sábado, 3 de dezembro de 2022

 

CONHEÇA O CARISMA PALOTINO - PARTE VIII


CENÁCULO: LUGAR DA IDENTIDADE PALOTINA

A caridade de Cristo nos impele

Pe. Valdeci Antonio de Almeida, SAC


Vicente Pallotti, desde muito cedo, ficou deslumbrado pela experiência dos primeiros cristãos que, após receberem o Espírito Santo, tiveram um novo entusiasmo apostólico e missionário. A alegria dos irmãos estava estampada no rosto, tanto que muitas pessoas queriam fazer parte do grupo. Muitos se perguntavam, e nós o que devemos fazer (At 2, 37-41)?

O livro dos Atos dos Apóstolos diz que todos viviam muito unidos na comunhão fraterna e no partir o pão. Todos vendiam seus bens para colocar em comum e não existiam necessitados entre eles (At 2, 42-47; 11, 29-30). Essa nova atitude dos seguidores de Cristo causou uma grande revolução religiosa e social. Entre eles, a Lei de Talião deixou de existir, agora esse novo grupo vive radicalmente a Lei do amor. Eles vão até às últimas conseqüências se necessário for (At 4, 12-18).

Os primeiros três séculos foram marcados não somente por causa da difusão do reino, mas principalmente pelo testemunho dos mártires (At 8,1-2; 11,19-24; 12,1-5). Os batizados queriam viver e morrer como o Cristo.

Muita coisa bonita acontecia na comunidade primitiva, mas, como em todos os ambientes, não faltaram também as contradições. Mesmo restaurados pelo sangue de Cristo, a marca do pecado continuou e continua presente na vida dos cristãos, como um fermento que tenta contaminar toda a massa (At 5, 1-11; 6, 1-4). Mas a Igreja permaneceu fiel e confiante na força do Espírito. Procurou ainda manter-se unida para a concretização do projeto iniciado por Cristo, o da unidade e o da caridade fraterna (Jo 17, 15.22-23).

São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, mostra que os desvios que surgiram no seio da Igreja foram combatidos e iluminados pela Palavra de Deus, para que as fraquezas de alguns não atrapalhassem o bom êxito do evangelho. Ele diz:

Ouço dizer que, quando vos reunis como Igreja, têm surgido dissensões entre vós. E, em parte, acredito. É necessário que haja até divisões entre vós, para que se tornem conhecidos os que, dentre vós, são comprovados! De fato, quando vos reunis, não é para comer a ceia do Senhor, pois cada um se apressa a comer a sua própria ceia e, enquanto um passa fome, outro se embriaga. Não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Neste caso não posso louvar-vos... Portanto, irmãos, quando vos reunirdes para a ceia, esperai uns pelos outros (1Cor 10, 18-22. 33).

O ser humano, por mais que receba uma missão divina, ainda carrega consigo as marcas do pecado, do egoísmo. Esse mal deve ser continuamente combatido no meio de nós. Não basta apenas dizer que pertence a Cristo, é preciso que, cada um, incorpore dentro de si o verdadeiro espírito de Cristo, ou seja, o espírito de partilha, solidariedade e amor (Mt 7, 21).

A experiência que os discípulos fizeram no Cenáculo levou-os a terem uma nova postura diante das pessoas. Homens e mulheres anunciavam destemidamente aquilo que viram e ouviram de Jesus (1Jo 1,3; Jo 3, 11). O testemunho que davam da ressurreição de Cristo contagiava a todos, e até mesmo os pagãos abraçavam a fé (At 10,44-48; 11,19-21). Cada um que recebia o batismo se sentia impelido a levar adiante o anúncio feito pelos apóstolos. Colocavam também à disposição os dons recebidos de Deus. Todos os batizados se sentiam missionários (1Cor 12,27-31).

No início da Igreja, o Cenáculo foi marcante para aqueles que eram fiéis aos ensinamentos dos apóstolos. Eles permaneceram unidos em oração e na comunhão fraterna. Após a vinda do Espírito Santo, o livro dos Atos não fala mais de Cenáculo e sim das comunidades que foram sendo formadas graças à difusão do reino. Por algum tempo, continuaram freqüentando as reuniões nas sinagogas e as orações no templo, mas isso não foi muito longe, porque o ensinamento feito pelos apóstolos divergia daquele ensinado pelos judeus. Acabaram sendo expulsos do templo (At 21, 29-31; 14, 1-6; 17, 1-11; 18, 4-11; 19, 8-13).

De agora em diante não existirá mais um lugar específico para o Espírito se manifestar, mas onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome, ali estará ele a iluminar e inspirar (Mt 18, 20). A fé na ressurreição continuou cada vez mais forte e as pessoas se reuniam nas casas para celebrar a Palavra e a fração do pão (At 20, 7-9). Podemos dizer que, no início, a Igreja teve características domésticas. Toda a família era envolvida no mistério celebrado.

Contemplando a realidade das primeiras comunidades cristãs, Pallotti percebeu que, mesmo tendo passado centenas de anos da presença do ressuscitado em nosso meio, ainda, é possível resgatar o espírito dos primeiros cristãos. A fé deve ser vivenciada e fortalecida nos lares e nos ambientes onde se encontram os cristãos. Diante da indiferença religiosa de muitos batizados, ele quis, novamente, reavivar a fé e reacender a caridade em todo o mundo. E o melhor meio de revigorar a fé é estando no Cenáculo em espírito de escuta e de oração.