domingo, 26 de abril de 2009

O encontro com o ressuscitado



TERCEIRO DOMINGO DE PÁSCOA (26 de abril de 2009)

Lc 24, 35-48

“E vocês são testemunhas disso.”

O evangelho de hoje é a segunda parte do capítulo 24 de Lucas, que relata primeiro a história das mulheres diante do túmulo de Jesus, e agora o incidente do encontro de Jesus Ressuscitado com os dois discípulos na estrada de Emaús. Devemos recordar que Lucas estava escrevendo a sua obra em vista dos problemas da sua comunidade pelo ano 85 d.C. Já não estamos mais com a primeira geração de discípulos - já se passou mais de meio século desde os eventos pascais. A comunidade já está vacilando na sua fé - as perseguições estão no horizonte, ou até acontecendo; o primeiro entusiasmo diminuiu, os membros estão cansados da caminhada e perdendo de vista a mensagem vitoriosa da Páscoa. Parece mais forte a morte do que a vida, a opressão do que a libertação, o pecado do que a graça.
Neste cenário, Lucas escreve este capítulo. Traz uma mensagem de ânimo e coragem aos desanimados e vacilantes da sua época - e da nossa! Para as mulheres, os dois anjos perguntam “por que estão procurando entre os mortos aquele que está vivo?” E afirmam: “Ele não está aqui! Ressuscitou!” Mensagem atual para os nossos tempos - diante da péssima situação da maioria do nosso povo que enfrenta a dura luta pela sobrevivência, com desemprego, baixo salário, falta de terra e moradia, uma herança de décadas de descaso dos governantes com a saúde pública e a educação, é muito fácil perder esperança e coragem. Mas, Jesus venceu o mal, não foi derrotado pela morte, e está no meio de nós!
Os dois discípulos no caminho de Emaús são imagem viva da comunidade lucana - e de muitas hoje! Já sabem do túmulo vazio, mas estão desanimados, desiludidos, sem forças - pois ainda não fizeram a experiência da presença de Jesus Ressuscitado. Pois, a nossa fé não se baseia no túmulo vazio, mas pelo contrário, a nossa experiência do Ressuscitado explica porque ele ficou vazio. Os dois só fazem esta experiência quando partilham o pão! A Escritura fez com que os seus corações “ardessem pelo caminho” (v. 32), mas não lhes abriu os olhos - para isso era necessário formar uma comunidade celebrativa de fé e partilha: “contaram... como tinham reconhecido Jesus quando ele partiu o pão” (v. 35).
Finalmente, o grupo dos discípulos reunidos em Jerusalém é símbolo das comunidades confusas e vacilantes. Tinham dificuldade em acreditar - pois a mensagem da Ressurreição é realmente espantosa! Mas, uma vez feita essa experiência, eles se transformam e se tornam testemunhas vivas do que sentiram, experimentaram e vivenciaram: “E vocês são testemunhas disso” (v. 48). Um grupo de derrotados, desesperançados e desunidos (vv. 20-21) se transformam num grupo de missionários corajosos e convictos, assumindo a tarefa de anunciar “no seu nome a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações” (v. 47).
Hoje em dia, quando muitos cristãos se desanimam, ou restringem a sua fé à esfera particular, sem que tenha qualquer influência sobre a sua vivência social, a mensagem de Lucas nos convida a redescobrirmos a realidade da presença do Ressuscitado entre nós. Mas, essa experiência não serve somente para o nosso consolo pessoal - somos comandados a imitar os dois de Emaús, que, feita a experiência do Ressuscitado, “levantaram na mesma hora e voltaram para Jerusalém” (v. 33). Pois, a nossa experiência religiosa não é algo intimista e individualista, mas algo que nos deve propulsionar para a missão, para a construção de um mundo conforme a vontade de Deus, um mundo de justiça, paz e integridade da criação, sem excluídos e marginalizados!