sexta-feira, 6 de abril de 2012

Tarefa para os jovens



Fr. Wellington Wesley Paiva, SAC.

 Por muitos anos, os jovens buscaram e lutaram por seus direitos. Sem desistir, os jovens movimentaram-se, procuraram e encontraram o seu espaço na igreja e na sociedade. A partir do Papa João Paulo II, a visão que se tinha do jovem foi mudando. O jovem foi ganhando responsabilidade – não que não tinham, mas é que não acreditavam em seu potencial juvenil – e consequentemente conseguiu, com muito esforço, mostrar que é digno de tal confiança. Observamos isto nas palavras do Santo Padre Bento XVI, no dia 27 de outubro de 2011, no qual, não só foi confiada aos jovens uma tarefa dentro da Igreja, como também, os jovens receberam de todos os lideres religiosos, na voz de nosso Pastor, uma tarefa de papel moral/social.

Para os jovens sortudos, que puderam assistir ao encontro inter-religioso de oração pela paz em Assis (Itália), fica a tarefa de repassar aos demais jovens que, por um motivo ou outro, não puderam prestigiar este maravilhoso evento, a mesma obrigação deixada pelo Santo Padre:
  “Nós confiamos a causa da paz especialmente aos jovens. Possam eles contribuir para libertar a história dos falsos caminhos nos quais se desvia a humanidade.”

É importante enfatizar dois termos usados por Bento XVI.   
 Confiança: confiança não é dada a qualquer pessoa, mas sim, as que são dignas dela. O encargo recebido pela confiança é o de zelar, buscar, defender, promover. A confiança não é um simples sentimento que se tem por qualquer um, é um valor empregado àqueles que a honrarão. O intrigante é notar que o verbo confiança, vem acompanhado do pronome nós. O Papa fala em nome de todos os líderes religiosos, e os líderes religiosos representam quase toda a nação.  

O Papa estava à frente, naquele momento, de todos os líderes religiosos do mundo, e dá, em nome de todos eles, o legado aos jovens de regentes da paz. Tarefa esta, nenhum pouco fácil, mas não impossível.

 Outro termo usado é o Especialmente: é desejo de todos que os jovens tomem cunho nesta batalha pela paz. É de caráter especial aos jovens a busca pela paz. 

 O papel do jovem é o de mudar a história, como enfatiza Bento. A tarefa de mudar o curso da história não é algo prestigioso, mas é necessária e se faz urgente. A paz se encontra perdida em meio aos emaranhados de defeitos promovidos por nossos egoísmos.
 A paz é um tema que para alguns pode ser banal. Muitos pensam que não é proveitoso discutir sobre isso. Entretanto, se não tomarmos as rédeas e fazermos a diferença, o mundo ficará na mesmice.

 No momento em que a falta de paz tocar os nossos calcanhares, será tarde correr atrás dela. Estamos em alerta. Os líderes religiosos do mundo depositam nos jovens suas confianças.

 Jovens, não decepcionem estes homens de caráter, que buscam jovens sadios, como os de antes, que lutavam por seus direitos. Mostremos a eles que os jovens de hoje têm o rosto de Deus e façam valer esta preciosa confiança depositada em todos vocês, jovens de fé.

 O saudoso Pe. Léo dizia aos jovens: jovens, sejam firmes e corajosos!
 Mostrem, sem medo, que a juventude de hoje tem um ideal, tem força de vontade, e luta por um mundo melhor.
E não se esqueçam: a diferença está em cada um de nós, não esperem o outro para que possam movimentar-se. Se cada um der o passo inicial e o outro também der, movimentaremos juntos em busca deste ideal.

“De braços dados iremos juntos nesta estrada que não tem fim.
A juventude unida com amor estará feliz.
Fazendo bem diferente com Jesus Cristo no coração.
A juventude unida, tornando o povo mais cristão.
Sempre cantando a alegria que traz no brilho de um olhar.
O jovem no horizonte buscando amor, esperança e Paz.
No peito, amor de Cristo que une a todos e que faz amar.
O jovem vivendo a vida e não tendo medo de sonhar.
Jovem, não fique desanimado, busque a Cristo no seu irmão.
Mostrando a todo mudo o amor do seu coração.
Imitando a Jesus Cristo que deu a vida por todos nós
O jovem não teme a dor quando quer doar amor.”
 Jovens, honrem este chamado que Cristo faz a vocês, por meio da voz do nosso pastor Bento XVI. O mundo precisa de todos, e a confiança foi depositada especialmente em vocês, jovens de fé, que tem vigor e atitude. Procuremos levar a paz ao mundo, mudando o curso da história.

