quarta-feira, 16 de maio de 2012

São Vicente Pallotti – Precursor do Apostolado dos leigos




(Reflexão referente a Homilia de Paulo VI em sua visita a Frascati para venerar o corpo de São Vicente Pallotti, exposto na Catedral)

Neste ano, em preparação ao grande jubileu de São Vicente Pallotti, somos convidados a aprofundar nossos conhecimentos a respeito desse grande Santo e a realizarmos obras concretas que manifestem ao mundo nossa espiritualidade palotina.

“Em cada época, Deus suscita homens e mulheres com carismas do Espírito Santo, para a continuação da missão salvífica de Cristo, para o bem dos seres humanos e edificação da Igreja”.

Catedral de Frascati
Quando pensamos em São Vicente Pallotti, pensamos em um homem que soube conciliar o apostolado (apóstolo) e a contemplação (místico), sendo capaz manter um “justo equilíbrio” entre oração e ação apostólica em favor da realidade concreta de sua época. Todas as bibliografias a respeito de nosso santo fundador enfatizam esses dois aspectos: vida ativa e vida contemplativa, ambas em constante harmonia.


Observamos, na atualidade, diversos termos que fazem referência direta à São Vicente Pallotti, tais como: Apóstolo de Roma, Precursor da Ação Católica, Profeta da Esperança, Apóstolo dos leigos, Místico... Expressões que reconhecem a grandiosidade de nosso fundador na vida eclesial e na sua profunda experiência de pertença à Santa Igreja.

A mente de São Vicente Pallotti encontra-se voltada à necessidade de despertar a consciência apostólica de todos os fieis, para que cada um faça pelo Evangelho tudo aquilo do qual é capaz.  E isto é evidente porque todos os inumeráveis apelos escritos por ele estejam relacionados aos leigos.“O Apostolado Católico, além da finalidade de concorrer com a contribuição a propagação da fé entre os infiéis, se propõe a despertar e mantê-la nos cristãos e, bem oferta, faz servir a sua finalidade o exercício de cada profissão, trabalho, arte, oração, todas as obras de caridade e do ministério apostólico”.

Sabemos da admiração e do respeito que Gregório XVI e Pio IX mantinham para com o nosso santo. Tantos outros Papas fizeram referência direta ao nosso fundador durante pregações, sermões e homilias. Sua canonização realizada no decorrer do grande Concílio Vaticano II, pelo Papa João XXIII, revela a sua importância na transformação do pensamento eclesial no que diz respeito, especialmente, à vocação e o apostolado laical.

No dia 1º de setembro de 1963, durante as férias de verão, o Papa Paulo VI encontrava-se em Castel Gandolfo e dirigiu-se à vizinha cidade de Frascati, para venerar o corpo de São Vicente Pallotti, exposto na Catedral para veneração dos fieis. Durante a
Papa Paulo VI
celebração eucarística, por ele presidida, pronunciou uma importante homilia na qual destacou o profetismo e o pioneirismo de nosso santo fundador. Sua homilia reveste-se de particular importância, pronunciada entre a primeira e a segunda sessão do Concílio Vaticano II, abordando diversos aspectos do apostolado leigo, inseridos posteriormente nos documentos conciliares que referem diretamente ao laicato.


Paulo VI tinha a firme convicção e certeza de que São Vicente Pallotti foi um precursor que antecipou de quase um século o apostolado leigo na Igreja, a descoberta que, também os leigos são chamados a assumirem a missão de apóstolos. Paulo VI afirma que São Vicente Pallotti “fez brotar energias novas e deu ao laicato consciência de suas possibilidades na prática do bem. Não só aceitação passiva e tranquila da fé, mas a profissão ativa e militante desta mesma fé.”

O termo Precursor nos recorda São João Batista, o precursor do Messias, aquele que preparou os caminhos do Senhor, o grande Profeta que indicava a quem, realmente, era preciso seguir. Na espiritualidade Palotina, este termo encontra-se inserido em um contesto de grande transformação que envolveria toda a vida eclesial, não somente em um determinado período histórico, mas que a partir do Concílio Vaticano II, estará sempre presente nas reflexões da Igreja, por se tratar de uma realidade que envolve todos os cristãos.

Percebemos, na atualidade, que esta grande novidade proposta por São Vicente Pallotti e assumida pela Igreja, encontra-se ainda para muitos leigos obscura e tantas vezes não compreendida, necessitando ser, ainda hoje, encorajadas, desenvolvidas e atualizadas.

São Vicente Pallotti percebeu o vazio, o vácuo moral e espiritual do seu tempo, marcado por revoluções sociais e pela falta de respeito a dignidade do ser humano. Segundo Pallotti é preciso recompor uma sociedade cristã no qual todos se sintam convidados e responsáveis pela construção de um mundo mais digno e solidário. Somos responsáveis, responsáveis pelo nosso tempo, responsáveis pela vida dos nossos irmãos e irmãs; somos responsáveis da nossa consciência cristã, somos responsáveis diante de Cristo, diante da Igreja, diante da história, diante de Deus. Para São Vicente Pallotti, todo cristão deve “procurar não somente a própria salvação, mas a salvação eterna do outro”. Sendo ser humano, imagem e semelhança de Deus, que é caridade por essência, encontra-se obrigado a isso por razão da própria criação.

Nosso Santo viu que o leigo pode tornar-se elemento ativo na vida da Igreja e dizer conscientemente: “também eu devo fazer alguma coisa. Não posso ser somente um instrumento passivo e insensível”.

Memorial da Visita de Paulo VI
A homilia proferida pelo Papa Paulo VI provoca em todos os que a lêem com atenção, certa comoção, pois se trata da autoridade máxima da Igreja que, ao referir-se ao nosso Santo Fundador, o faz com grande amor, veneração e entusiasmo. Suas palavras demonstram conhecimento profundo da espiritualidade de São Vicente Pallotti e apresenta um aspecto antropológico presente nos escritos de nosso fundador.


Afirma Paulo VI: Pallotti vê – e eis a descoberta – vê que é possível, vê que há alguma coisa escondida que pode emergir desta psicologia do homem caído, do homem fraco, do homem habituado à própria fraqueza. Vê que o homem é redimível, vê que o homem pode ser recomposto em estatura e em forma nova. Vê que, educado, pode fazer surgir o santo, o herói, o grande, o homem verdadeiro, o homem culto, o homem bom, o homem da sociedade, como estamos idealizados, da sociedade nova, da sociedade moderna”.

Somos encorajados a não desanimarmos em nossa caminhada de fé e a assumirmos nossa missão com responsabilidade e amor.  Hoje, mais do que nunca, somos convocados pelo próprio Deus a manifestar ao mundo nosso compromisso cristão, não somente com belas palavras, mas, sobretudo e especialmente, com ações concretas, recordando constantemente a eficácia dos gestos em um mundo conturbado, que não tem tanto tempo para escutar. Todos os que se empenham na ação apostólica são convocados a transmitir o amor de Deus e realizar obras concretas para demonstrar a Sua presença neste mundo, e ainda trabalhar com incansável zelo pela realização do Seu Reino, com constante entusiasmo e prontidão.

Oração: São Vicente Pallotti, vós buscastes, em tudo e sempre, a glória de Deus, ensinai-nos a seguir vosso exemplo luminoso, para que glorifiquemos a Deus pela santidade de nossa vida e de nossas obras. Acendei em nós o desejo de colaborar ativamente na difusão da fé e da caridade, para que o Reino de Cristo se estenda por toda a terra. Amém.
De Roma, Pe. Elmar Neri Rubira, SAC.

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