segunda-feira, 24 de outubro de 2022

 


CONHEÇA O CARISMA PALOTINO - PARTE III


VICENTE PALLOTTI E A CONTORVERSA OBRA DE LYON

Fr. André Félix Neto, SAC

 

A obra iniciada por Pallotti, a União do Apostolado Católico – UAC, antes de ser aprovada pelo Papa, passou por provações muito fortes, criando, assim, um certo desconforto aos seus primeiros membros e ao fundador, todavia, sem jamais deixar de acreditar na providência divina de que a sua obra iria prosperar. O que Pallotti não contava era que as negativas, para a obra do apostolado, viriam não de inimigos, mas de pessoas da própria Igreja, principalmente de Lyon, cidade do interior da França.

Para bem entendermos tal provação, partiremos no presente texto, de uma breve introdução a respeito da obra de Lyon, bem como apresentaremos a biografia de uma jovem que foi contemporânea do nosso fundador: Paulina Jaricot. Paulina era de família nobre de Lyon e também extremamente religiosa. Teve uma educação baseada nos ensinamentos evangélicos. Desde sua infância, juntamente com seu irmão, que anos mais tarde se tornaria sacerdote, desejavam ser missionários e partir para terras distantes, afim de levar o Evangelho de Jesus Cristo. Foi deste impulso que nasceu uma das maiores iniciativas em prol das missões da nossa Igreja católica.

Paulina não partiu para as terras distantes, como havia almejado, mas, dedicou-se de outra forma, angariando fundos para ajudar o mundo missionário. Ainda muito jovem, aos vinte anos de idade, teve uma inspiração de arrecadar fundos através de um método de cadeia de doadores comprometidos com doações em dinheiro, para o financiamento missionário. Assim deu-se início a obra de Lyon, esta que, por vezes, tiraria a paz de Vicente Pallotti. Em pouco tempo, a obra de Paulina Jaricot ganhou tamanha expressão que se estendeu a vários países da Europa. Conquistou um grande prestígio e um poder considerável na Igreja. Paulina não permaneceu por muito tempo na presidência desta obra, pois, considerava-se pequena diante de tamanha responsabilidade. Assim, logo fora formado outra equipe dirigente denominada os “Messieurs” de Lyon, ou seja, “Senhores”.

Com prestígio e poder, tal conselho pôde tomar algumas providências acerca de decisões para angariar fundos. Quando Vicente Pallotti iniciou a União do Apostolado Católico, não existia nem em Roma e nem nos Estado Pontifícios uma filial da obra de Lyon. Os “messieurs” de Lyon já tinham ouvido falar de um certo Vicente Pallotti e de uma certa Pia União que recolhia auxílios para as missões. Logo o conselho de Lyon tratou de intervir nessa intenção de Pallotti, pois lhes soava ameaçador. Assim, os “messieurs” de Lyon dirigiram-se ao papa Gregório XVI, para pedir a fundação de uma filial romana. Com uma resposta positiva, o cardeal Giacomo Fransoni ocupou-se de escolher o conselho romano para tal finalidade. Ele pediu ao padre Vicente Pallotti que se encarregasse dos nomes dos componentes, para este conselho, que logo elegeu os próprios membros da União do Apostolado Católico. Obviamente que o presidente da obra de Lyon não ficou muito satisfeito com a solução. Alguns dias mais tarde, o próprio cardeal nomeou como membro do conselho da obra de Lyon o próprio Pallotti.

Para maior desagrado da presidência de Lyon, a fundação da filial romana foi fundada autônoma da matriz francesa. Padre Vicente, como sempre fazia, dedicou-se de corpo e alma ao desejo do papa. Assim, começaram os desencontros com a obra de Lyon. Todavia, Roma estava mais preocupada com a epidemia de cólera do que com as intervenções do conselho de Lyon contra Pallotti e a União do Apostolado católico.

A Propagação da fé ficou em uma encruzilhada, porque, por um lado não aprovava o modo de agir dos dirigentes de Lyon, por outro não queria entrar em conflito com eles; visto que a pressão sobre a União do Apostolado Católico já não tinha sido a primeira, mas outras fundações de filial já haviam sofrido a pressão francesa. “Em janeiro de 1839, o conselho de Lyon comunicou à Propagação da fé que a obra de Lyon e a de Paris tinham incorporado a filial de Roma e reafirmava sua autoridade sobre a instituição romana! Os franceses agiam com audácia e arrogância à maneira napoleônica (TODISCO, 2007, p. 426).

Com esta problemática acerca do relacionamento de Vicente Pallotti com a obra que lhe tinha sido confiada, ele não poderia ter tomado outra atitude senão a de um verdadeiro santo. O padre Vicente que sempre se preocupou mais em agir do que em defender-se, viu-se obrigado a redigir alguns textos a fim de esclarecer a natureza da União do Apostolado Católico. Em 1837, ele escreveu uma série de esclarecimentos sobre a atividade da União, seus objetivos e a questão financeira, bem como evidenciar as obras promovidas nos países católicos em favor das missões estrangeiras, principalmente a formação de missionários. Com tais textos, ele tornava clara a intenção de distingui-la da Propagação da Fé de Lyon. Enquanto isso, pela cultura católica, Vicente Pallotti continuava à frente da obra de Lyon, ocupando-se com muito afinco, proporcionando toda ajuda possível, segundo as suas possibilidades.

Mesmo assim, em 1838, por pressão da obra de Lyon, a União foi suprimida. Mais uma vez, Pallotti precisou embarcar numa incansável defesa de sua obra, recorrendo ao próprio papa Gregório XVI, sob a proteção do cardeal Odescalchi. Após mais alguns desgastes da parte do fundador, a obra da União do Apostolado Católico, finalmente foi definitivamente aprovada.

TODISCO, Francesco. SÃO VICENTE PALLOTTI. Santa Maria: Biblos Editora, 2006.


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