Missa do lava-pés

Homilia

Estamos celebrando, hoje, a festa da Instituição da Eucaristia, da Instituição do Sacerdócio ministerial e da vivência fraterna da caridade, com a cerimônia do lava-pés.
Qual é o verdadeiro sentido da eucaristia para a vida do cristão? A eucaristia nada mais é que a celebração do amor e da entrega de um Deus repleto de amor pelo seu povo. É um encontro de amor entre amigos íntimos. É um encontro que gera vida e compromisso.
Esta amizade só foi possível porque os seus seguidores aceitaram o convite do Senhor para tomarem parte da sua vida, nascendo assim o discipulado, e discípulo é aquele que segue um mestre para aprender tudo o que ele tem para ensinar. Eles não entendiam muita coisa do que o amigo falava, mas estar ao lado dele era a maior alegria, pois a vida tomava outro sentido.
Certa vez, disse Jesus: “Vós sois meus amigos, se fizerem o que eu vos mando”. Nós aqui também somos os amigos de Jesus, seus discípulos e estamos aqui porque nos sentimos tocados pelo seu amor e queremos participar do convite da sua Ceia, da sua festa, carregada de amor e de fé. Por isso, nesta festa devemos portar o traje recomendado pelo Mestre, para que não ouçamos a sua repreensão, apresentada pelo evangelho: “não vos conheço”. E qual seria o motivo do Senhor da festa dizer “não vos conheço” e pedir para que sejamos retirados do seu banquete?
Isto é mais do que óbvio. É por causa da teimosia do ser humano de não aceitar as suas ordens e recomendações e querer ter os mesmos direitos de todos, servindo a dois senhores; tal discípulo não aceita as teses do mestre, mas quer impor as suas a respeito da vida, dizendo: sempre fui assim, não posso mudar, dando a entender que quem deve mudar é o dono da festa. Eu sou eu e quero fazer valer os meus direitos.
A Bíblia nos ensina que Deus é ciumento, não aos moldes do ciúme humano que quer possuir o que o outro tem, e por não possuir as mesmas coisas se sente inferiorizado. O ciúme de Deus é o de querer possuir a pessoa por inteiro. Deus não quer partes e nem o que sobrou, a exemplo da oferta de Caim. Ele quer tudo o que lhe pertence, pois tudo é dele e deve voltar para Ele. Ou tudo ou nada. Ele próprio doou tudo de si, não sobrou nada. Por isso pode exigir: “Tu és meu” (Is 41,9).
O ser humano é muito engraçado. Ele se entusiasma por qualquer coisa. Às vezes possui uma mente fixa em coisa sem nenhum valor. É capaz de morrer por algo sem sentido. Ele se confunde pegando a parte pelo todo, e segundo a lógica formal, é um erro. Qual parte de uma pessoa é a mais importante? Deus olha a pessoa na sua integralidade, por isso encontramos na Sagrada Escritura a expressão: “Deus não se deleita com os músculos do homem”. Ele admira o ser humano do jeito que ele é, sua imagem e semelhança, com a possibilidade de ser mais, de atingir a plenitude. Deus quer que sejamos mais, que não optemos por aquilo que é mesquinho e depreciativo. Ele quer que amemos os outros e também nos amemos, nos aceitemos, nos perdoemos a nós mesmos. Deus surpreende as pessoas como o fez na ceia, com o lava-pés. Um gesto que só poderia vir dele mesmo.
Ao participarmos da festa de hoje podemos também ser surpreendidos por algo novo, indizível. Aos apóstolos, o novo foi a entrega do pão: o corpo do Senhor, alimento que nos conduz à vida eterna. Outra coisa inesperada foi a delegação de todo o seu poder para que a Igreja pudesse agir em seu nome e que repetisse o seu gesto de amor, principalmente, na celebração da eucaristia, na missa: “Fazei isto em memória de mim”. A única coisa que ele espera do discípulo é que creia na sua palavra. O poder concedido é divino e quem age é o Espírito Santo, que recordará tudo aquilo que fora dito pelo Filho amado. “Esse é meu filho amado, escutai o que ele diz”. Como está a nossa escuta da Palavra de Deus?
A comunidade de fé acolheu esta sua ordem e continua celebrando até que, o mesmo Senhor, volte definitivamente para nos reconduzir à sua glória.
Aquele que, no alvorecer de domingo, aparecerá ressuscitado não quer jamais romper esta amizade. Sua amizade é para sempre. A sua interrupção só acontecerá, se nós, por uma decisão livre optarmos por seguir outro caminho, como aconteceu com Judas. O Senhor, em um gesto de amor o presenteou, na ceia, dando-lhe um pedaço de seu pão, mas nem isso lhe tocou o coração, pois dentro dele já não havia mais espaço para a misericórdia; o mal cegou seu coração e bloqueou sua mente e suas emoções. Estava irreconhecível. Por isso disse Jesus: “o diabo entrou no seu coração”.
O amor de Deus, por nós, é tão grande que não é capaz sequer de impedir a nossa própria autodestruição. Ele apenas sugere e propõe um novo caminho, mas cabe a nós decidirmos ou não por ele. O episódio da traição de Judas mostra que o respeito pela pessoa deve imperar nas nossas relações, custe o que custar. Pensemos nisto, nesta noite, sobre a maneira como agimos com aquele que amamos. O nosso amor é de posse ou um amor de doação? Amamos porque amamos, diz Santo Agostinho, ou amamos porque queremos possuir e privar o outro da sua liberdade e ainda ficamos deprimidos e zangados porque o outro não nos retribuiu com amor.
O caminho do desamor é um caminho curto e ao mesmo tempo desastroso, não gera a vida, mas a morte. O Senhor quer, com esta missa que a vida resplandeça, mesmo quando haja o espírito de vingança e de morte. Não importa se não fomos amados como gostaríamos. Importa que queremos seguir nosso caminho amando como Cristo nos amou. E amando como ele teremos paz, saúde de corpo e alma. Só assim compreenderemos o que significa: “quero misericórdia e não sacrifício”.
Pe. Valdeci de Almeida, SAC