Nosso fundador, tocado pelo
Espírito Santo, descobriu desde muito cedo que era profundamente amado por
Deus. Esta descoberta aconteceu no cei familiar, pois sua família era de muita oração. Lá
aprendeu a amar a Deus, a venerar a Maria, a sentir os anseios das pessoas mais
sofridas.
Ele sentiu o amor a Deus de
maneira tão intensa que não conseguiu guardar só para si. Descobriu que a graça
recebida não podia ficar aprisionada no coração, mas devia ser partilhada com
os irmãos. Quanto mais buscava a Deus, mais Deus respondia a ele derramando
copiosas bênçãos e dons particulares. Com o passar do tempo, a sua
espiritualidade foi amadurecendo e Deus foi falando em seu coração o que
esperava dele; não era mais um encontro somente de amizade e de entrega pessoal,
mas agora se tornou um encontro de comprometimento com a causa do Reino, de
agir no mundo como o Cristo e em favor de Cristo, fazendo o que ele fez,
levando a vida e a salvação a todos. Esse desejo era tão forte que chegou ao
ponto de querer tornar-se alimento para os famintos, licor para os debilitados,
veste para os maltrapilhos, etc.
Mas de onde vinha essa força
incomensurável? Era na eucaristia que seus arroubos místicos se intensificavam
e de onde vinha a clareza em sua mente para realizar a obra de Deus. Como Maria
indagou ao anjo no momento da anunciação, como acontecerá isso? Ele também se perguntava
diante de Deus: “Quem sou eu e quem sois vós”? O que você espera de mim, de alguém
tão insignificante, nada e pecado? Mas logo vinha a certeza de que: “Por mim
nada posso, mas com Deus tudo posso”! Ele tinha consciência da sua limitação física
e da precariedade dos meios materiais. Mas Deus foi lhe mostrando que, sozinho,
realmente, era impossível, “mas para Deus
nada é impossível”. Basta convocar as pessoas para atingir o mundo e assim
fazer com que todos estejam unidos em torno de um só rebanho sob um só Pastor,
Jesus Cristo. Basta levar a Boa Notícia do Reino. O Evangelho é claro: “anunciem a todos que o Reino de Deus
chegou”. Não temos que inventar nada, é só dar testemunho do amor
misericordioso de Deus.
Assim nasce o carisma do
apostolado universal, de todos. Inspirado por Deus, ele convoca o povo de Roma
para essa nova empreitada, a empreitado do amor e da caridade, do reavivar a fé
e reacender a caridade, pois onde reina o amor, Deus aí está.
As pessoas, também, sedentas do
amor de Deus, responderam com entusiasmo. A hierarquia, mais preocupada com as
coisas temporais, em administrar o Estado da Igreja, estava entorpecida e alheia
aos acontecimentos, mesmo tendo o mandato apostólico, não sabiam como responder
aos desafios da sua época, porque não experimentavam a vivência do Cenáculo, a
experiência do amor recíproco, altruísta e da escuta da Palavra revelada que só
toca aquele coração que está atento e não disperso.
Enquanto muitos esperavam pelo
fim da Igreja, Pallotti vislumbrava um tempo em que todos pudessem expressar o
amor de Deus na cotidianidade da vida e na condição particular de cada batizado,
bastando apenas se deixar tocar pela ação do Espírito. Eis a novidade do
carisma palotino.
O Cenáculo, então, é lugar do
encontro com Deus e da partilha dos irmãos. Ele existe onde tem cristãos
abertos à graça de Deus. O Cenáculo dos apóstolos não existe mais, foi único,
mas a ação do Espírito permanece nos diversos cenáculos espalhados pelo mundo. “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu
nome, eu estarei no meio deles”. Essa é a promessa de Cristo. Em qualquer
ambiente em que se reza e se medita a Palavra de Deus, e vivem o espírito da
verdadeira caridade fraterna, aí está o Cenáculo, local onde Deus se manifesta
e leva as pessoas a saírem do seu mundo fechado de medo e de desencorajamento,
como estavam os apóstolos, antes de fazer tal experiência.
Fora do cenáculo as pessoas ficam
divididas e temerosas, sem ação, mas unidas em torno de um mesmo objetivo, com
Deus no centro, por meio da oração e do espírito de abertura e de cooperação,
certamente as obras serão fecundas, pois o Espírito Santo indicará o que deve
ser feito. Desta forma as nossas comunidades também serão transformadas e o
Evangelho será anunciado com entusiasmo. Nela, cada um pode partilhar as
maravilhas realizadas por Deus em sua vida. Com a partilha dos bens materiais e
dons pessoais, podemos atingir muitas pessoas e fazer com que também elas
descubram o seu papel na Igreja e no mundo: “O poderoso fez em mim
maravilhas...”. Hoje é bom refletir o que Deus já realizou em sua vida. “Pois,
das garras do leão ele me livrou” (1Sm 17,37).
Portanto, a nossa espiritualidade
nasce da experiência do Cenáculo, ou seja, de encontro com Deus e com a
participação dos irmãos. Cabe a nós palotinos vivenciar esta experiência no
cotidiano da vida das nossas comunidades, primeiramente, dando valor aos momentos
litúrgicos comunitários e individuais. Proporcionar momentos de encontros
fraternos onde se pode partilhar a experiência de fé, os sucessos e os
insucessos apostólicos, as esperanças e desesperanças vividas no dia a dia, os
medos e as frustrações pessoais. É aí que a comunidade sai fortalecida, pois se
cria laços fortes de amizade e de companheirismo, num clima de amizade e de
fraternidade, sem julgamentos ou disputas, pois tudo o que faz é para a maior
glória de Deus e não para o enriquecimento das vaidades pessoais. Aqui entra a
caridade competitiva da qual falava Pallotti.
No Cenáculo, o irmão deve ajudar
o outro a se fortalecer na fé, e nos momentos de fraquezas, deve oferecer o seu
ombro amigo para apoiá-lo e seus ouvidos para escutá-lo, ainda que não tenha
nada para lhe dizer. Basta estar junto para ouvir a dor do irmão, como Cirineu.
Com esta atitude fraterna, ou seja, vivido
na vida comum fraterna, muitas vidas seriam poupadas e muitos confrades seriam
recuperados e curados em suas feridas. Reflitamos, hoje, sobre o real
significado do Cenáculo na vida de um palotino e como podemos fazer isso ser
uma realidade no nosso dia a dia.
“Deus em tudo e sempre”. Amém.
Textos para meditação
Lc 1,34-49; 2, 18-19; 11,27-28
At 1, 3-5. 15-26; 2, 1-41; 4,12-18;
10,44-48; 11,29-30
Sl 117,5; 70
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