sábado, 21 de janeiro de 2012

Em preparação aos 50 anos de canonização de Pallotti

Durante o ano de 2012, este blog estará colocando temas de estudo, reflexão e curiosidades sobre este grande santo.

PINTAR UM SANTO? SERÁ QUE EU CONSIGO?

Foi impressionante pergunta que Kokoschka dirigiu ao padre palotino Mitterer ao lhe pedir para pintar o quadro de São Vicente Pallotti.

Kokoschka foi um dos maiores artistas plásticos do século XX, colocando-se tranquilamente ao lado de Picasso em importância para a arte, considerado pelos críticos como pintor expressionista.

Ele nasceu na Áustria em 1886, na pequena cidade Pöchlarn Era um homem piedoso, mas não tanto praticante e dado como cristão católico às obras de caridade.

Faleceu em 1980 na Suíça.

Depois de ter terminado a pintura de São Vicente Pallotti, disse ao Pe. Mitterer: “Oxalá que o quadro de Pallotti possa abrir seus olhos para o interior do coração e acordá-lo, é o que desejamos para os lerem está noticia e contemplarem a obra do autor”.

Como dissemos Kokoschka dentro da historia da arte é considerado um pintor expressionista, e neste sentido ele captou, a expressão da grandeza interior de São Vicente Pallotti de maneira única.

Durante sua vida Kokoschka retratou apenas pessoas vivas, e Pallotti foi a sua única obra a retratar um personagem do passado, e um santo.

Desta maneira o artista tinha diante dos olhos um personagem vivo para os tempos atuais, e não apenas traços fisionômicos de alguém do passado.

Kokoschk pintou nosso santo com cores fortes, dominando a cor azul, preferida do artista. O azul destaca o olhar distante do “Apostolo de Roma”, fascinado pelo “Amor infinito de Deus”, do qual se colocou a disposição pela paixão do seu coração.

Os traços marcantes, mas não duros do seu rosto, os impressionantes passos largos e decididos para frente, e ao mesmo tempo abençoando com a mão, percebe-se logo que o quadro de Kokoschka não é mais uma pintura piedosa de São Vicente Pallotti, mas algo absolutamente novo. A pintura de Kokoschka exige reflexão, isto é, trabalho da inteligência, ela é uma provocação. Kokoschka obriga o expectador a se perguntar: De que se trata? O que o pintor e o santo querem me comunicar? Que conclusões devo tirar para a minha vida?



A ORIGEM DA IMAGEM 


O ecônomo provincial dos anos 60 da província palotina do Sagrado Coração de Jesus, recorda:

“Por décadas o quadro de Pallotti pintado por Leo Samberger era o mais importante. No final dos anos 60 pensei que seria interessante pintar o nosso Fundador de um modo original e estimulante para celebrar sua Canonização que seria realizada em 1963 pelo papa João XXIII. Embora não tínhamos dinheiro para isso, perguntei ao professor de arte palotino Pe. Hiller que me deu a dica: O nome maior da arte no momento, é o professor Kokoschka”.

Naquele tempo Kokoschka morava na Suíça, mas passava o verão em Salzburgo dando aulas na escola de arte. Comprei um livro sobre a arte de Kokoschka e o livreiro pontificou-se em levar-me até a presença do artista. Ele nos recebeu amavelmente.

Coloquei-lhe o meu pedido e ele me respondeu: “Vamos até ao meu escritório. Conversamos com ele sobre o nosso Fundador e ele pediu alguma imagem de Pallotti para ver. Mostrei-lhe um santinho tradicional. Ao vê-lo Kokoschka sorriu e disse: “um rostinho que é um amorzinho”.

Em outra ocasião levamos para ele a máscara mortuária de São Vicente Pallotti para que ele tivesse mais segurança quanto à realidade do rosto do nosso santo. Eu disse para ele: “Para quando teremos o quadro pronto? Ele respondeu: Pintar um santo, eu não sei se vou conseguir.

Depois de dois anos visitamos de novo Kokoschka em Genebra. Nesta ocasião nos mostrou o seu Pallotti ainda não terminado. Fiquei preocupado porque não sabia onde arrumar o dinheiro da Província.

Na segunda visita a imagem já  estava concluída, ele nos propôs expo-la em Londres com a vantagem de ser adequadamente emoldurada, o que consentimos. Na terceira visita estava lá a obra prima de São Vicente Pallotti. Olhando a pintura eu lhe perguntei: “mas não está assinada!”

Ele mostrou-me o outro lado da pintura onde estava escrito em latim: Sanctus Vincentius Pallotti. O.K.

O seu respeito à santidade é tão grande que este é o único quadro que ele discretamente assinou atrás da pintura.

E acrescentou: “Antigamente eu pintava os meus quadros a partir de cima para ter um olhar de conjunto do mundo. O seu Pallotti me obrigou-me a olhar na postura correta a partir de baixo, através de Pallotti, contemplo a totalidade. É isto que Pallotti me ensinou”.

No hospital de Lausanne ele me confidenciou: “Eu estou contente de ter pintado Pallotti! Através dele eu aprendi que pertenço para o alto. Agora eu estou no caminho certo, caminhando para o alto como Pallotti. Com respeito ao preço ele disse: “Pela pintura de um santo não vou cobrar nada, mas vou pedir para você dar um ajuda substancial para as obras de caridade em meu nome.

