terça-feira, 30 de março de 2010

Meditação para a Semana Santa

DA CRUZ À REDENÇÃO - (Lc 13,1-9)

Quando falamos de sofrimento, normalmente falamos olhando para lugares e pessoas bem distantes de nossa realidade. Quando falamos de morte e de doença, sempre lembramos dos sofrimentos alheios e nunca imaginamos que o sofrimento também faz parte da nossa vida.
Ninguém quer sofrer, passar por privações. Dentro de nós há sempre o desejo de vida, desejo intenso de prazer, e, se possível, que seja elevado ao mais alto grau. Para que isso aconteça, as pessoas buscam os mais variados modos de prazer para que se sintam plenamente realizadas.
Essa é uma visão puramente humana da vida que se acaba, e por ter um fim, a pessoa quer tirar dela o máximo proveito, porque amanhã pode ser tarde demais.
Na Sagrada Escritura encontramos uma realidade um tanto estranha, porque nos promete uma felicidade sem fim, eterna, mas quando enveredamos por esse caminho, em busca da verdadeira felicidade, encontramos um método não muito apreciado por nós, o sofrimento. Parece contraditório. Como posso ser feliz passando pelo sofrimento e pela provação?
Sofrer, não é algo bom, fere a pessoa, pode levá-la ao aniquilamento da própria vida. Mas paradoxalmente Jesus disse: “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la” (Lc 9,24).
Isso é tão sério para nós que, quando Jesus anuncia a sua morte, Pedro tenta dissuadi-lo: mas Jesus o chama de satanás, que quer impedir o projeto de Deus (Mt 16,18-25). A reação de Pedro é a reação natural de uma pessoa que não vê o sofrimento como algo positivo, transformador.
Mas é justamente aí que a Bíblia quer mostrar o caminho que conduz a pessoa a uma verdadeira conversão. O caminho de Deus é o caminho da prova e do desafio. Se olharmos pra nossa realidade, podemos perceber que isso acontece no dia a dia das pessoas. Olhemos para a realidade de alguém que pratica esportes. Alguns fazem opção por algo mais radical, todos ficam com o coração aflito, porque, a qualquer momento da prova pode acontecer alguma desgraça; se não acontece, ele sai herói, ganha muitos prêmios, fama e dinheiro. Tudo pode dar certo, como tudo também pode dar errado e acabar em fracasso, em dor e sofrimento, mas mesmo assim as pessoas arriscam e, além disso, conseguem atrair muitos expectadores e simpatizantes.
Da mesma forma, seguir a Cristo é também um grande desafio, é quase que uma aventura, é colocar a vida em risco, é enfrentar a dificuldade com a certeza de que o que faz engrandece o Reino e também traz, misteriosamente, uma alegria que nenhuma outra realidade humana pode proporcionar. Os prazeres humanos são todos limitados. Tudo passa muito rápido. Aquilo que parecia ser eterno e infinito acaba em poucos minutos, e muitas vezes, após o acontecido vem a dor e a desolação, quando não a culpa, que desfaz tudo em mal-estar, sofrimento e frustração.
São Paulo fala de sua aventura por causa de Cristo: “São ministros de Cristo? Falo como menos sábio: eu, ainda mais. Muito mais pelos trabalhos, muito mais pelos cárceres, pelos açoites sem medida. Muitas vezes vi a morte de perto” (2Cor 11,23).
“Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um (2Cor 11,24).
“Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo” (2Cor 11,25).
Então, o que é ser feliz e o que é realizar-se plenamente na vida? O Salmo diz: “Só em Deus a minha alma encontra abrigo e refúgio”.
Diante dessa reflexão, gostaria de olhar com mais profundidade para uma realidade muito estranha que a Bíblia nos apresenta: “o sacrifício de Abraão”.
