sábado, 3 de abril de 2010

Vigília pascal - homilia



A vida venceu a morte


É Páscoa do Senhor. A vida venceu a morte. “Onde está, ó morte, a sua vitória? Graças, porém, sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo! Por consequência, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, aplicando-vos cada vez mais à obra do Senhor. Sabeis que o vosso trabalho no Senhor não é em vão”. (1Cor 15,55-58)

Celebrar a Páscoa é celebrar a vida que brota da graça de Deus, do Deus que deixou seu coração ser transpassado pela lança da maldade, mas dele não saiu ódio ou vingança e sim o sangue da vida nova e a água do batismo, da purificação e do perdão. O coração daquele que morreu e que agora aparece ressuscitado tem as marcas da violência do pecado que, por ele, foi derrotado.

O que a celebração de hoje nos ensina? Primeiramente, em Cristo, a criação foi restaurada e elevada a sua plenitude, pois, no princípio, o Pai criou o universo e tudo o que nele contém. Mas o pecado entrou na natureza humana e a conduziu a escravidão. O povo tornou-se escravo de Reis gananciosos, mas a verdadeira escravidão estava no coração humano. Primeiro Deus suscitou pessoas, profetas, para indicarem um caminho de libertação no seu sentido mais amplo. Toda essa preparação durou séculos, até que Deus, na plenitude dos tempos, enviou seu único Filho para reunir todos os que estavam dispersos e distantes da salvação. O povo encontrou sua terra, pois Deus os libertou das mãos do Faraó, mas faltava-lhe uma coisa, a libertação do espírito. Isto nenhum profeta podia fazer, a não ser aquele que desde toda eternidade estava diante de Deus, Jesus Cristo.

Mas o que aconteceu de errado na primeira criação, quando Deus cria céu e terra e o ser humano à sua imagem e semelhança? Não tinha nada de errado! O Pai, na sua infinita bondade, não quis ser feliz sozinho, quis outros seres participando de sua felicidade, por isso criou o mundo e o ser humano, mas este ser humano, criado à sua imagem e semelhança, estragou esse plano, pelo fato de ter sido criado livre para decidir e transformar sua obra, e ele abusou da sua liberdade e se rebelou contra o supremo Criador. Trocou Deus pela criatura, confiou mais na sua capacidade e desconfiou da bondade de Deus.

A serpente, animal astuto, colocou na sua cabeça que Deus era mentiroso e não queria o seu verdadeiro bem, porque o proibira de tocar na árvore da vida. A serpente, o diabo, o pai da mentira, usou da ordem dado por Deus de crescei e dominai a terra, para lhe dizer. Deus lhe deu o poder de dominar tudo, mas agora proíbe você de tocar na árvore da vida. Essa voz maléfica contaminou o pensamente dele e, por isso, decidiu abandonar as ordens de Deus. O ser humano recebeu, também, uma falsa promessa de ser como Deus, e isso lhe pareceu bom aos olhos e ao paladar e, a partir de então, decidiu infringir as ordens do Criador.

Imediatamente após decidir pelo erro e executá-lo, sobreveio sobre o primeiro casal, fruto do amor de Deus, o senso do abandono. Sente-se longe de Deus, despido e enrubescido de vergonha do seu próprio corpo, tecendo roupas porque tinha vergonha de Deus. Com o pecado da desobediência, um começa a querer dominar o outro. Quebrou a harmonia. Deus tornou-se dispensável de suas vidas e instaura a tirania do pecado e da dominação.

Na verdade, o pecado foi uma tentativa de usurpação de poder, de competir com Deus, de dizer não ao seu projeto. A essa sua arrogância custou-lhe a expulsão do paraíso. Perdeu aquela santa pureza e serenidade de espírito. Agora, longe de Deus, tudo se tornou difícil, começando pela própria convivência entre si. A disputa e a tentativa de domínio surgiram no seio daquela família. Os irmãos já não se combinam mais e um tira a vida do outro (Abel e Caim), e a paz e harmonia já não existem mais. O que sobrou de tudo isso? Somente dor, sofrimento e desolação. Essa dor é inconsolável, ninguém pode mais aliviar, a não ser aquele que assumiu as nossas dores, lutos e sofrimentos. Somente Jesus podia refazer aquilo que fora desfeito por Adão e Eva. Diante dos sofrimentos da vida, o ser humano foi percebendo que, sem Deus, o Criador, a sua vida não tem mais sentido, por isso o (Sl 61,2-3) diz: “Só em Deus a minha alma tem repouso só dele me vem a salvação. Só ele é meu rochedo, minha salvação; minha fortaleza: jamais vacilarei”.

Oxalá, irmãos, a festa de hoje pudesse ser realmente um momento de verdadeira libertação do pecado e da maldade que assola a nossa vida. Que esta Páscoa do Senhor seja para nós um tempo de verdadeira conversão e espaço para a reconciliação, momento de harmonia, partilha e acolhida. Tempo de passagem para uma nova vida, renascendo para o novo e o belo momento propício para ressurgir, renovar as esperanças, espelhar novidades, cantar maravilhas, anunciar com a voz do coração que a vida triunfou.

Páscoa é tempo de entoar e cantar o Aleluia, com muita paz no coração, para dançar a dança da liberdade, fruto do amor e do perdão.
Alegremo-nos todos no Senhor. Cristo venceu a morte. Amém. Aleluia.

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