Submeti o quadro a uma avaliação na escola de Belas Artes de Munique, onde avaliaram a obra por 100 mil marcos. Combinamos com Kokoschka que enviaríamos 40 mil marcos para as obras missionárias palotinas com crianças pobres na missão da Índia. Ele mesmo não viu nenhum dinheiro.

Pe. Poiess professor de omilética na faculdade palotina de teologia de Vallendar – Shonstatt. Disse mais tarde de maneira comovida: ”Mitterer! Foi uma coisa genial! Eu estou mais feliz ainda porque através do quadro Pallotti evangelizou Kokoschka e o levou para o céu. Através de Pallotti Kokoschka encontrou finalmente seu caminho”.

 Tradução do alemão: Pe. Antonio Fiori, SAC.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

50 anos de canonização de São Vicente Pallotti

O ano de 2012 será um ano de preparação para a celebração dos 50 anos de canonização de são Vicente Pallotti. Este tema terá continuidade. Apresentaremos vários artigos sobre sua formação sacedotal e a sua preocupação com a formação intelectual do clero romano.
A FORMAÇÃO SACERDOTAL DE PALLOTTI


 1. A formação do clero romano – Século XIX
São Vicente Pallotti pertencia ao clero de Roma. Para que possamos conhecer melhor o seu processo formativo, como sacerdote, é preciso saber como era a situação do clero romano naquela época e como acontecia a sua formação cultural, intelectual e espiritual.

Uma pesquisa histórica feita por Pietro Stella sobre o clero romano, no século XIX, revela que na primeira metade do século verifica-se um desenvolvimento no campo formativo, com a presença de novas tendências, ou seja, o clero começa a ter maior preocupação com os trabalhos pastorais e espirituais, do que com as coisas temporais.

No campo da formação espiritual aparece o modelo do sacerdote bom pastor, disposto a guiar e a defender as ovelhas perdidas, principalmente no que se refere ao enfraquecimento da prática religiosa. Dá-se maior ênfase também à questão intelectual, com boas bibliotecas, contendo obras que auxiliassem na pregação, na catequese, na apologética, vida dos santos para cada dia do ano, subsídios devocionais, história sagrada, tratados elementares e ecléticos de teologia, manual prático de moral.

A formação sacerdotal daquele período, do ponto de vista espiritual, era conforme o modelo jesuítico, nutrida pela meditação, exame de consciência, exercícios de piedade e da prática dos sacramentos. Em geral, pode-se afirmar que o clero romano, no tempo de Pallotti, tinha uma boa formação sacerdotal, e ele fazia parte deste elenco.


2. A formação de Pallotti, antes da ordenação sacerdotal
O jovem Vicente Pallotti iniciou os seus estudos por volta do ano 1804, frequentando a escola fundamental, na via dei Cappellari e depois no Colégio de São Pantaleão dos Escolápios. De 1809 até o verão de 1814, frequentou o Seminário Romano que, após a supressão dos jesuítas, em 1773, no difícil período de ocupação napoleônica, foi confiado a um grupo de sacerdotes diocesanos. No Seminário Romano, o adolescente Vicente fez os seus primeiros estudos humanísticos, onde se familiarizou com os clássicos latinos e gregos.
 
A última etapa da sua formação de filosofia e de teologia, que o conduziu ao sacerdócio, no dia 16 de maio de 1818, aconteceu na Universidade Romana da Sapienza. Naquele tempo, a Sapienza oferecia cursos de teologia, filosofia, medicina, direito e letras. A maioria dos professores pertencia ao clero regular e secular. O ambiente acadêmico e espiritual da Sapienza era muito bom. A vida universitária ajudava os estudantes a cultivar a vida espiritual. De segunda a sexta-feira, o estudante Pallotti, como todos, assistia às aulas dos vários mestres e a discussões de temas teológicos, organizados após os cursos obrigatórios. Na Igreja de Santo Ivo, celebravam-se as missas de abertura do ano letivo e das festas principais. Os sacerdotes professores se alternavam para celebrar as missas festivas e dominicais, como também ouviam as confissões.
 
Vicente Pallotti teve sua formação sacerdotal de forma diferente, como a concebemos hoje. Ele morava na casa paterna e estudava como aluno externo. Recebia uma sólida formação humana e religiosa de diversas pessoas, primeiramente dos pais, que eram muito piedosos, do seu diretor espiritual, Pe. Fazzini, os mestres Escolápios, Seminário Romano, Universidade Sapienza e, ocasionalmente, os diretores dos exercícios espirituais anuais e dos retiros. Tudo isto teve uma forte influência na sua formação sacerdotal.
 
O biógrafo do Papa Pio IX, Carlo Falconi, escreve também sobre Pallotti. Comenta sobre seus estudos acadêmicos e da sua escolha de seguir a vida eclesiástica, privilegiando assim laurear-se em filosofia e teologia. Era também um poliglota e de boa formação intelectual, com inclinação para a intelectualidade, mas fica para ele uma incógnita do porque mudou de rota e decidiu entrar no campo da ação pastoral.