sexta-feira, 27 de março de 2009

ORDENAÇÃO DO PE. CLAUDIONOR DO AMARAL



HOMILIA


(Dom Irineu Roque Scherer, Bispo de Joinville/SC)


No dia 21 de fevereiro, sábado, Sua Excelência Reverendíssima Dom Irineu Roque Scherer, Bispo de Joinville/SC, durante a Santa Missa, na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro Itaum, em Joinville/SC, concelebrada por vários presbíteros e numeroso Povo de Deus, conferiu a Sagrada Ordem do Presbiterado ao Diácono Claudionor do Amaral. Para que os coirmãos possam recordar ou participar de algum modo dessa ordenação, publicamos a homilia que D. Irineu Scherer proferiu na ordenação.

O dia da Ordenação Sacerdotal é para todos nós sacerdotes, o mais belo de nossa vida, depois do dia de nosso batismo. Neste, ainda recém-nascidos ou em tenra idade, não podíamos, conscientemente, saborear tão grande graça. Naquele, temíamos não ser dignos de tão grande graça. Temíamos e ainda o tememos. Mas o nosso temor é de reverência: é o sentimento da nossa pequenez diante da majestade do Senhor, em quem confiamos para que “Ele possa realizar grandes coisas nos seus menores servos”.
Estou feliz, pois é, pela primeira vez, que ordeno um seminarista palotino. Já havia ficado feliz com o convite de Claudionor, ao me fazer o pedido, ainda no ano passado. E, eis o momento da graça! Claudionor, aqui estão seus pais, irmãos, parentes, formadores, colegas, benfeitores e amigos. Além disso, estamos reunidos em comunhão com o coro celeste, onde habita Deus, com os seus anjos e santos. É uma expressão real, viva, daquilo que rezamos no Credo: “Creio na comunhão dos Santos”. Portanto, estamos reunidos e unidos em comunhão com o céu e a terra. Isso traz alegria e emoção especial e, como que, nos transporta para o seio da Santíssima Trindade.
Na primeira leitura de hoje, que há pouco ouvimos, São Paulo fala que na Igreja: "Há um só corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança no chamamento que recebestes" (Ef 4, 4). Paulo pensa na realidade do Corpo místico de Cristo, que no seu Corpo Eucarístico encontra o próprio centro vital, do qual flui a energia da graça para cada um dos seus membros.
Afirma o Apóstolo: "O pão que partimos não é a comunhão do Corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão" (1 Cor 10, 16-17). Deste modo, todos nós, batizados, nos tornamos membros daquele corpo e por isso membros uns dos outros (cf. 1 Cor 12, 27; Rm 12, 5). Com íntimo reconhecimento damos graças a Deus, que, da Eucaristia fez o Sacramento da nossa plena comunhão com Ele e com os irmãos.


