domingo, 14 de fevereiro de 2010

Temas de espiritualidade

O combate espiritual

A tradição judaico-cristã apresenta a vida nesta terra como um combate espiritual (Jó 7,1; Ef 6,10-17). A pessoa espiritual deve lutar contra o mal, a começar pelo esforço para dominar suas próprias paixões desordenadas. Santo Inácio, de maneira prática, nos ensina a combater a força do mal que quer nos separar do amor de Cristo. Apresenta as duas bandeiras.
O Pastor de Hermas diz que é próprio do nosso antigo adversário tentar confundir os nossos conceitos do bem e do mal.

Santo Inácio, porém, nos ensina a enfrentar sem medo as tentações do inimigo, fazendo diametralmente oposto ao que a tentação lhe insinua.
O mal não suporta a luz. Por isso busca a escuridão, o segredo, a ambiguidade das sombras. O inimigo age com falsidade e pede segredo. Por isso, Santo Inácio fala da necessidade da pessoa que pede ajuda ser aberta com o confessor ou pessoa espiritual de sua confiança. “Do mesmo modo, o inimigo da natureza humana quer e deseja que as astúcias e insinuações sejam recebidas e conservadas em segredo pela alma justa. Mas muito lhe pesa quando ela as descobre seu bom confessor, ou a outra pessoa espiritual que conheça seus enganos e malícias, pois conclui que não poderá levar adiante sua malicia começada, uma vez que foram descobertos seus manifestos enganos”. Santo Afonso de Ligório dizia: “Tentação declarada, tentação superada”. Ao ser partilhada, a tentação tende a diminuir, tornando-se mais suportável. No entanto, para que a abertura de consciência seja eficaz, e não contraproducente, deve ser feita ao confessor ou a outra pessoa espiritual. Se a pessoa tentada confidenciar sua tentação com pessoa não qualificada, não só não encontrará remédio, como poderá contagiar a outra pessoa, que por sua vez confidenciará a tentação a outras pessoas, provocando uma espécie de epidemia espiritual.

O inimigo ataca pelo ponto mais fraco

O inimigo da natureza humana nos rodeia, observando nossas virtudes teologais, cardeais e morais. E nos ataca, procurando vencer-nos, onde nos acha mais fracos e necessitados para a salvação eterna.

Portanto, a pessoa deverá precaver-se contra os ataques do inimigo, reforçando os seus pontos mais vulneráveis. Deve tomar consciência das próprias fragilidades, agradecer a misericórdia de Deus e emendar-se daqui para a frente.

O diálogo sincero e aberto com o acompanhante espiritual poderá ajudar a reconhecer os pontos fracos e estabelecer uma firme estratégia para combatê-los.
Todos os seres humanos, sem exceção, são tentados pelo mau espírito e atraído pelo bom espírito. O próprio Jesus foi tentado (Mt 4,1-11), mas ele rejeitou as insinuações do inimigo e seguiu as moções do Espírito. Não é outra a atitude que deve ter o cristão.

O inimigo é um estrategista esperto, que adapta as suas táticas e tentações ao nosso modo de ser: a uns meterá medo; a outros, os fará ter vergonha de abrir sua consciência com quem o poderia ajudar; e a todos os rodeará, para poder atacá-los pelo ponto mais frágil. A atitude da pessoa deverá ser a de fazer o contrário que o inimigo lhe propõe.

Portanto, neste tempo quaresmal, todos somos chamados a travar um combate espiritual contra tudo aquilo que nos distancia do amor a Deus e aos irmãos. Rezar e fazer penitência é a melhor maneira de iniciar nosso combate contra todas as potências do mal.