sábado, 13 de fevereiro de 2010

QUARESMA, TEMPO DE JEJUM, PENITÊNCIA E ORAÇÃO




Jejum, penitência e oração são totalmente destituídos de valor e sentido se não forem vivificados pela caridade e acompanhados das obras de justiça. Assim, o jejum verdadeiramente agradável a Deus consiste em libertar-se do egoísmo e prestar alívio e ajuda ao próximo. A Igreja, abolindo quase inteiramente o preceito do jejum exterior, entendeu empenhar-se com maior força em favor dos pobres e humildes. Durante a Quaresma, o presente convite à prática da caridade está em estreita relação com o convite ao jejum. A Quaresma ajuda-nos a descobrir as necessidades do próximo e lembra-nos que podemos encontrar a maneira de ir-lhe ao encontro, renunciando a algo de pessoal. O jejum, cumprido por amor de Deus e dos seres humanos, é sinal do desejo de conversão.
O jejum, além de sinal do desejo de conversão, é também sinal de espera. O próprio Jesus, como os discípulos de João no deserto, assumindo em si a longa espera do esposo. Chegado este, o jejum não em mais sentido. Depois da ressurreição retomará seu significado, na medida em que o tempo da Igreja, entre o momento em que lhe for tirado o esposo e o seu retorno, tem ainda uma dimensão de preparação e construção do Reino. O jejum torna-se, então, expressão de tristeza pela separação do esposo e privação da sua presença física, meio para ter o coração livre de vaidades que o impedem de ser disponível aos apelos de Deus, participação nos sofrimentos dos irmãos, nos quais perdura o sofrimento de Cristo. Quando Ele voltar, será então possível gozar plenamente dos bens criados. O jejum quaresmal tem uma conotação eclesial: está ligado aos dias que a Igreja, na terra, dedica à espera e à preparação.
A Igreja Católica, no Brasil, de maneira criativa, ajuda os fiéis a viverem a prática da fé e da solidariedade humana, refletindo alguns temas de interesse nacional durante o período quaresmal com a Campanha da Fraternidade. Este ano estamos refletindo sobre “Economia e vida”. “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”.
A Campanha da Fraternidade Ecumênica visa a fortalecer os laços de fraternidade e de cooperação do povo cristão a serviço da transformação da sociedade brasileira para que seja mais justa e solidária.
Desejamos a todos uma boa preparação para a Páscoa do Senhor.
“Que a vida de Cristo seja a minha vida”. (S. V. Pallotti)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Os Salmos


O povo reza a sua vida

Introdução:

O ser humano sempre sentiu necessidade de rezar. Todos os povos, de acordo com sua religião e cultura, desenvolveram diversos modos de rezar.
Os Salmos foram um modo encontrado pelos Judeus para louvarem a Deus. Mas, também os vizinhos dos Judeus rezavam: Cananeus, Egípcios, etc...
A tradução da palavra “Salmo” significa “Louvor”.
E são vários os tipos de Salmo que nós temos, no total são 150. Neles nós encontramos Lamentações, Cântico de Penitência, Súplica, Pedidos de Socorro, Hinos de alegria e felicidade, Ação de Graças, Louvores, Orações fortes e intensas...

Como os Judeus rezavam os Salmos?

Na liturgia do Templo de Jerusalém. E entre o pessoal do Templo haviam cantores. Nas festas principais eles cantavam e dançavam.

Quem foram os autores dos Salmos?

Os títulos atribuem 73 Salmos a Davi, 12 a Asaf, 11 aos filhos de Coré e a outros autores isolados. Mas isso não quer dizer que foram realmente Davi, Asaf, Coré que fizeram os Salmos. Na verdade, a Bíblia sempre gostou de relacionar o conteúdo de um Salmo com a vida de um personagem importante. Assim, Davi era quem reunia as qualidades mais perfeitas de um orante. No entanto, nós sabemos que foram os cantores do Templo que compuseram quase todos os Salmos.