Deus coloca Abraão à prova. Deus o chama e ele responde: “Eis-me aqui”! Imediatamente após o seu consentimento, Deus pede que sacrifique o seu filho. Toma o seu filho, seu único filho. Em outras palavras, pegue o que lhe é mais caro e desfaça-se dele. Por que repetir duas vezes seu filho, seu único filho? Por que ressaltar isso? Não seria para dizer-lhe que ele é o Deus das coisas impossíveis e exige de nós também coisas quase que impossíveis?
Deus mostra neste episódio que ele espera de nós não partes da nossa vida, do nosso sim, mas TUDO. Algo mais profundo da existência humana. Ele não precisa de partes, ele quer a nossa pessoa por inteiro. Devemos ser totalmente dele. Tudo! “Tu és meu”! (Is 41,13; 42,6; 44,21; 45,1-5)
A fé leva a pessoa a um profundo desapego de si mesmo e das coisas, dos seus projetos e desejos pessoais.
Ao longo da caminhada, Deus vai travando um profundo diálogo conosco. Ele vai purificando nossas motivações e mostrando o caminho que Ele nos indicou. Cabe a nós, porém, descobri-lo em cada ato da vida os profundos apelos que faz ao nosso coração.
A voz de Deus, à primeira vista, não parece ser tão clara, porque dentro de nós existem muitos barulhos, muitas vozes que nos incomodam e até nos assustam, e diante de tudo isso, devemos também ouvir a voz de Deus que vai indicando a rota a ser seguida.
Interpretando que seja a voz de Deus que nos pede certas coisas no caminho, já é possível imaginarmos o que poderemos encontrar pela frente. Mas, o importante não é decifrar todo o plano que Deus traçou para nós, mas de procurarmos viver com intensidade aquele momento, porque ele é único em nossa vida. Se fizermos bem feito aquilo ao qual nos propusemos fazer, certamente nos servirá de base para aquilo que seremos no futuro.
Se estivermos em uma plataforma segura, bem enraizada, certamente aquilo que nos espera será algo que poderá transformar definitivamente a nossa vida e daqueles que estão ao nosso lado.
Pega seu filho único e o imole em meu nome: Deus pede que todos os nossos apegos sejam completamente destruídos. Jesus depois vai dizer: “Quem ama sua própria vida, vai perdê-la”. O nosso amor deve estar totalmente canalizado para aquele que é a fonte da vida. Se a vida vem de Deus, então ela não nos pertence mais.
Abraão saiu a caminho e chegou ao lugar indicado por Deus: ali construiu um altar e preparou-o, ou seja, se pôs à escuta de Deus. Quando se prepara um recinto é porque ali acontecerá alguma coisa importante. (Gn 22,1-2)
Colocar no altar de Deus aquilo que ele pede, é depositar nele toda a nossa confiança, sem questionar nada. O que Deus espera é apenas a fé na sua palavra. Darei a você uma grande nação e abençoarei você. Essa é a promessa de Deus. Ele nos abençoará.
Segundo a revelação da mensagem de Nossa Senhora de Kibeho, Ruanda, o sofrimento salvífico é um dos temas mais importantes da aparição, pois: “para aquele que crê, o sofrimento é inevitável na terra, constitui uma parte do caminho a ser percorrido, para se atingir a glória celeste”.
Que todos nós, ao passarmos por alguma tribulação ao longo da vida, possamos descobrir nisso, um motivo para sermos redimidos por Cristo.
Desejo a todos um bom discernimento para que, na presença de Deus, possamos oferecer o que temos de melhor, e que toda a nossa existência seja oferecida a ele, porque ele não aceita resto e nem partes, mas quer o ser humano por inteiro, quer TUDO.
Abrão não temeu oferecer seu único filho, porque sabia que Deus era capaz de dar-lhe algo maior. Deus Pai, na sua misericórdia infinita nos deu algo maior, a vida de seu Filho Jesus. Morreu, mas continua vivo em nosso meio.
Que a vitória de Cristo na cruz seja também a nossa vitória.

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