CONHEÇA O CARISMA PALOTINO - PARTE VIII
CENÁCULO: LUGAR DA IDENTIDADE
PALOTINA
Pe. Valdeci Antonio de Almeida, SAC
Vicente Pallotti, desde
muito cedo, ficou deslumbrado pela experiência dos primeiros cristãos que, após
receberem o Espírito Santo, tiveram um novo entusiasmo apostólico e
missionário. A alegria dos irmãos estava estampada no rosto, tanto que muitas
pessoas queriam fazer parte do grupo. Muitos se perguntavam, e nós o que devemos
fazer (At 2, 37-41)?
O livro dos Atos dos
Apóstolos diz que todos viviam muito unidos na comunhão fraterna e no partir o
pão. Todos vendiam seus bens para colocar em comum e não existiam necessitados
entre eles (At 2, 42-47; 11, 29-30). Essa nova atitude dos seguidores de Cristo
causou uma grande revolução religiosa e social. Entre eles, a Lei de Talião
deixou de existir, agora esse novo grupo vive radicalmente a Lei do amor. Eles
vão até às últimas conseqüências se necessário for (At 4, 12-18).
Os primeiros três séculos
foram marcados não somente por causa da difusão do reino, mas principalmente
pelo testemunho dos mártires (At 8,1-2; 11,19-24; 12,1-5). Os batizados queriam
viver e morrer como o Cristo.
Muita coisa bonita acontecia
na comunidade primitiva, mas, como em todos os ambientes, não faltaram também
as contradições. Mesmo restaurados pelo sangue de Cristo, a marca do pecado
continuou e continua presente na vida dos cristãos, como um fermento que tenta
contaminar toda a massa (At 5, 1-11; 6, 1-4). Mas a Igreja permaneceu fiel e
confiante na força do Espírito. Procurou ainda manter-se unida para a
concretização do projeto iniciado por Cristo, o da unidade e o da caridade
fraterna (Jo 17, 15.22-23).
São Paulo, na primeira carta
aos Coríntios, mostra que os desvios que surgiram no seio da Igreja foram
combatidos e iluminados pela Palavra de Deus, para que as fraquezas de alguns
não atrapalhassem o bom êxito do evangelho. Ele diz:
Ouço dizer que, quando vos reunis como Igreja, têm
surgido dissensões entre vós. E, em parte, acredito. É necessário que haja até
divisões entre vós, para que se tornem conhecidos os que, dentre vós, são
comprovados! De fato, quando vos reunis, não é para comer a ceia do Senhor,
pois cada um se apressa a comer a sua própria ceia e, enquanto um passa fome,
outro se embriaga. Não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja
de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Neste caso não posso
louvar-vos... Portanto, irmãos, quando vos reunirdes para a ceia, esperai uns
pelos outros (1Cor 10, 18-22. 33).
O ser humano, por mais que
receba uma missão divina, ainda carrega consigo as marcas do pecado, do
egoísmo. Esse mal deve ser continuamente combatido no meio de nós. Não basta
apenas dizer que pertence a Cristo, é preciso que, cada um, incorpore dentro de
si o verdadeiro espírito de Cristo, ou seja, o espírito de partilha,
solidariedade e amor (Mt 7, 21).
A experiência que os
discípulos fizeram no Cenáculo levou-os a terem uma nova postura diante das
pessoas. Homens e mulheres anunciavam destemidamente aquilo que viram e ouviram
de Jesus (1Jo 1,3; Jo 3, 11). O testemunho que davam da ressurreição de Cristo
contagiava a todos, e até mesmo os pagãos abraçavam a fé (At 10,44-48;
11,19-21). Cada um que recebia o batismo se sentia impelido a levar adiante o
anúncio feito pelos apóstolos. Colocavam também à disposição os dons recebidos
de Deus. Todos os batizados se sentiam missionários (1Cor 12,27-31).
No início da Igreja, o
Cenáculo foi marcante para aqueles que eram fiéis aos ensinamentos dos
apóstolos. Eles permaneceram unidos em oração e na comunhão fraterna. Após a
vinda do Espírito Santo, o livro dos Atos não fala mais de Cenáculo e sim das
comunidades que foram sendo formadas graças à difusão do reino. Por algum tempo,
continuaram freqüentando as reuniões nas sinagogas e as orações no templo, mas
isso não foi muito longe, porque o ensinamento feito pelos apóstolos divergia
daquele ensinado pelos judeus. Acabaram sendo expulsos do templo (At 21, 29-31;
14, 1-6; 17, 1-11; 18, 4-11; 19, 8-13).
De agora em diante não
existirá mais um lugar específico para o Espírito se manifestar, mas onde dois
ou três estiverem reunidos em seu nome, ali estará ele a iluminar e inspirar
(Mt 18, 20). A fé na ressurreição continuou cada vez mais forte e as pessoas se
reuniam nas casas para celebrar a Palavra e a fração do pão (At 20, 7-9).
Podemos dizer que, no início, a Igreja teve características domésticas. Toda a
família era envolvida no mistério celebrado.
Contemplando a realidade das
primeiras comunidades cristãs, Pallotti percebeu que, mesmo tendo passado
centenas de anos da presença do ressuscitado em nosso meio, ainda, é possível
resgatar o espírito dos primeiros cristãos. A fé deve ser vivenciada e
fortalecida nos lares e nos ambientes onde se encontram os cristãos. Diante da
indiferença religiosa de muitos batizados, ele quis, novamente, reavivar a fé e
reacender a caridade em todo o mundo. E o melhor meio de revigorar a fé é
estando no Cenáculo em espírito de escuta e de oração.