CONHEÇA O CARISMA PALOTINO - PARTE III
VICENTE
PALLOTTI E A CONTORVERSA OBRA DE LYON
Fr. André Félix
Neto, SAC
A obra iniciada por
Pallotti, a União do Apostolado Católico – UAC, antes de ser aprovada pelo
Papa, passou por provações muito fortes, criando, assim, um certo desconforto
aos seus primeiros membros e ao fundador, todavia, sem jamais deixar de
acreditar na providência divina de que a sua obra iria prosperar. O que
Pallotti não contava era que as negativas, para a obra do apostolado, viriam não
de inimigos, mas de pessoas da própria Igreja, principalmente de Lyon, cidade
do interior da França.
Para bem entendermos tal
provação, partiremos no presente texto, de uma breve introdução a respeito da
obra de Lyon, bem como apresentaremos a biografia de uma jovem que foi
contemporânea do nosso fundador: Paulina Jaricot. Paulina era de família nobre
de Lyon e também extremamente religiosa. Teve uma educação baseada nos
ensinamentos evangélicos. Desde sua infância, juntamente com seu irmão, que
anos mais tarde se tornaria sacerdote, desejavam ser missionários e partir para
terras distantes, afim de levar o Evangelho de Jesus Cristo. Foi deste impulso
que nasceu uma das maiores iniciativas em prol das missões da nossa Igreja
católica.
Paulina não partiu para as
terras distantes, como havia almejado, mas, dedicou-se de outra forma,
angariando fundos para ajudar o mundo missionário. Ainda muito jovem, aos vinte
anos de idade, teve uma inspiração de arrecadar fundos através de um método de
cadeia de doadores comprometidos com doações em dinheiro, para o financiamento
missionário. Assim deu-se início a obra de Lyon, esta que, por vezes, tiraria a
paz de Vicente Pallotti. Em pouco tempo, a obra de Paulina Jaricot ganhou
tamanha expressão que se estendeu a vários países da Europa. Conquistou um
grande prestígio e um poder considerável na Igreja. Paulina não permaneceu por
muito tempo na presidência desta obra, pois, considerava-se pequena diante de
tamanha responsabilidade. Assim, logo fora formado outra equipe dirigente
denominada os “Messieurs” de Lyon, ou seja, “Senhores”.
Com prestígio e poder,
tal conselho pôde tomar algumas providências acerca de decisões para angariar
fundos. Quando Vicente Pallotti iniciou a União do Apostolado Católico, não
existia nem em Roma e nem nos Estado Pontifícios uma filial da obra de Lyon. Os
“messieurs” de Lyon já tinham ouvido falar de um certo Vicente Pallotti
e de uma certa Pia União que recolhia auxílios para as missões. Logo o conselho
de Lyon tratou de intervir nessa intenção de Pallotti, pois lhes soava
ameaçador. Assim, os “messieurs” de Lyon dirigiram-se ao papa Gregório
XVI, para pedir a fundação de uma filial romana. Com uma resposta positiva, o
cardeal Giacomo Fransoni ocupou-se de escolher o conselho romano para tal
finalidade. Ele pediu ao padre Vicente Pallotti que se encarregasse dos nomes
dos componentes, para este conselho, que logo elegeu os próprios membros da
União do Apostolado Católico. Obviamente que o presidente da obra de Lyon não
ficou muito satisfeito com a solução. Alguns dias mais tarde, o próprio cardeal
nomeou como membro do conselho da obra de Lyon o próprio Pallotti.
Para maior desagrado da
presidência de Lyon, a fundação da filial romana foi fundada autônoma da matriz
francesa. Padre Vicente, como sempre fazia, dedicou-se de corpo e alma ao desejo
do papa. Assim, começaram os desencontros com a obra de Lyon. Todavia, Roma
estava mais preocupada com a epidemia de cólera do que com as intervenções do
conselho de Lyon contra Pallotti e a União do Apostolado católico.
A Propagação da fé ficou
em uma encruzilhada, porque, por um lado não aprovava o modo de agir dos
dirigentes de Lyon, por outro não queria entrar em conflito com eles; visto que
a pressão sobre a União do Apostolado Católico já não tinha sido a primeira, mas
outras fundações de filial já haviam sofrido a pressão francesa. “Em janeiro de
1839, o conselho de Lyon comunicou à Propagação da fé que a obra de Lyon e a de
Paris tinham incorporado a filial de Roma e reafirmava sua autoridade sobre a
instituição romana! Os franceses agiam com audácia e arrogância à maneira
napoleônica (TODISCO, 2007, p. 426).
Com esta problemática
acerca do relacionamento de Vicente Pallotti com a obra que lhe tinha sido
confiada, ele não poderia ter tomado outra atitude senão a de um verdadeiro
santo. O padre Vicente que sempre se preocupou mais em agir do que em
defender-se, viu-se obrigado a redigir alguns textos a fim de esclarecer a
natureza da União do Apostolado Católico. Em 1837, ele escreveu uma série de
esclarecimentos sobre a atividade da União, seus objetivos e a questão
financeira, bem como evidenciar as obras promovidas nos países católicos em
favor das missões estrangeiras, principalmente a formação de missionários. Com
tais textos, ele tornava clara a intenção de distingui-la da Propagação da Fé
de Lyon. Enquanto isso, pela cultura católica, Vicente Pallotti continuava à
frente da obra de Lyon, ocupando-se com muito afinco, proporcionando toda ajuda
possível, segundo as suas possibilidades.
Mesmo assim, em 1838, por
pressão da obra de Lyon, a União foi suprimida. Mais uma vez, Pallotti precisou
embarcar numa incansável defesa de sua obra, recorrendo ao próprio papa
Gregório XVI, sob a proteção do cardeal Odescalchi. Após mais alguns desgastes
da parte do fundador, a obra da União do Apostolado Católico, finalmente foi
definitivamente aprovada.
TODISCO, Francesco. SÃO
VICENTE PALLOTTI. Santa Maria: Biblos Editora, 2006.