Quando foram escritos os Salmos ?

A atividade poética durou vários séculos. Os principais períodos são: 800 a.C. época dos reis; 550 a.C. no Exílio; 500 a.C. retornou do Exílio e reconstrução do Templo.

Como se formou a Coleção dos Salmos?

Os Salmos não nasceram prontos numa coleção. Foram feitos em épocas diferentes. Passou-se muito tempo até que se concluísse toda a obra. Mas existe uma diferença importante: Na numeração dos Salmos existe uma divergência entre o texto hebráico e a versão em Latim. Esta divergência vem do texto hebráico que dividiu o Salmo 9.

O que os Salmos expressam, o que manifestam?

Os Salmos são o reflexo da vida de um povo, de sua caminhada, de suas alegrias e tristezas. Um poeta escreveu um dia: “Os Salmos são um pequenino livro, 150 espelhos de nossas revoltas e de nossas felicidades, de nossas agonias e de nossas ressurreições. Mais do que um livro, é um ser que vive e que fala, que sofre, que geme e que morre, que ressuscita e que canta”.
Assim, ao rezarmos os Salmos, todos os nossos gritos de homens, a admiração diante da natureza e do amor, a angústia diante do sofrimento e da morte, o esmagamento na sociedade, a revolta diante do absurdo do mundo, todos esses gritos da humanidade que são nossos gritos – nós os encontramos nos Salmos, oferecidos à nossa luz com palavras de Deus. Eles nos ensinam que mesmo nas horas mais sombrias de nossa vida, Deus está presente e grita conosco.
Mas é preciso que não esqueçamos de ver nos Salmos uma verdadeira oração. Quando a gente deixa de orar, de rezar, de confiar em Deus com toda a força de nosso coração, a fé vai se atrofiando e as atividades do dia à dia vão atrapalhando nossa necessidade de rezar.
O povo Judeu sobreviveu na fé porque rezava, porque via a presença de Deus no seu dia a dia, nos acontecimentos. Aí vem a pergunta:

Será que estamos procurando perceber Deus no nosso cotidiano ?
Conclusão disso tudo: - Os Salmos são a flor e o fruto de um longo romance mantido entre Deus e o homem. O homem busca Deus e Deus busca o homem. É como o encontro de dois rios, só que se trata de um encontro de vida, de uma vida à dois.
De repente, surgem entre os dois desavenças, incompreensões, lamentações, queixas, reconciliações, como na convivência normal de duas pessoas humanas.
Não raro, na Bíblia, Deus acaba se aborrecendo com o homem, e também o homem se cansa de Deus, fica desnorteado com a ausência e o silêncio de Deus. Muitas vezes o homem cai na tentação de deixar o verdadeiro Deus e correr atrás de outros mais gratificantes.
Mas, apesar de tudo, os dois voltam a se encontrar para continuarem juntos a percorrer, um ao lado do outro, o entinerário da vida e da história. Dessa convivência na fé nasce a amizade entre os dois.

Quais são as atitudes do Salmista em oração?

Às vezes, o salmista sobe ao templo para chorar suas enfermidades, com palavras vivas e expressivas: Sl 38 ou 39.
Outras vezes, o salmista é acusado injustamente. Os acusadores o cercam implacavelmente com uma matilha de lobos.

Nota importante: Faltava ainda no tempo em que os Salmos foram feitos a noção de prêmio, de recompensa, de ressurreição pessoal após a morte. A recompensa era a vida do povo. Por isso, existe tanto nos Salmos a ideia de que o ímpio e o injusto devem receber, imediatamente, o castigo de Deus.
Mas nem tudo é desgraça na vida. O salmista também sobe com um ramalhete de louvores e de glória, recordando os feitos gloriosos do Senhor em favor de seu povo, ou porque recebeu, pessoalmente, a benção do Senhor no campo da saúde, da lavoura, da prosperidade. É o caso do Sl 134.