Vem-nos, ao mesmo tempo, o urgente apelo à reconciliação e à unidade de todos os que crêem em Cristo: "Um só corpo, um só Espírito, uma só vocação... uma só fé, um só batismo"! Divisões e contrastes ainda laceram, infelizmente, o Corpo de Cristo e impedem os cristãos de diferentes confissões compartilharem o único Pão Eucarístico. Por isso, invocamos unidos à força saneadora da misericórdia divina, para que todas as divisões sejam superadas.
E Vós, ó Cristo, única Cabeça e Salvador, atraí para Vós todos os vossos membros. Uni-os e transformai-os no vosso amor, para que a Igreja resplandeça com aquela beleza sobrenatural que brilha nos santos de todas as épocas e nações, nos mártires, nos confessores, nas virgens e nas inúmeras testemunhas do Evangelho!
No trecho do Evangelho que foi proclamado, Cristo dirige-nos um duplo convite que não pode nos deixar indiferentes, tão forte e incisivo é na sua formulação: "Manete in dilectione mea", permanecei no meu amor. É este o convite dirigido por Cristo aos seus Apóstolos no Cenáculo, naquela atmosfera plena de intensidade de sentimentos da última ceia.
O convite de Cristo a permanecermos no seu amor exprime o ápice das aspirações do Mestre Divino, relativamente aos seus Apóstolos e de quantos nos séculos continuaram a sua obra. É o convite que Jesus dirige também a cada um de nós esta noite.
Cultivar uma profunda intimidade com Cristo, através de um autêntico relacionamento de amizade com Ele, alimentado por um verdadeiro espírito de oração e de escuta da sua palavra, é para todos nós, a condição indispensável para sermos realmente seus discípulos.
É a lógica resposta ao amor de Cristo por nós. E é a atitude que deve ser característica não só de quem é chamado para ser sacerdote, religioso ou religiosa, mas de todos os verdadeiros discípulos de Cristo.
O tempo que dedicamos a Deus na oração é o mais bem empregado. Mas, a oração é também a primeira e mais importante condição do nosso empenho na guia pastoral própria da nossa missão para o bem dos outros e para o bem da sociedade. Nunca devemos pensar que o tempo que dedicamos ao colóquio com Cristo seja perdido para o serviço que temos de prestar aos nossos irmãos e irmãs. "O que se dá a Deus, dizia Paulo VI, nunca é perdido para o homem" Insegnamenti, 1971, p. 246). A oração, com efeito, torna-se fonte da fecundidade das nossas iniciativas pastorais e de doação pelo bem dos outros. Por meio dela, podemos obter graças e realizar o que com as nossas forças somente nos é impossível. Em outras palavras, graças à oração, nós podemos cooperar para que Deus realize algo maior do quanto nós podemos.
Relativamente a isto, São Tomás explica, numa sua longa Quaestio sobre a oração, que há algumas coisas que nós podemos dispor e podemos realizar porque estão dentro das nossas possibilidades, mas há outras, ao contrário, que podem ser realizadas por nós só se o pedirmos a quem pode mais do que nós, ou seja, Deus, para o qual nada é impossível.
Blaise Pascal perguntava-se: "Por que Deus instituiu a oração?". E respondia: "Para comunicar às suas criaturas a possibilidade de cooperar nas suas obras" (Pensamentos, 513).
Deus não quer agir nas almas e no mundo sem a nossa cooperação: ele quer juntamente conosco e mediante a nossa oração, cumprir quanto vai além das nossas forças, capacidades e previsões humanas. "Permanecei no meu amor", repete Jesus Cristo nesta noite a cada um de nós.
O Evangelho de hoje contém, também, um segundo convite importante: o do amor recíproco. É um convite expresso com palavras solenes: "O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei" (Jo 15, 12). É um mandamento exigente, mas é um amor ditado e sustentado pelo amor a Deus.


Caro Claudionor, quiseste escolher como seu lema sacerdotal a frase do Sl 115 – “Seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir”. Sem dúvida, quem lhe seduziu, até este momento, foi amor de Cristo e você lhe respondeu com o seu amor. São palavras que nos levam ao próprio coração do cristianismo. O amor é a força capaz de mudar o mundo, o amor é a energia edificadora de uma história melhor. Amor grande para com os nossos superiores e colegas, pelos sacerdotes, seminaristas, pelo povo, como o de Cristo pelos Apóstolos. Amor para com todos. O nosso coração deve estar aberto a todos os homens e a todas as mulheres, nossos irmãos e irmãs, em particular aos pobres e aos mais sofredores. O discípulo de Cristo torna-se um construtor da "civilização do amor", inspirada na mensagem do Evangelho e fundada sobre a justiça, a verdade, a liberdade e a paz.
Caro Diácono Claudionor, seja um fiel seguidor do carisma de São Vicente Pallotti, seu pai fundador, que nasceu em Roma, em 1795, numa família numerosa, onde se destacou pela sensibilidade para com os pobres, a ponto de, enquanto pequeno, dar as suas próprias roupas a eles, a sua cama, assim como, tirar queijos da mercearia do seu pai para dar aos mendigos. Quando alcançou a idade necessária, sentiu a vocação para servir o Senhor.
Quanto ao Sacerdócio, de modo concreto, doutorou-se em Filosofia e Teologia e tornou-se padre da Diocese de Roma. São Vicente tinha um ardor pela salvação das almas, tendo o desejo e o projeto de evangelizar o mundo. São Vicente Pallotti, na Igreja, despertou o carisma do apostolado leigo, ou seja, aquilo que o Concílio Vaticano II apresentou em plenitude. Achava que todo cristão, por graça do Batismo, era um apóstolo e missionário, mesmo diante dos diferentes estados de vida e capacidades pessoais. São Vicente foi, também, o fundador da Sociedade do Apostolado Católico, uma comunidade de padres e leigos com membros espalhados por todo o mundo. São conhecidos como palotinos. Entre os feitos mais importantes está também a intensa participação no combate à epidemia de cólera que quase dizimou a população de Roma em 1837. São Vicente Pallotti foi o confessor do papa Pio IX. Morreu em 1850.
Caríssimos irmãos e irmãs, rezemos pelo que irá ser ordenado sacerdote, em breve, pela sua realização plena, pela sua perseverança e santificação. Que a Virgem de Fátima, padroeira desta Paróquia, que desde o início da Igreja acompanhou os Apóstolos em oração no cenáculo, acompanhe-nos em nossas necessidades e nos cubra com seu manto sagrado e nos dê a sua bênção. Amém!