Estamos celebrando, hoje, a festa da Instituição da Eucaristia, da Instituição do Sacerdócio ministerial e da vivência fraterna da caridade, com a cerimônia do lava-pés.
Qual é o verdadeiro sentido da eucaristia para a vida do cristão? A eucaristia nada mais é que a celebração do amor e da entrega de um Deus repleto de amor pelo seu povo. É um encontro de amor entre amigos íntimos. É um encontro que gera vida e compromisso.
Esta amizade só foi possível porque os seus seguidores aceitaram o convite do Senhor para tomarem parte da sua vida, nascendo assim o discipulado, e discípulo é aquele que segue um mestre para aprender tudo o que ele tem para ensinar. Eles não entendiam muita coisa do que o amigo falava, mas estar ao lado dele era a maior alegria, pois a vida tomava outro sentido.
Certa vez, disse Jesus: “Vós sois meus amigos, se fizerem o que eu vos mando”. Nós aqui também somos os amigos de Jesus, seus discípulos e estamos aqui porque nos sentimos tocados pelo seu amor e queremos participar do convite da sua Ceia, da sua festa, carregada de amor e de fé. Por isso, nesta festa devemos portar o traje recomendado pelo Mestre, para que não ouçamos a sua repreensão, apresentada pelo evangelho: “não vos conheço”. E qual seria o motivo do Senhor da festa dizer “não vos conheço” e pedir para que sejamos retirados do seu banquete?
Isto é mais do que óbvio. É por causa da teimosia do ser humano de não aceitar as suas ordens e recomendações e querer ter os mesmos direitos de todos, servindo a dois senhores; tal discípulo não aceita as teses do mestre, mas quer impor as suas a respeito da vida, dizendo: sempre fui assim, não posso mudar, dando a entender que quem deve mudar é o dono da festa. Eu sou eu e quero fazer valer os meus direitos.
A Bíblia nos ensina que Deus é ciumento, não aos moldes do ciúme humano que quer possuir o que o outro tem, e por não possuir as mesmas coisas se sente inferiorizado. O ciúme de Deus é o de querer possuir a pessoa por inteiro. Deus não quer partes e nem o que sobrou, a exemplo da oferta de Caim. Ele quer tudo o que lhe pertence, pois tudo é dele e deve voltar para Ele. Ou tudo ou nada. Ele próprio doou tudo de si, não sobrou nada. Por isso pode exigir: “Tu és meu” (Is 41,9).
O ser humano é muito engraçado. Ele se entusiasma por qualquer coisa. Às vezes possui uma mente fixa em coisa sem nenhum valor. É capaz de morrer por algo sem sentido. Ele se confunde pegando a parte pelo todo, e segundo a lógica formal, é um erro. Qual parte de uma pessoa é a mais importante? Deus olha a pessoa na sua integralidade, por isso encontramos na Sagrada Escritura a expressão: “Deus não se deleita com os músculos do homem”. Ele admira o ser humano do jeito que ele é, sua imagem e semelhança, com a possibilidade de ser mais, de atingir a plenitude. Deus quer que sejamos mais, que não optemos por aquilo que é mesquinho e depreciativo. Ele quer que amemos os outros e também nos amemos, nos aceitemos, nos perdoemos a nós mesmos. Deus surpreende as pessoas como o fez na ceia, com o lava-pés. Um gesto que só poderia vir dele mesmo.
Ao participarmos da festa de hoje podemos também ser surpreendidos por algo novo, indizível. Aos apóstolos, o novo foi a entrega do pão: o corpo do Senhor, alimento que nos conduz à vida eterna. Outra coisa inesperada foi a delegação de todo o seu poder para que a Igreja pudesse agir em seu nome e que repetisse o seu gesto de amor, principalmente, na celebração da eucaristia, na missa: “Fazei isto em memória de mim”. A única coisa que ele espera do discípulo é que creia na sua palavra. O poder concedido é divino e quem age é o Espírito Santo, que recordará tudo aquilo que fora dito pelo Filho amado. “Esse é meu filho amado, escutai o que ele diz”. Como está a nossa escuta da Palavra de Deus?
A comunidade de fé acolheu esta sua ordem e continua celebrando até que, o mesmo Senhor, volte definitivamente para nos reconduzir à sua glória.
Aquele que, no alvorecer de domingo, aparecerá ressuscitado não quer jamais romper esta amizade. Sua amizade é para sempre. A sua interrupção só acontecerá, se nós, por uma decisão livre optarmos por seguir outro caminho, como aconteceu com Judas. O Senhor, em um gesto de amor o presenteou, na ceia, dando-lhe um pedaço de seu pão, mas nem isso lhe tocou o coração, pois dentro dele já não havia mais espaço para a misericórdia; o mal cegou seu coração e bloqueou sua mente e suas emoções. Estava irreconhecível. Por isso disse Jesus: “o diabo entrou no seu coração”.
O amor de Deus, por nós, é tão grande que não é capaz sequer de impedir a nossa própria autodestruição. Ele apenas sugere e propõe um novo caminho, mas cabe a nós decidirmos ou não por ele. O episódio da traição de Judas mostra que o respeito pela pessoa deve imperar nas nossas relações, custe o que custar. Pensemos nisto, nesta noite, sobre a maneira como agimos com aquele que amamos. O nosso amor é de posse ou um amor de doação? Amamos porque amamos, diz Santo Agostinho, ou amamos porque queremos possuir e privar o outro da sua liberdade e ainda ficamos deprimidos e zangados porque o outro não nos retribuiu com amor.
O caminho do desamor é um caminho curto e ao mesmo tempo desastroso, não gera a vida, mas a morte. O Senhor quer, com esta missa que a vida resplandeça, mesmo quando haja o espírito de vingança e de morte. Não importa se não fomos amados como gostaríamos. Importa que queremos seguir nosso caminho amando como Cristo nos amou. E amando como ele teremos paz, saúde de corpo e alma. Só assim compreenderemos o que significa: “quero misericórdia e não sacrifício”.
Pe. Valdeci de Almeida, SAC
Ao ler o texto, chequei á conclusão do quanto me falta para ser uma verdadeira discípula de Jesus. O quanto me falta para amar realmente como Jesus amou e principalmente o quanto me falta para amar o meu próximo como Jesus falou que eu deveria amá-lo, ou seja, da mesma forma que Ele me ama. É uma busca constante sem jamais esmorecer, mas como sou humana, e as vezes as coisas ficam difíceis, desanimo, e por isso tenho dúvidas se um dia vou ser digna do Seu reino! Ser discípulo de Jesus é uma tarefa árdua mas tenho certeza de que quem consegue chegar lá, encontrará a felicidade verdadeira.
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