Outras vezes o salmista não busca nada, nem pedir, nem agradecer, mas simplesmente adorar, e isso também faz parte da vida.

O Salmo 138 resume a experiência mais profunda de Deus:

- (1 a 6) Não podemos escapar de Deus
- (7 a 12) Não há para onde ir. Deus está em todo lugar, até mesmo no “abismo” (xeol). Deus me procura com amor (10).
- (13 a 18) Nada em mim escapa à Deus. Ele ama tudo em mim.
- (19 a 24) O inimigo de Deus é a impiedade.

A bondade amorosa de Deus para conosco é tão grande que ele está sempre protegendo o homem fiel. Deus é nosso Pastor. Por isso agora nós vamos cantar o Salmo 22. O pastor é a imagem perfeita de um Deus que nos ama e nos protege. O banquete é preparado para nós pelo próprio Deus. O óleo de ungir a cabeça era o gesto mais cortez que se poderia dar a um hóspede que chega em casa.
Muitos Salmos falam de felicidade, expressam a alegria de viver junto a Deus, como por exemplo o Salmo 1.
Reze todos os dias um salmo que mais lhe agrada e veja como descobrirá o amor que Deus tem por você.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

VIVA MELHOR - TENHA UM PROJETO DE VIDA

MEU PROJETO PESSOAL

O projeto pessoal de vida é deixar-se questionar pelas atitudes de Jesus, pela Palavra e pela busca do novo alimento.
“Procurai a Javé enquanto pode ser achado, invocai-o enquanto está perto. Abandone o ímpio o seu caminho e o homem mau os seus pensamentos, e volte para Javé, pois terá compaixão dele, e para o nosso Deus, porque é rico em perdão” (Is 55,1-7).
A vida espiritual humana foi sempre um caminho árduo e exigente. Buscar uma vida de perfeição, à imitação de Cristo, é preciso que haja despojamento de si. A busca de santidade não acontece de um dia para o outro, mas passa por um longo processo de amadurecimento espiritual. Para isso, é necessário traçar um projeto de vida que esteja de acordo com a vontade de Deus, revelada em Jesus Cristo.
O desejo de Deus provoca nas pessoas atitudes constantes de mudança de vida, tanto interna quanto externamente. Não é um sentimento passageiro, um desejo infantil, um ideal fútil. É um fogo que queima por dentro e deixa a inquietação da busca (Ex 3,2-6).
São Vicente Pallotti deixou bem claro, em seus escritos, que, para se atingir a perfeição é preciso ter, além da graça de Deus, muito esforço pessoal. Por isso ele diz:
“Por amor de nosso Senhor Jesus Cristo, devemos viver sempre ocupados numa vida de oração e de recolhimento, para a maior glória de Deus e para maior santificação nossa e do próximo” (OO CC III, 76).
“Desconfie sempre de si mesmo e das suas forças, mas abandone-se com perfeita confiança a Deus. Nada deve temer, pois Deus dirigirá tudo, quando nós fazemos tudo com a plena certeza de que nada podemos sem Ele” (OCL II, 335).
“Diante de Jesus entregue toda sua vida, história passada, presente e futura. Tudo pertence a Deus. Ele conhece tudo profundamente, porque ele perscruta o íntimo do nosso ser. Entregue-se inteiramente em suas mãos para poder ser alimentado por sua substância divina” (OO CC X, 452).
“Sinto que Deus quer transformar-me nele para que eu seja uma coisa só com ele” (OO CC X, 694-698). “Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor” (Jo 15,9). “Cristo me nutre com o seu próprio corpo, para que eu possa ser transformado nele” (OO CC X, 698).

