sexta-feira, 21 de maio de 2010

Cenáculo: encontro de irmãos em torno da mesma missão (4)



A lição deixada pelo Cenáculo é que todos recebem o mesmo Espírito e cada um, conforme as suas habilidades, desenvolverá a sua missão. O trabalho missionário não se encerra quando as pessoas abraçam a fé. A fé é o ponto inicial de uma caminhada em comunidade. Motivados por um mesmo compromisso, o de anunciar Cristo ressuscitado, a Igreja cumpre a sua missão. É justamente aí que aparece Vicente Pallotti com uma nova proposta evangelizadora. Que cada um se sinta, pela força do batismo, um membro vivo e ativo no anúncio do evangelho. Não importa o trabalho que vai realizar, mas que tudo seja feito para a maior glória de Deus.
Pallotti se entusiasmou com a experiência do Cenáculo, porque percebeu que ainda hoje o Espírito continua a se manifestar nas comunidades enquanto permanece unida em torno de um objetivo comum.
A União do Apostolado Católico nada mais é que a continuação do espírito que norteou o Cenáculo. Lá havia não somente os apóstolos, mas muitos seguidores de Jesus. Lá eles se transformaram em uma verdadeira família. Naquela família de irmãos, cada um devia colocar seus dons à serviço de todos. Tudo era colocado em comum, não somente bens materiais, mas principalmente os bens espirituais, a generosidade, a humildade e a mansidão. A comunidade de irmãos é uma comunidade que acolhe a todos os batizados e os estimula para que possam também sentir a alegria de poder agir em nome de Cristo (Ef 3, 4-6).
A Igreja de irmãos não é elitista. Ela convoca a todos para que saiam do seu torpor espiritual e abracem a causa do reino com muito ardor e entusiasmo. O ambiente do Cenáculo proporcionou aos participantes a unidade e o encorajamento mútuo. Lá não era somente um lugar de oração, mas um lugar onde se partilhavam as experiências. Todos ouviam e meditavam a Palavra para descobrir os apelos de Deus feitos à humanidade. Lá eles puderam interpretar as Escrituras.
No Cenáculo, criou-se uma nova espiritualidade, a espiritualidade do amor, amor que transbordou em Pentecostes e que encorajou-os para assumirem a missão até as últimas conseqüências. Inicialmente estavam desligados do compromisso assumido na Ceia. Aquele jantar maravilhoso foi visto apenas como uma despedida do Mestre e que agora só ficou na lembrança e daqui para frente somente a dura batalha da vida para se reerguer novamente e encontrar uma nova razão para viver.
A morte de Cristo na cruz foi um verdadeiro desastre. Era difícil acreditar que aquele que dizia ser o Filho de Deus, aquele que fez prodígios grandiosos diante de muitos olhos curiosos, agora foi incapaz de deter os seus algozes. Os discípulos de Emaús expressam muito bem qual era o ânimo do grupo dos eleitos de Deus. Tinham apenas lamúrias e decepções: “aquele que disse que salvaria Israel, agora já é o terceiro dia que está no sepulcro”. Caminhar sem esperar nada em Cristo é caminhar na angústia e na desolação; mas, mesmo diante das dúvidas e incertezas, deixar que alguém os instrua pode ser sinal de uma nova esperança e de um novo rumo. Foi o que aconteceu com aqueles temerosos homens de Emaús que aceitaram a intervenção daquele viajante que falava das Escrituras. As suas palavras pareciam lanças afiadas que penetravam no âmago da alma, provocando até calafrios. Eles sentiam que se dissolviam as dúvidas de suas mentes e o torpor que os desanimava. Como foi bom ouvir aquele companheiro de estrada. Como ele estava bem informado, ainda que demonstrasse desconhecer o trágico episódio ocorrido em Jerusalém.
O caminho nunca foi tão curto até Emaús, porque as suas mentes viajavam pela história da salvação e quando menos esperavam já tinham chegado ao destino e se fazia noite. Solidários com o simpático forasteiro, convidaram-no para permanecer com eles na casa, sem ao menos ter olhado no seu rosto para descobrir quem ele era. Sua voz parecia conhecida e ele parecia falar com muita desenvoltura e firmeza, mas a dor e o sofrimento eram tantos que não tiveram a força para olhar mais profundamente ao redor e ver coisas novas pelo caminho. Aliás, naquele caminho não tinha nada de novo, sempre a mesma areia, as mesmas montanhas, algumas tamareiras esparsas, a mesma aridez. Só pôde ser reconhecido definitivamente quando, junto à mesa, partiu o pão e o distribuiu (Lc 24, 27-31).
São Paulo ao comentar sobre a eucaristia afirma que quem come do mesmo pão dado por Cristo não pode ser indiferente; mas antes de receberem o Espírito foi muito difícil entender isso (1Cor 11, 23-29). Somente a luz do Espírito pode clarear a mente dos discípulos.

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