

De Pallotti, ela aprendeu a amar ainda mais profundamente a Jesus Eucarístico e a melhor participar da Santa missa. Assim como Pallotti, ela cresceu no amor a Jesus Eucarístico, passando horas a fio em profunda adoração, diante do sacrário das Igrejas. Ela seguia e ajudava em todas as obras de Pallotti, como a Pia Casa de Caridade, o Conservatório Carolino, a Igreja de San Salvatore in onda e à comunidade que ali morava. Ela demonstrava um profundo amor e dedicação à obra de Pallotti, que parecia como que se ela mesma fosse a fundadora. Elisabetta fazia todo o possível para ajudar a UAC desde costura a esmola, de suas orações aos seus sacrifícios, de coisas simples a magníficos paramentos que fazia. Ela doou inteiramente a sua vida a Cristo, por meio da União do Apostolado Católico.

Padre Rafael Mélia referia-se a ela como uma mãe muito solícita da recém fundada comunidade de Pallotti. Ela abria mão de seu próprio bem-estar, para ajudar aos que mais precisavam, preferindo viver na penúria. Ela foi como que mãe dos membros da União e zelava pela caridade e amor fraterno dentro da mesma. Quando ela dicou mais debilitada, sempre algum irmão de san Salvatore in onda ia visitá-la, para ver se precisava de algo, mas, sempre saia com uma boa quantidade de verduras e alimentos, pois, ela mesma já não podia sair para dar aos pobres.

Com a morte de Pallotti, surgiu certa discórdia entre seus filhos e ela teve medo que a congregação se dissolvesse, mas, com o seu grande zelo e amor, conseguia conciliar sempre os padres que estivesse em desacordo. Certa vez, ela pediu ao Padre Vaccari que se demitisse do governo geral da Sociedade, pois o mesmo não se encontrava mais em condições físicas para tal.

Por meio do padre Paolo Scapaticci, sabemos de uma declaração que São Vicente Pallotti teria feito na qual ele dizia que duas pessoas foram de fundamental importância para o desenvolvimento da União do Apostolado Católico, essas duas pessoas são Elisabetta Sanna e o Cardeal Lambruschini.

Portanto, podemos dizer que a bondade de Deus fez com que duas pessoas com fama de santidade se encontrassem e colaborassem mutuamente, para a santificação e edificação um do outro e da União do Apostolado Católico. Peçamos a intercessão deles aos membros da União, para que juntos também cumpramos a missão de evangelizar, levando o amor e a esperança a todos que estão sedentos para ouvir a Palavra de Deus.

“Deus em tudo e sempre”!