Vivemos desejando um futuro que ainda não possuímos. Desejar faz parte da história do homem que luta entre o que é e o que se deseja ser.
O encontro com os místicos faz compreender que a necessidade de Deus só pode ser entendida por aqueles que se decidem a percorrer o caminho da fé, entregando-se totalmente à sua ação transformadora.
“Eu estou disposto a escutar a voz de Deus, que chama a ser perfeito e a caminhar em sua presença” (Chama viva de amor 2,14).
Quais são os medos, os ídolos que me impedem de iniciar o caminho de entrega a Deus e de viver a sua palavra?
“Vós fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para a carne, mas, pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros” (Gl 5,13s).
O bem e o mal se põem à nossa frente e somos convidados a fazer a opção. Carregamos vida afora as conseqüências das escolhas que fazemos (Dt 11,26-28).
A porta do coração não se abre por fora, mas por dentro. “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20). “Eis que eu pus diante de ti uma porta aberta que ninguém pode fechar” (Ap 3,8).

A nossa vontade e liberdade é a única chave que permite abrir o coração, para que Deus possa entrar e ficar conosco.
Acolhendo com fé e amor a Palavra de Jesus, vamos descobrindo que ele tem um projeto amoroso, individual, pessoal para cada um de nós. Numa sociedade anônima, despersonalizada em que nos sentimos um número e uma engrenagem na máquina da produtividade, é importante resgatarmos a nossa individualidade, sentirmo-nos únicos e amados por Deus.
No relacionamento pessoal com Jesus, cada um se reencontra, descobre a sua identidade, norteia a própria vida. São Paulo, após o encontro com Cristo, muda toda a orientação da sua caminhada histórica. Esquece o seu passado, assume o presente e lança-se corajosamente para o futuro, chegando à maturidade cristã. Cristo se torna o centro e o único projeto de sua vida (Fil 3,9-13).
O verdadeiro conhecimento de Cristo relativiza todas as coisas e nos leva a centralizar as nossas forças no seguimento dele. Por isso todos os santos não quiseram saber mais de nada a não ser de Jesus Cristo. “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 2,21).
O projeto pessoal de vida não é outra coisa senão assumir Jesus como Caminho, Verdade e Vida em nosso cotidiano.
Os projetos não dizem respeito ao passado, mas ao futuro. Saber aonde se quer chegar e qual o objetivo a ser alcançado é o início de todo bom resultado. Os projetos devem ser fruto de um lento amadurecimento em que se levantam todos os pontos positivos e negativos, determinando-se as estratégias para atingir o fim almejado.
Não se trata só de caminhar. É preciso saber aonde se quer chegar. Quem foge sente-se como que perseguido, descontente, frustrado por não conseguir alcançar o ideal que se propôs. Tomé, apesar de estar já com Jesus, afirma: “Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos conhecer o caminho”? (Jo 14,5).
Na caminhada deve haver também uma revisão para manter o que está bem e corrigir aquilo que ainda precisa ser mudado. Nada na vida é estático.

O projeto de vida e seu significado
O projeto de vida espiritual não pode ser algo supérfluo ou decorativo, mas destinado a produzir frutos abundantes. Não vamos atuar isoladamente, mas junto com a graça do Senhor. “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).”Esta minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gal 2,20). “Permanecei inabaláveis e firmes na fé, sem vos afastardes da esperança que vos dá o Evangelho” (Cl 1,23).
O projeto de vida ajuda a pessoa a superar a crise de identidade, ou seja, a perda de sentido da vida. Com a crise, a pessoa não sabe mais quem ela é e nem o que quer ser. A crise é a perda da capacidade de identificar-se com aquilo que faz. A pessoa vive em constante desequilíbrio entre o que é e a sua realidade prática. A crise obriga a pessoa a parar e a rever suas posições, os caminhos e as idéias que se propôs a seguir. Assumir a própria identidade é assumir toda complexidade da vida humana, nos seus vários aspectos: físico, intelectual, social, sexual, cultural etc. Identificar-se quer dizer: revelar o que se é. Ao assumir a sua própria identidade, a pessoa reavivará em si a confiança em suas capacidades e potencialidades, sem depender tanto da aprovação dos outros, modificando o seu modo de pensar, de agir e de projetar-se para o futuro.
Num projeto espiritual de vida, a pessoa vai se convencendo de que tem qualidades e limites. Quanto às qualidades devem ser reforçadas e os limites trabalhados, para que possa caminhar com maior consciência e liberdade. Desta forma, cônscio de seu papel na Igreja e no mundo, poderá abrir-se à graça de Deus e solícito para responder ao seu apelo. Torna-se contemplativo na ação, pisando em base sólida do seu mundo interior, tanto no campo afetivo, psíquico e espiritual.

