segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Silêncio que restaura


Nunca aproveitei do silêncio e nem da oração. Jesus meu, com os méritos do vosso silêncio e da vossa oração, destruí todo o mal que eu fiz, e o vosso retiro será o meu retiro, o vosso silêncio será o meu silêncio e as vossas orações serão as minhas orações . (S. V. Pallotti)

Toda caminhada, seja ela espiritual ou para um lazer, deve ser precedida por uma boa preparação. O atleta nunca começa a competir sem antes ter tido um bom treinamento para que seus músculos fiquem fortes e resistentes. Da mesma forma deve acontecer com aqueles que querem iniciar uma caminhada espiritual.

Para que a pessoa possa atingir o seu objetivo, ela deve seguir alguns passos, que são essenciais para seu desenvolvimento natural e sem precipitações. Nenhuma pessoa se torna santa ou mística da noite para o dia, mas é fruto de uma longa trajetória de descoberta do amor misericordioso Deus. Para descobri-lo é preciso muita ascese e busca incessante.

Uma das exigências para que alguém possa fazer uma experiência profunda de oração, recomenda-se igualmente um profundo silêncio interior. O silêncio na vida religiosa educa o religioso a aceitar o Deus que parece inexistente à natureza, entretanto sabe que Deus concede ao espírito atento e purificado o dom de alcançar o além da palavra e das idéias. O silêncio dos religiosos, sobretudo dos contemplativos, quer conduzir novamente o homem à fonte divina na qual tem origem as forças que impulsionam o mundo para frente e para compreender à esta luz os grandes desígnios de Deus sobre o homem.

A participação do religioso no silêncio de Cristo é a base de toda a prática externa de ausência da palavra, de solidão, de separação do mundo; e a motivação não pode ser senão o desejo crescente de Deus, do amor fraterno. A condição de peregrino, a instabilidade da vida assumida também pelo religioso e posto de manifesto diante dele pela sociedade, revela-lhe o silêncio inerente a esta condição. O peregrino anda calado; concentrado na meta, atravessa o desconhecido, passa através sem entrar em diálogo com o que lhe sai ao encontro; tem apenas um olhar fixo na meta. Quem sai de sua casa, para se dirigir à meta, ao absoluto, converte o silêncio em sua pátria. O silêncio conduz o cristão, e o religioso em concreto, por caminho de kénosis, até o silêncio da morte em comunhão com a morte redentora de Cristo.

Escutar alguém é entender a sua voz, é escutar no silêncio interior uma palavra que vem do outro. Falar é lançar o próprio discurso interior no espaço interior do outro; gerar do meu silêncio a palavra que entra no silêncio do outro a quem se endereça.
Comunicar é visitar o outro, sem nunca deixar de se auto-vigiar, ou seja, de fazer silêncio, de atender o dom da resposta do outro. O silêncio ajuda a acolher a palavra do outro.

Da mesma forma acontece em relação a Deus. O ser humano deve ter essa capacidade de silenciar-se para que o Absoluto também fale dentro dele e assim possa abrir-se à verdade que está além da sua realidade sensível. O silêncio é amor e desejo do homem em relação a Deus, caminho em direção à interioridade, é lembrança e esperança.

O caminho do silêncio permite a pessoa tomar posse de si mesma. O silêncio coloca tudo no seu devido lugar. A escolha do silêncio é uma espécie de jejum voluntário. Em particular permite ao homem de reencontrar a via da interioridade afim de que a alma descubra aquela realidade mais íntima de si mesma.

O santo silêncio, por sua vez, nos dispõe para a santa oração. O santo silêncio nos conduz também à íntima união com Deus. Quem não ama o silêncio e a oração, por isso não quer a íntima união com Deus”. “No amor à solidão, à qual seguidamente devemos aspirar. É por isso que nossas casas são chamadas retiros. Por isso, de modo especial, devemos tirar proveitos dos dias de solidão prescritos pelas constituições. (S. V. Pallotti)

O silêncio, como o entendemos, não é só um momento ou uma atitude passageira; é um estado harmônico das faculdades humanas, um estilo interior e constante. “O verdadeiro silêncio é a conquista, a busca e o repouso de Deus”.
É como uma parte entre a alma e Deus. A alma enamorada de Deus tende para Ele através desta ponte e assim acha a Luz e o calor para as trevas do próprio espírito. Assim, o verdadeiro silêncio é um silêncio interior.

O “silêncio” supõe o conhecimento do Senhor e se baseia na fé. Supõe conhecer a meta e desejá-la com todo o ser. São meios privilegiados para viver a virtude, e apelam a todo o homem, pois “Todo EU – hei de viver o silêncio”.

Trata-se de um caminho que exige esforço e confiança no Senhor. “O perfeito Silêncio nunca pode estabelecer-se perfeitamente num indivíduo sem grandes esforços. Sem dúvida que a graça contribuirá para isso, mas não opera nunca onde não há vontade submissa, posta por inteiro à sua disposição. O caminho da Salvação supõe a colaboração do homem com Deus. O Senhor dá a graça, mas espera que nós a acolhamos e vivamos. O ser humano não deve, e, além do mais, não pode renunciar a sua estrutura natural; deve cooperar pondo o que lhe corresponde. Desde sua liberdade, mediante uma opção fundamental por Deus e sua obra, o ser humano deve lutar por favorecer o plano de Deus, e logicamente combater em si todos os obstáculos que se lhe opõe; “Converte-te ao Senhor e deixa teus pecados, suplica ante sua face e tira os obstáculos” (Eclo 17,25).

O silêncio, que queremos alcançar, não deve ser considerado como uma mera ausência de ruído, senão como uma presença de paz, de harmonia, de equilíbrio exterior. O silêncio nos faz, em primeiro lugar, presentes a nós mesmos; e nos faz logo presentes a Deus, fazendo-nos atentos à sua presença. O silêncio interior é, pois, não tanto uma carência de ruído e movimentos, senão a orientação positiva da pessoa toda – espírito, psique e corpo – a Deus, cumprindo seu Divino Plano.

Do livro: Itinerário espiritual palotino. Pe. Valdeci Antonio de Almeida, SAC. Biblos Editora.

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