Oração da manhã
O projeto de vida deve ser recomeçado a cada dia que nasce. Os primeiros momentos do dia fazem com que a pessoa experimente as dádivas de Deus de poder usufruir mais este dia em meio à comunidade. É também convidada a dar um sentido a tudo o que vai acontecer e assim poder preparar o espírito, prever quais atitudes devem ser tomadas e como deverá agir em determinados circunstâncias. Com a oração da manhã um grande horizonte se abre pela frente, pois já reza com toda a Igreja e por toda a Igreja. Rezando os salmos entrará em contato com a Palavra de Deus, estará sintonizado com toda a Igreja e sentirá a voz do salmista que se eleva até Deus em meio às suas alegrias e suas decepções da vida. Preparar a agenda do dia com Deus é muito importante, pois poderá sentir ao longo do dia a sua presença e a sua misericórdia nos momentos de fracassos e incompreensões. “Fala, que teu servo escuta!” (1Sam 3,10).

O mistério da vida
Viver é estar envolto em uma nuvem de mistério. É na normalidade da vida, nos acontecimentos deste mundo, onde temos tantos planos e sonhos, Deus se revela a cada pessoa, mesmo estando envolta em meio a tantas ilusões e decepções. Por isso, resgatar o valor do tempo presente como “kairós” da manifestação viva e atuante do Senhor deve ser o objetivo de todos. Estar vigilante naquilo que se faz e se diz. É estar atento aos mínimos acontecimentos e vivê-los com intensidade, responsabilidade e amor. A espiritualidade cotidiana nos convida a essas atitudes interiores. A cada um cabe a capacidade e sensibilidade de ler tudo isso numa dimensão existencial da presença de Deus.
Um projeto de vida espiritual não pode renunciar o momento presente, que é o lugar onde a pessoa se realiza. O projeto de vida não é um luxo para poucos privilegiados, mas é simplesmente uma resposta amorosa ao próprio Deus que nos interpela quando diz: “Sede santos, porque eu sou santo” (Lev 11, 44.45; 19,2; 1Ped 1,16).

A oração como mola propulsora de todo projeto
Cada pessoa é chamada a ter um encontro pessoal com Deus através da oração, não somente comunitária, mas também pessoal, pois é ali que a pessoa deposita toda a sua vida nas mãos de Deus, de uma maneira confiante e confidente. A oração diária não pode ser o resultado da lei, mas de um profundo amor gerado ao longo da vida, através das descobertas de Deus nos pequenos acontecimentos do dia a dia. Um projeto de vida espiritual não pode esquecer-se de recolocar a oração diária no centro de onde tudo parte e aonde tudo chega.
Nos tempos modernos tudo se tornou muito difícil, as pessoas já quase não encontram mais tempo nem mesmo para fazer suas refeições da maneira como queria, porém nunca deixam de se alimentar de maneira nutritiva. Assim também acontece com aqueles que já não possuem tempo também para a oração, com momentos específicos. Todo momento é momento de oração, não importa onde está (Dt 6,4-7). Todo pequeno espaço, nos momentos mais variados, é possível manter-se na presença de Deus. Basta estar atento a isso e saber aproveitar o seu tempo para estar com o Senhor. Quem adquire uma certa familiaridade no relacionamento com Deus, mesmo diante da imprevisibilidade da vida é possível descobrir a ação de Deus que vem em nosso auxílio; basta recordar a passagem em que João reconhece Jesus na beira do lago enquanto pescavam: “É o Senhor” (Jo 21,1-7).
Rezar não significa pensar, por isso Santa Teresa diz: “a oração não consiste em muito pensar, mas sim em muito amar”. Rezar é a arte de amar.
Santo Inácio, por sua vez, diz que devemos ser contemplativos na ação. A contemplação é o permanecer com o olhar e o coração fixo em Deus. É saber ler atrás de cada acontecimento da vida, da história cotidiana, a presença viva de Deus que tudo conduz e fecunda com a graça e seu amor. O que prejudica a oração é o ativismo, não a atividade. É necessário recuperar, na vida espiritual, a dimensão do trabalho e da oração como algo indispensável para o nosso equilíbrio espiritual. Ser contemplativo na ação é compreender que não podemos gozar da experiência de Deus sem participá-la aos irmãos. Os grandes místicos foram também grandes apóstolos e souberam encontrar a unidade de toda a vida mergulhando cada vez mais na oração e na atividade.

Dar vasão à criatividade
Um projeto de vida depende muito da nossa vida, daquilo que nós fazemos. Devemos a cada dia dar sabor às nossas atividades, para que a vida não se torne amarga e sem sentido, monótona. A vida religiosa só poderá ser contagiante na medida em que o religioso é capaz de ser criativo com o dom recebido de Deus. “Pela graça de Deus sou o que sou, e a graça que me conferiu não foi estéril. Ao contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles, mas não eu e sim a graça de Deus comigo” (1Cor 15,10).
Nesse processo de crescimento espiritual, sem dúvida, não deveria ficar de fora o desejo profundo de se encontrar com Deus de uma maneira mais perfeita possível. Um dos meios eficazes para que haja um encontro de qualidade, a pessoa deve buscar freqüentemente os sacramentos, de modo particular a Eucaristia e a penitência. Através da confissão a pessoa terá um crescimento da vida espiritual e da intimidade com Cristo. A pessoa vai se libertar de muitos fantasmas que impedirão um crescimento espiritual harmonioso pela falta de dar perdão e de receber perdão. O pecado é como um veneno que vai contaminando tudo, vai impedindo que a graça de Deus prospere na vida da pessoa. Este sacramento ajuda a pessoa a mudar de direção e de reafirmação de certas decisões tomadas, segundo o projeto de Deus a seu respeito.

Direção espiritual
A direção espiritual é o meio mais eficaz de avaliação do caminho espiritual, para se descobrir a vontade de Deus e praticá-la com tranqüilidade. A direção espiritual é a ajuda que um cristão oferece a outro cristão, tendo a perfeição como meta. Ninguém consegue caminhar sozinho, sem a ajuda dos outros. No processo de crescimento espiritual torna-se indispensável a ajuda de alguém a quem nós confiamos e deixamos que nos guie na liberdade de espírito, para que um projeto de vida espiritual possa caminhar e crescer.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Informativo BELÉM - Secretariado Geral para a Formação


A Epifania palotina

Boletim mensal: Janeiro de 2010, nº 47


Para nós palotinos, janeiro é particularmente marcado por importantes celebrações. Inicia-se com a solenidade da Epifania e com a tradicional celebração do Oitavário; com a recordação da inspiração da instituição da Obra do Apostolado Católico (UAC), no dia 9 de janeiro; e o dia 22 de janeiro, dia da morte de São Vicente Pallotti, que se transformou em uma data celebrativa de toda a Família Palotina. Além disso, em 2010, lembramos o sexagésimo aniversário da beatificação do nosso Fundador (22 de janeiro de 1950-2010).
Diante deste contexto palotino, gostaria de partilhar com vocês algumas reflexões sobre a Epifania palotina, isto porque no final do mês de novembro passado (28-29/11/2009), o Instituto Pallotti, na Polônia, organizou seu simpósio semestral, com o tema: “A prática do solene Oitavário da Epifania de Pallotti – um acontecimento ou uma herança?”
Durante os dois dias do simpósio, tratou-se sobre alguns aspectos da Epifania palotina: iniciando com traços litúrgicos da festa, seguidos pela descoberta do fenômeno do Oitavário proposto por Pallotti e a celebração do Oitavário na tradição polonesa, para atingir a perspectiva moderna da celebração da Epifania palotina (com base em algumas experiências realizadas na Itália, Brasil e México).
Não é nenhuma novidade o fato de interrogar-se sobre a possibilidade de recuperar ou relançar, hoje, a proposta da Epifania de Pallotti. É inconteste a forma litúrgica usada por ele, isto é, que a oitava fosse só uma forma tirada da idéia e da mensagem do mistério celebrado na Epifania. O evento dos Magos, enquanto símbolo da universalidade da Igreja e da vocação de todos os povos à salvação, para Pallotti, constituía um mistério mais que correspondente e conforme a sua intuição da obra do Apostolado Universal. Vale a pena mencionar ainda, dois aspectos do Oitavário de Pallotti, que refletem a idéia da União do Apostolado Católico.
A UNIVERSALIDADE PARA A UNIDADE: no programa do Oitavário de cada ano, Pallotti propõe para cada dia da oitava, a celebração da missa nos diversos ritos da Igreja. A exemplo do programa de 1840, além do rito latino, aparecem também os ritos: armeno, sírio, caldeu, grego, maronita, greco-melquita, siro-maronita. Evidentemente, tais celebrações não constituíam como único elemento do Oitavário, mas mostravam a intenção de São Vicente Pallotti de dar vida às diversidades existentes no interior da nossa Santa Igreja.
Por isso, através da liturgia, orientava a diversidade dos ritos, das culturas e das línguas, em busca da unidade. Por outro lado, permitia experimentar que a diversidade respeitada, conhecida e avaliada poderia favorecer a unidade. Deste modo, Pallotti fazia resplandecer a precisa variedade que adorna a Santa Igreja (cf. OOCC I, 349), e como se mantém a unidade da Igreja na variedade dos ritos, das línguas e das nações (cf. OOCC I, 342).
O APOSTOLADO PARA A EVANGELIZAÇÃO: o convite feito para cada Oitavário tinha sempre o caráter missionário. Visava o crescimento, a defesa e a propagação da piedade e da fé católica (cf. OOCC VI, 139). Com essa finalidade, durante os dias do Oitavário, os fieis eram sensibilizados com as necessidades concretas da obra evangelizadora. Muitos fiéis faziam doações em dinheiro, de objetos litúrgicos ou devocionais, que, após o Oitavário, eram fielmente distribuídos aos destinatários. Além disso, como bom pastoralista, Pe. Pallotti dava muita importância ao envolvimento de todos, para um bom desenvolvimento das funções do Oitavário. Eram convidados pregadores, comunidades religiosas, colégios, cardeais, clero secular e regular e tantos quantos pudessem colaborar... para formar um vínculo sagrado de unidade e de zelo nas obras de evangelização (cf. OOCC I, 339-340).
Com essa sua atitude, Pallotti animava e formava os fiéis para o apostolado e para a obra evangelizadora. Além disso, dava um concreto exemplo de como se deve colaborar e cooperar nas iniciativas apostólicas.
Gostaria de concluir desejando a todos que a Epifania torne-se para toda a Família Palotina, um lugar de união, na qual resplandeça a preciosa variedade, unidade e colaboração para o apostolado universal.

Pe. Mariusz Malkiewicz SAC
Konstancin-Jeziorna, Polonia